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Alan Ruschel: ‘Acabei com o rótulo de sobrevivente’

O capitão da Chape na Série B de 2020 falou sobre as dificuldades durante a campanha histórica da equipe na edição dos campeões de PLACAR

A PLACAR de março, que chegou às bancas de todo o Brasil na última sexta-feira, 19, e está nas nossas plataformas reverencia os campeões da temporada de 2020 do futebol brasileiro, atipicamente encerrada no ano seguinte, em razão da trágica pandemia do novo coronavírus.

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A ausência de torcedores no estádio foi um golpe duríssimo no que o jogo tem de mais essencial, mas não diminuiu a importância e o peso das conquistas do Flamengo, bicampeão brasileiro de forma consecutiva, e do Palmeiras, vencedor da Copa Libertadores e também da Copa do Brasil e da Chapecoense, do capitão Alan Ruschel, campeã da Série B.

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O lateral-esquerdo deu um depoimento inédito e revelou todas as dificuldades da campanha histórica, que colocou mais uma vez o nome dele na história da Chape. “Acabei com o rótulo de sobrevivente”, disse. Confira o texto de Alan Ruschel na íntegra.

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Para poder voltar a sorrir

Alan Ruschel, o capitão da equipe da segunda divisão em 2020, abre o coração e fala sobre as dificuldades superadas para apagar o rótulo de sobrevivente da tragédia e escrever seu nome na história do clube dentro de campo

“O futebol mexe com a emoção. Mas nosso grupo tinha consciência de que não podia se deixar levar. Nossa ideia era sempre dar um passo de cada vez. Não vendíamos sonhos nem o torcedor mais otimista poderia acreditar que seríamos campeões e subiríamos para a primeira divisão. O principal objetivo da Chapecoense na Série B era a permanência. Não é segredo para ninguém que o clube passa por uma crise financeira muito grave. Mas, cada vez que acontecia um atraso de salário, nosso elenco se fortalecia ainda mais. Chegamos até a fazer uma greve por causa dos pagamentos atrasados. Mas nunca desistimos. O grupo que montamos nesta temporada é muito parecido com aquele de 2016. Nos abraçávamos e sempre dizíamos no vestiário que era um pelo outro. Levamos isso para dentro e para fora de campo. Nos blindamos para que nada ruim que viesse de fora nos atrapalhasse. Por toda a dificuldade no ano, sabíamos que só nós mesmos poderíamos tirar o clube dessa situação. Começamos o campeonato desacreditados, porque os resultados não estavam O vindo. Quando o técnico Umberto Louzer e a comissão técnica dele chegaram, abraçamos a causa. Saímos da parte de baixo da tabela no estadual, nos classificamos para o mata-mata e conquistamos o título.

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Com o andar da carruagem, vimos que dava para ir um pouco além. Viramos o primeiro turno da Série B com 40 pontos e já sabíamos que o time não ia cair. Os jogos foram passando e tivemos a certeza de que o acesso era possível. Aí o objetivo passou a ser brigar pelo título. Não vou mentir, já estávamos felizes por subir para a Série A. Ganhar o campeonato seria a cereja do bolo neste ano tão importante. A briga com o América-MG nos deu mais força para continuar lutando. Eles nos ajudaram a não desistir e parabenizamos demais o trabalho do Lisca e dos atletas deles pela campanha. Fomos campeões por um gol a mais de saldo, marcado aos 51 minutos do segundo tempo do último jogo. Só tenho que enaltecer a força do grupo, dos funcionários e da comissão técnica. Todo mundo se engajou em um só objetivo: ajudar o clube a se reerguer e se reestruturar. Só tenho a agradecer por trabalhar com um grupo tão maravilhoso e me sinto honrado por ter entrado na história da Chapecoense dentro de campo.

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Conseguimos isso apesar de todos os problemas financeiros. Meu contrato acabou e saí da Chapecoense, para o Cruzeiro, com dezoito meses de valores dos direitos de imagem para receber. Por ser o capitão, tinha essa função de cobrar a diretoria, já que os atletas me cobravam. Eu era o responsável. Estávamos trabalhando e precisávamos receber. Queríamos apenas ser reconhecidos pelo clube. No fim das contas deu tudo certo, conseguimos devolver o clube à Série A. Era só desse jeito que seria possível pôr a casa em ordem e fazer esses acertos.

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Alan Ruschel, jogador da Chapecoense, em ensaio a VEJA – Angélica Lüersen/VEJA

Depois que garantimos o título, passou um filme pela minha cabeça. Lembrei das dificuldades que nosso grupo teve, tudo o que todos nós abdicamos no começo da carreira para nos tornar jogadores profissionais e, agora, vencer um campeonato nacional. Por milésimos de segundo, vem tudo à tona. É um momento único na carreira de cada um. Só tinha de agradecer a Deus e comemorar. A emoção vem e não dá para segurar as lágrimas. Não tinha como não recordar tudo o que passei depois da tragédia. Os momentos importantes de 2016, aquele grupo maravilhoso. Sempre disse dentro do vestiário durante o ano que esse grupo atual era ímpar, assim como era aquele que ficou na nossa memória.

Sou muito feliz pelo que conquistei com a camisa da Chapecoense. E esse título da Série B foi muito especial porque, finalmente, acabei com o rótulo de sobrevivente da tragédia. Não aceito ouvir que estava no clube por piedade ou algo assim. Queria tirar esse rótulo apenas jogando futebol. Consegui, dentro de campo, sendo líder e capitão do time. Sabia que estava próximo de encerrar a minha história ali, e nada melhor do que sair desse jeito, com dois títulos, acesso garantido e após ter devolvido o sorriso ao rosto do torcedor. O povo de Chapecó sempre me acolheu muito bem, me abraçou, me apoiou. Saí com a certeza de que fiz um bom trabalho, tanto como atleta dentro de campo quanto como ajudando fora dele. Não deixo as portas abertas, e sim escancaradas.

A vida é feita de desafios e nela todos nós batemos de frente com as dificuldades. Decidi encarar mais um. Acertei com o Cruzeiro porque quero ter o mesmo sucesso aqui também. É um clube gigante que passa por um momento difícil, mas não foi por isso que eu vim. Quero fazer história mais uma vez e recolocar o Cruzeiro no lugar de onde ele nunca deveria ter saído, a primeira divisão. É um grande passo para a minha carreira. É um clube de Série A que neste momento está na B. O que deixamos neste mundo são as nossas histórias e quero voltar a jogar na elite do futebol brasileiro pelo Cruzeiro.”

Depoimento dado a Alexandre Senechal

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