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Ainda dá tempo de convencer

A seleção de Camarões é uma velha freguesa e, embora seu técnico e alguns jogadores tenham afirmado o contrário, provavelmente jogará desmotivada pela eliminação. Ninguém duvida de seu desejo de atrapalhar os donos da casa antes de pegar o voo de volta: seria o equivalente àquele golzinho de honra marcado quando a derrota por goleada […]

A seleção de Camarões é uma velha freguesa e, embora seu técnico e alguns jogadores tenham afirmado o contrário, provavelmente jogará desmotivada pela eliminação. Ninguém duvida de seu desejo de atrapalhar os donos da casa antes de pegar o voo de volta: seria o equivalente àquele golzinho de honra marcado quando a derrota por goleada é irreversível. Contudo, até os Freuds do barzinho da esquina sabem que esse estímulo simbólico é mais frágil que o da disputa real – costuma bastar uma desvantagem no placar para que evapore sem deixar vestígios. O acaso jogou a nosso favor. Camarões é um adversário sob medida para que a equipe brasileira tenha enfim sua primeira atuação convincente nesta Copa, antes de começar o massacre das rodadas eliminatórias.

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Dito isso, o jogo de Brasília inspira cuidados. Se nenhuma outra razão houvesse, bastaria o exemplo daquelas duas eletrizantes, estranhas, partidas de sábado. No bolão elas pareciam já ter vencedores definidos, faltando decidir apenas o tamanho do placar. Acontece que a cada dia fica mais claro que nunca houve e talvez nunca mais haja um bolão de Copa tão difícil de acertar. O arrepio da catástrofe evitada por um triz fez cócegas na espinha de dois campeões mundiais: o Irã era cachorro morto, em estado adiantado de putrefação, mas de repente começou a latir e passou muito perto de morder a Argentina; e Gana, a melhor das equipes africanas presentes no Brasil, só não esganou a orgulhosa Alemanha porque Klose, o inverossímil, não é bem um jogador de futebol – é um ungido dos deuses brincalhões da bola.

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Eis o contexto da primeira fase da Copa, de contornos nítidos a esta altura: aquela máxima já batida de que “não tem mais bobo no futebol”, repetida desde o século passado, finalmente virou mais do que uma desculpa que os favoritos usam quando tropeçam. Efeito, provavelmente, da globalização desenfreada que tomou conta do esporte. Mas a essa tendência geral o torcedor brasileiro tem motivos para acrescentar um bom punhado de preocupações caseiras.

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Teremos enfim um meio de campo, ou o deserto voltará a se alargar entre Luiz Gustavo, um ótimo terceiro zagueiro, e Oscar, que na cabeça de Felipão é ponta? Paulinho vai voltar das férias (parece que foi visto em Aruba tomando piña colada, mas pode ser um boato) para povoar o deserto? Virá do banco a peça que faltava para o time se encaixar? A bola continuará queimando feito batata quente os pés de nossos jogadores, subitamente incapazes de dominá-la de primeira? Neymar vai dar um passe para alguém? Preferirá, como Messi, atuar sozinho? Conseguirá, como Messi, atuar sozinho? Veremos alguma alegria, algum prazer de jogar debaixo daquela emotividade crispada e tensa que os sujeitos de camisa amarela vêm exibindo?

Não são poucas as perguntas às quais a partida de hoje vai responder. A estreia é sempre nervosa, diz todo mundo, com razão. O segundo jogo é traiçoeiro, elaboram alguns, e ainda mais contra o indigesto México. Pode ser, tomara que seja, mas agora passou tudo isso. A boa notícia para a torcida brasileira já foi dada por Alemanha, Itália, Argentina e Holanda: nenhum dos grandões está jogando tanta bola assim, afinal. Ainda dá tempo de ter uma atuação de gala daquelas que inspiram manchetes pouco criativas como “Pintou o campeão!”. Mas será que atuação de gala contra Camarões significa alguma coisa? Claro que sim: nesta Copa, significa coisa à beça.

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