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Agora no Ceará, Fernando Prass revela mágoa com dirigentes do Palmeiras

Goleiro falou com exclusividade a PLACAR sobre os motivos da saída do clube alviverde e os novos desafios da carreira: “Não coloco prazo para me aposentar”

Aos 41 anos de idade, Fernando Prass firmou contrato de uma temporada com o Ceará. O objetivo é claro: jogar. Após sete anos como goleiro do Palmeiras, os dois últimos na reserva, o atleta falou com exclusividade a PLACAR e contou detalhes sobre a sua saída do Alviverde e da relação com a torcida, que o trata como um dos maiores ídolos recentes do clube, vencedor da Copa do Brasil em 2015 e bicampeão brasileiro em 2016 e 2018. Também explicou o que faz para se manter bem fisicamente apesar de quarentão e porque aceitou a proposta do clube nordestino.

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Prass afirma que não sente mágoas da instituição Palmeiras, mas revela chateação com a postura do então diretor esportivo do clube, Alexandre Mattos, que teve anuência do presidente Maurício Galiotte. Segundo o goleiro, os dois silenciaram sobre a não-renovação de seu contrato até a últimas semanas do ano passado, embora a decisão já tivesse sido tomada por Mattos. A diretoria limitou-se a dizer que somente um dos goleiros experientes teria lugar no elenco em 2020. O que ele não sabia é que o Palmeiras já havia renovado com Jailson.

Meu empresário conversou com o então diretor esportivo e ele negou veementemente que tinha uma definição. Ele disse que iria decidir junto com a comissão técnica sobre com qual dos dois ele iria renovar. Pela vontade dele, ele disse que os dois renovariam. E a gente viu que não era isso. Fazia mais de um ano praticamente que já tinha um acordo selado”, disse Fernando Prass em entrevista por telefone.

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Mesmo após a saída de Mattos, o presidente Mauricio Galiotte não quis voltar atrás na decisão, já que o acerto com Jailson já estava feito. “Ele poderia ter me comunicado pelo menos. A gente convivia dia a dia e ele era o superior. O Alexandre era subordinado dele. No final das contas, o presidente tem que saber das atitudes dos funcionários dele”, explicou.

Respirando novos ares em 2020, Fernando Prass não decidiu jogar pelo Ceará para se esconder ou terminar a carreira. O goleiro não coloca data para a sua aposentadoria e se preparou como nunca para o início da temporada: treinou nas duas últimas semanas das férias e conseguiu repetir os resultados dos últimos anos nos testes físicos da pré-temporada. A inspiração é o ex-companheiro Zé Roberto, que jogou com Prass no Palmeiras até os 43 anos de idade, ainda com uma forma física invejável.

Ele não tem garantia contratual e nem do técnico Argel Fucks de que será titular. “Tenho que conquistar isso no dia a dia. Se um treinador prometer isso um dia, você tem que desconfiar”. Apesar de ter recebido propostas de equipes de outros estados, fechou com o Ceará por acreditar no projeto de reconstrução do clube, que contratou Rafael Sóbis, ex-Internacional, os laterais Eduardo e Bruno Pacheco, dois dos jogadores que foram bem no Brasileirão de 2020 apesar do rebaixamento da Chapecoense, e Rodrigão, artilheiro do promovido Coritiba na Série B do ano passado.

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“Sou jogador profissional, sempre briguei pelos meus contratos na questão financeira, mas isso não foi o determinante na minha escolha. Não foi o dinheiro que pesou na escolha pelo Ceará, foi porque disputa a primeira divisão, é um clube de tradição, de torcida, e eu gosto de participar e de contribuir de alguma forma de projetos como esse. No Palmeiras e no Vasco foi assim, eu participei do processo de reconstrução desses clubes”.

Confira a entrevista exclusiva com Fernando Prass, o novo goleiro do Ceará:

Você teve outras propostas para jogar em 2020? Tive alguns contatos. Meu representante recebeu sondagens, questionamentos e até propostas de outros clubes. Conversei com minha família e com ele e pensei bem. Ouvi outras pessoas que também passaram por aqui e considerei o lado esportivo e familiar. Aí optei pelo Ceará.

O que te atraiu mais? Foi uma garantia de que vai ser titular? Foi a questão financeira? Não tenho essa garantia. Tenho que conquistar isso no dia a dia. Se um treinador prometer isso um dia, você tem que desconfiar. Pela situação que o clube está passando, pela possibilidade de participar desse projeto, eu aceitei. Sou jogador profissional, sempre briguei pelos meus contratos na questão financeira, mas isso não foi o determinante na minha escolha. Não foi o dinheiro que pesou na escolha pelo Ceará, foi porque disputa a primeira divisão, é um clube de tradição, de torcida, e eu gosto de participar e de contribuir de alguma forma de projetos como esse. No Palmeiras e no Vasco foi assim, eu participei do processo de reconstrução desses clubes. O contexto geral e o conjunto da obra que me motivaram a decidir pelo Ceará.

Na despedida do Palmeiras você disse que “ninguém fica em um clube por gratidão?”. O Ceará acreditou no seu futebol e o Palmeiras não? Se eles me contrataram, eles acreditam. Não vão rasgar dinheiro. Em relação ao Palmeiras, acho que não foi o clube em si. Quando fala Palmeiras a gente generaliza. Foi uma situação pontual, uma estratégia contratual que me deixou em uma situação complicada e eu também achei melhor sair. O presidente disse que não iria voltar atrás da decisão tomada pelo antigo diretor, então eu fiquei em uma situação que achava que não era mais o momento de prosseguir.

Você tem alguma mágoa do Alexandre Mattos por ter escolhido permanecer com o Jailson e não te comunicar da decisão? O que mais me chateou foi isso. Muitas vezes as pessoas confundem e acham que fiquei chateado porque não renovei. Não, nada disso. Se o Palmeiras quer me dar um ano de contrato e 10 anos para o Jailson, 20 anos para o Weverton, não tem problema nenhum. Cada um tem seu contrato. Eu nunca procurei saber do contrato dos outros. Só que em duas oportunidades, na reta final do ano, quando eu fui questionar sobre minha situação, o que eu ia fazer, fui perguntar e não obtive resposta. Já era sabido que um de nós dois iria sair. O Palmeiras queria abrir espaço para os goleiros mais novos. Meu empresário conversou com o então diretor esportivo e ele negou veementemente que tinha uma definição. Ele disse que iria decidir junto com a comissão técnica sobre com qual dos dois ele iria renovar. Pela vontade dele, ele disse que os dois renovariam. E a gente viu que não era isso. Fazia mais de um ano praticamente que já tinha um acordo selado.

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Não ficou com mágoa do clube então, apenas do profissional que estava lá… De maneira nenhuma. Pelo contrário, agradeço demais ao Palmeiras. Mas às vezes as pessoas que comandam o clube não tem essa a conduta que a gente espera.

Mas isso é só em relação ao Mattos ou também ao presidente Galiotte? Ele poderia ter me comunicado pelo menos. A gente convivia dia a dia e ele era o superior. O Alexandre era subordinado dele. No final das contas, o presidente tem que saber das atitudes dos funcionários dele.

Fernando Prass do Palmeiras comemora a conquista da Copa do Brasil 2015, após vitória na partida final contra o Santos, na Arena Palmeiras, na Pompéia, região oeste de São Paulo, nesta quarta (02)
Fernando Prass do Palmeiras comemora a conquista da Copa do Brasil 2015, após vitória na partida final contra o Santos, na Arena Palmeiras Ivan Pacheco/VEJA/VEJA

Acha que deveria ter sido tratado de melhor forma? Não, foi uma coisa muito rápida. Não tinham obrigação de fazer nada. Eu cumpri o contrato, o Palmeiras respeitou o vínculo. Não foi renovado e é vida que segue.

A torcida do Palmeiras criticou muito a sua saída. O que isso significa para você? Isso é um reconhecimento. Se você passar por um clube sete anos e quando sair não tiver nada disso, é sinal que o trabalho não foi legal, não foi vitorioso e não deixou um legado. Esse carinho da torcida foi construído durante sete anos. A história que construí mostra que deixei algo de legal.

Acha que faltou um jogo de despedida? Não teria como. Vou continuar a carreira, então não posso fazer um jogo de despedida. Todas essas homenagens que tive da torcida me deixam muito feliz. Essas outras coisas aí eu não esperava, não pediria e não me faria mais ou menos grato pelo Palmeiras.

Como foi a festa de despedida que a torcida organizada do Palmeiras fez para você? Ali foi uma despedida da arquibancada. Não pude fazer o meu último jogo no estádio, mas ali pude sentir o carinho da torcida. Teve o mosaico na Copa do Brasil que me marcou muito em 2015. Tenho certeza que quando for jogar contra o Palmeiras, vou ser muito bem recebido. É isso que fica.

Os jogadores tiveram problemas com a torcida ano passado. O Bruno Henrique e a esposa foram cobrados com violência na rua. Como você vê esse tipo de relação da torcida com o jogador? Isso é um problema social. Quantas violências iguais aquela acontecem no Brasil e a gente não fica nem sabendo porque não é com uma pessoa pública? O futebol mexe com a paixão. Não vemos esse tipo de protesto se o medicamento fica mais caro na farmácia, ou se o mercado sobe os preços. É porque não tem essa ligação de afeto que o sujeito tem com o futebol.

Trata o novo projeto com o Ceará como um recomeço? Trato como continuidade de carreira, e não um recomeço. Continuidade de uma carreira que tenho há 23 anos e é mais um capítulo dessa história.

Quais seus objetivos ainda no futebol aos 41 anos de idade? Espero estar dentro de campo. Óbvio que no futebol cada treinador tem as suas escolhas, cada jogador tem o seu momento, mas eu venho de dois anos sem jogar muito no Palmeiras e o meu objetivo é voltar a atuar com frequência. Vou ter que demonstrar isso dentro de campo e contar com uma avaliação positiva do treinador.

O que acha que pode alcançar no Ceará em 2020? Temos quatro campeonatos: Copa do Nordeste, Estadual, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. Os dois torneios regionais são muito valorizados aqui no Nordeste. Independente do clube em que você está e da idade que tenha, você sempre tem que pensar e trabalhar para vencer. Isso eleva a sua motivação e a sua exigência. No futebol principalmente tem que ser competitivo e vencer. No Brasil, só vale o primeiro lugar. Quem é lembrado é quem ganha, conquista títulos e faz história. Isso não vai mudar por aqui tão cedo.

Na sua saída do Palmeiras, você afirmou que iria se dedicar ainda mais e faria mais treinos complementares, algo que já fazia em São Paulo. Você tem feito isso? Comecei minha preparação em 2019. Abdiquei de duas semanas de férias. Por incrível que pareça, agora na pré-temporada quando o jogador fica cheio de dores musculares, eu não tive nada, porque já estava nesse processo antes de me apresentar. Durante minhas férias fiz um treinamento para chegar bem e esse é o segredo. Todo mundo gostaria de chegar aos 42 jogando em alto nível, mas a gente sabe que são só algumas exceções. Isso não é por acaso. Eu convivi muito de perto com o Zé Roberto e isso ficou mais nítido e tive mais certeza depois de conviver com ele. Não é por acaso que um cara pode chegar onde ele chegou, em alto nível, por tanto tempo.

Teremos Fernando Prass em alto nível até quando? Não sei. Desde os 39 anos, de 2017, eu venho fazendo uma avaliação ano a ano e vendo como eu estou. Tanto física quanto mentalmente. As duas coisas são importantes. O jogador de futebol para de jogar ou por um problema físico ou por uma estafa mental, de entrar em campo e não ter mais prazer naquilo. Até hoje, todos os dias em que eu piso no gramado, faço com prazer. Não é aquela coisa pesada, sacrificante. Normalmente para goleiro é muito difícil, mas para mim é prazeroso. Enquanto eu não tiver problemas físicos, estarei bem. Fiz as avaliações aqui no Ceará e consigo manter os mesmos índices que tinha no Palmeiras, fui muito bem avaliado. Na parte mental, continuo apaixonado por futebol, por trabalhar, treinar e me preparar para o jogo.

Pensou em aposentadoria? Sinceramente, eu não coloco prazo.

Você fechou contrato de só um ano com o Ceará. A ideia é parar no final de 2020? Hoje eu não posso falar isso. É mais honesto da minha parte, como não tive nos outros anos no Palmeiras, uma avaliação prévia do que eu vou fazer no futuro. Então não é correto fazer um compromisso mais longo.

O futebol nordestino tem crescido bastante com clubes como Ceará, Fortaleza e Bahia se estruturando. Foi a primeira oportunidade que você teve para jogar no Nordeste? Foi. Esse crescimento é algo que eu também notei. O futebol do Nordeste tem crescido e posso falar pelo que vi aqui em Fortaleza. Tem duas equipes que estão se estruturando. É óbvio que não dá para comparar ainda com os grandes centros, mas é uma tendência. Quem quiser estar entre os melhores, tem que se organizar. Hoje o futebol exige muito mais do que um time dentro de campo. Situações fora das quatro linhas são muito importantes. O clube que entender isso antes vai sair na frente. O Bahia acaba de inaugurar um centro de treinamentos que é referência. É compatível com os grandes centros e até melhores do que alguns clubes grandes do país.

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