Acusados por Cabral, campeões olímpicos negam suborno para escolha do Rio
O ex-governador do Rio de Janeiro diz ter pago propina a membros do Comitê Olímpico Internacional na votação que escolheu a sede dos Jogos de 2016
O ex-nadador russo Alexander Popov e o ex-atleta do salto com vara ucraniano, Serguei Bubka, membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), negaram nesta sexta-feira, 5, a acusação de suborno em troca do voto no Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Os dois foram acusados na última quinta pelo ex-governador carioca Sérgio Cabral, preso desde novembro 2016, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, em uma ação penal da Operação Lava-Jato.
Cabral informou que pagou a quantia de 2 milhões de dólares (7,5 milhões de reais na cotação atual) para delegados do COI, incluindo os ex-campeões olímpicos Serguei Bubka e Alexander Popov, que participariam da escolha da cidade que receberia a Olimpíada de 2016. A votação teria sido fraudada com a intermediação do ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf), Lamine Diack, que, segundo Cabral, garantiu ‘entre oito e nove votos’ para o Rio.
“Eu percebi que para muitos a notícia foi um choque. Especialmente para mim, porque eu não votei no Rio. Seria prudente que (Cabral) mostre pelo menos algum tipo de comprovante do suposto suborno aceito, porque saberia em qual banco ir. Alguém aparentemente lucrou usando meu nome”, disse Popov à agência russa RIA Novosti.
Além disso, o ex-nadador, dono de quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de 1992 e 1996, informou que os seus advogados preparam um comunicado oficial sobre as acusações e disse que ninguém do COI entrou em contato com ele para falar sobre o assunto. Popov é membro honorário do COI desde 2016, mas entre os anos de 2000 e 2016 foi membro efetivo da entidade.
Serguei Bubka, campeão olímpico nos Jogos de 1988, em Seul, na Coreia do Sul, utilizou suas redes sociais para repudiar a acusação. “Rejeito completamente as falsas alegações do governador do Estado do Rio de Janeiro, que cumpre uma longa pena de prisão por corrupção. Lamine Diack nunca falou comigo sobre meu voto. Meus advogados falarão com Diack para que ele dê explicações sobre as acusações de Cabral”.
O dinheiro, de acordo com Cabral, foi transferido pelo empresário Arthur Soares —homem de sua confiança —- a Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack. A propina, então, foi repassada para pagar membros do COI em troca de votos na primeira fase da eleição. À época, o Rio concorria com Chicago, Madri e Tóquio, atual sede da Olimpíada de 2020. Cabral contou que as medidas para passar pela primeira fase foram ‘política com P minúsculo’ e não se repetiram duas fases seguintes, em que os governantes brasileiros utilizaram ‘política com P maiúsculo’ na campanha que definiu o Rio como sede dos Jogos.
A votação ocorreu em Copenhague, na Dinamarca, em 2 de outubro de 2009, em três turnos. No primeiro, Madri teve 28 votos, o Rio recebeu 26 e Tóquio, 22. Chicago ficou em último, com 18, e foi eliminada. Em teoria, sem os nove votos comprados o Rio teria 17, ficaria em último e sairia da disputa. No segundo turno, o Rio teve 46 votos, Madri, 29 e Tóquio, 20. Na última etapa, o Rio teve 66 votos e Madri, 32. Os nove votos só fizeram diferença, portanto, no primeiro turno.
O ex-governador emedebista afirmou também que o então prefeito do Rio, Eduardo Paes, à época no MDB e hoje no DEM, e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) souberam da negociação, mas não participaram nem obtiveram vantagens com ela. O COI anunciou em um comunicado que sua comissão de ética examinará imediatamente o caso e já entrou em contato com os membros mencionados.
(Com Estadão Conteúdo e AFP)