A vez de Philippe Coutinho: ele conseguirá ser um ‘novo Bebeto’?
Craque do Barcelona estreia em Copas aos 26 anos, com a missão de ser o melhor sócio de Neymar, um coadjuvante de luxo no Mundial. E marca o gol de estreia
ROSTOV – O pequeno mágico. Era assim que a torcida do Liverpool se referia ao meio-campista carioca durante seus anos na Inglaterra. Ao se transferir para o Barcelona, foi rapidamente apontado como o sucessor natural de Andrés Iniesta. Mas apesar do prestígio na Europa e da qualidade técnica incontestável, Philippe Coutinho ainda tem uma história modesta na seleção brasileira adulta, aos 26 anos (mesma idade de Neymar). Neste domingo, ele fez sua estreia em Copas do Mundo, diante da Suíça, em Rostov, marcando o primeiro gol do Brasil no torneio. Em boa fase e com a confiança total de Tite, que encontrou uma forma de escalá-lo junto com Neymar e Willian, é um dos candidatos a estrela do Mundial. Ou ao menos ao prêmio de melhor coadjuvante, fundamental nas últimas conquistas brasileiras: Rivaldo, em 2002, e sobretudo, Bebeto, a dupla ideal de Romário, estrela do tetra em 1994.
Tabela completa de jogos da Copa do Mundo 2018
Coutinho jogou em todas as seleções de base, quase sempre ao lado de Neymar, com quem sempre demonstrou boa sintonia, e conquistou diversos títulos, como Mundial sub-20 de 2011, mas demorou um pouco a se firmar na equipe principal e ficou de fora da Copa de 2014. Na ocasião, a criação do time ficou a cargo de Oscar Emboaba, outro jogador jovem e talentoso, da mesma idade de Coutinho, de quem se esperava uma trajetória brilhante na seleção, o que não se confirmou. Autor do único gol brasileiro no 7 a 1 alemão, Oscar perdeu espaço e motivação. Trocou o Chelsea pela fortuna chinesa e a seleção ficou distante – Tite até lhe deu uma chance, mas se decepcionou. A bola da vez passou a ser Coutinho.
O meia ganhou chances com Dunga e se firmou ainda mais com Tite. Atualmente, tem 36 jogos e 10 gols pela equipe adulta. Logo em seus primeiros jogos, Tite logo se viu diante de uma quebra-cabeça: com o escalar Coutinho e Neymar se ambos costumam atuar pelo lado esquerdo? Admirador confesso do meia revelado pelo Vasco, o técnico propôs uma solução: colocar Coutinho na direita (com liberdade para flutuar pelo centro e até inverter o lado com Neymar em alguns momentos.) Apesar de pouco acostumado à função, Coutinho deu conta do recado e se tornou titular absoluto.
Mas havia outro “problema” para o técnico: a evolução de Willian, o “foguetinho” do time, outro xodó de Tite. Na ausência de Neymar, lesionado, o comandante rearranjou o ataque, com Coutinho de volta à esquerda e Willian “voando” pela direita. As boas atuações de ambos e a iminente volta de Neymar não deixaram outra opção a Tite: era preciso achar lugar para todos os craques. Para isso, teve de controlar as subidas de Paulinho.
“O professor Tite pediu que eu baixasse um pouquinho, fosse mais organizador, para liberar mais o Coutinho, que tem uma qualidade impressionante, é um craque”, afirmou Paulinho, companheiro de clube do meia, em Sochi.
Até o amistoso contra a Croácia, Tite estava indeciso entre escalar Willian ou Fernandinho – a segunda opção deixaria o meio-campo com mais poder de marcação. O primeiro tempo ruim em Liverpool, no entanto, e a evidente melhora com a entrada de Neymar no lugar de Fernandinho garantiram a permanência do quarteto de frente, ratificada com o show dos atacantes contra a Áustria.
Coutinho foi o melhor em campo no último amistoso, em Viena. Fez gol, chutou no travessão, driblou, serviu os colegas. Demonstrou confiança e maturidade que nem sempre o acompanharam na seleção. Aos 26 anos, idade considerada ideal para um futebolista (a mesma de Zidane em 1998, Maradona em 1986 e Ronaldo em 2002), tem uma chance de ouro de guiar o Brasil ao hexa, ainda que como coadjuvante de luxo de Neymar.