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A difícil arte de ser Maradona

O argentino fez e aconteceu no tempo de um único jogo na Rússia

Diego Armando Maradona é como um tango argentino: sempre dramático, invariavelmente triste. Não é fácil ser Maradona. Na partida de estreia da Argentina contra a Islândiaempate ruim para os sul-americanos, 1 a 1 – lá estava o ex-camisa 10 numa das tribunas do estádio do Spartak ostentando baforadas num chamativo charuto cubano. Não demorou um segundo para que nas redes sociais, a ágora de nosso tempo, reclamassem com avidez, e com razão: é expressamente proibido fumar nas instalações da Copa, mesmo nos espaços ao ar livre. Ao fim do jogo, Maradona foi ao Instagram: “Hoje foi um dia complicado para os argentinos, com muita tensão no início. Cada um tem sua forma de ser e de sentir as coisas. Sinceramente não sabia que não se pode fumar no estádio, peço desculpas para o público e para a organização. Vamos Argentina, vamos nossos garotos, agora mais do que nunca!”.

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Tudo resolvido? Não, porque é Maradona. Ele foi visto por um jornalista inglês – que tratou de postar o que viu, é assim hoje em dia – respondendo ao cumprimento de torcedores sul-coreanos que estavam no estádio Spartak puxando seus próprios olhos, como se imitasse um oriental. É gesto preconceituoso, evidentemente. Maradona não teve saída, e voltou ao Instagram com uma explicação: “Eu entendo melhor que muita gente que numa Copa do Mundo as pessoas estejam buscando notícias em todos os cantos. Mas eu quero fazer um esclarecimento: hoje [sábado], no estádio, diante de diversas demonstrações de afeto das pessoas, eu vi um grupo de pessoas que nos filmavam. Era um garoto asiático vestindo uma camisa da Argentina. Eu, de longe, tentei mostrar a eles como era legal ver até asiáticos torcendo por nós. E isso foi tudo, pessoal”.

Não, não foi tudo. Ávidas por alguém para ridicularizar, as tais redes sociais, sempre elas, voltaram a mirar Maradona. Dois vídeos viralizaram: num deles via-se o portenho sendo barrado na entrada do estádio, em virtude de um desencontro nas credenciais de acesso, mas nada grave, e rapidamente o nó foi desatado. No outro vídeo, o argentino aparece sucessivas vezes coçando o nariz, de um lado para outro, de baixo para cima. Fácil imaginar que rapidamente associaram os tiques ao antigo vício de Maradona por drogas, embora ele diga estar afastado de qualquer aditivo, químico ou não, há mais de uma década.

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Tudo isso, ressalve-se, ocorreu em 90 minutos, um pouco mais talvez, o tempo de uma partida. É só o começo. Como Maradona não está nem aí para as convenções, é provável que novos problemas despontem. Mas considere-se, também, que ele é alvo predileto e raivoso dos olhares de censura desde que foi flagrado no doping, foi parar na UTI em decorrência do consumo de drogas e, mais recentemente, declarou seu amor político e Fidel Castro, Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Maradona, aliás, está na Rússia como comentarista do canal venezuelano TeleSur no programa De la Mano del Diez. Da mão do dez pode vir ainda muita confusão, porque ele nunca se enquadrou em nada, com gols geniais e comportamentos desajustados.

Maradona é tango. “Que o mundo foi e será uma porcaria eu já sei/Em 506 e em 2000 também/Que sempre houve ladrões, maquiavélicos e safados/Contentes e frustrados, valores, confusão/Mas que o século XX é uma praga de maldade e lixo/Já não há quem negue/Vivemos atolados na lama/E no mesmo lodo todos manuseados/Hoje em dia dá no mesmo ser direito que traidor/Ignorante, sábio, besta, pretensioso, afanador/Tudo é igual, nada é melhor”. Com Maradona os movimentos parecem cambalache, como na clássica canção de Disciepolo, mas nem sempre são.

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