À altura do vôlei brasileiro, jogadora paulista mira a Olimpíada
Destaque do Barueri, time treinado por José Roberto Guimarães, Tainara Santos se empenha para estar na seleção
Há, na expressão serena de Tainara Santos, algo que vai além da tranquilidade — uma indisfarçável timidez. Tal traço de personalidade chama atenção por duas razões. Em primeiro lugar, porque destoa da estatura física da jovem: ela mede 1,87 metro e ostenta um porte visivelmente atlético. O segundo motivo: nascida em Jandira, no interior de São Paulo, Tainara é uma das melhores jogadoras de vôlei reveladas no país nos últimos anos — e, portanto, não seria estranho se já tivesse se acostumado ao frenesi que cerca os ídolos do esporte, inclusive os novatos.
Mas atenção: tudo o que se falou até aqui sobre a ponteira — destaque da equipe do Barueri Volleyball Club, time idealizado e treinado por ninguém menos do que José Roberto Guimarães, tricampeão olímpico e desde 2003 técnico da seleção feminina — diz respeito a sua postura fora de quadra. Dentro dela, o acanhamento de Tainara desaparece. “Quando estou atuando, deixo a ‘molecona’ de lado. Nos jogos, sou uma mulher madura. Aprendi desde cedo a assumir minhas responsabilidades”, afirma a atleta. Seu ótimo desempenho já lhe rendeu propostas de clubes do exterior, no entanto Tainara garante que, por ora, prefere ficar no Brasil. “Acho que não é o momento de sair. Ainda preciso aprender muita coisa, e aqui no Barueri eu me sinto em casa”, comenta a jovem, que, é claro, conta com o apoio incondicional de José Roberto.
O treinador a conheceu três anos atrás em Barueri mesmo, onde montou um centro de treinamento esportivo no início da década de 90. “Ele viu potencial em mim. Prezo muito a nossa relação”, acentua Tainara. Quando decidiu estruturar uma nova equipe profissional, que levaria o nome daquela cidade paulista, José Roberto não teve dúvida: quis que a adolescente estivesse no seu time. Não se imagine, contudo, que, no dia a dia, o técnico alivie o lado dela. “Na quadra, finjo que não o conheço, porque ele é muito diferente, é estressado”, relata a atleta. Ela só viu seu espaço crescer dentro do clube, que usa as cores e o escudo do São Paulo em sua camisa.
Tainara começou a jogar vôlei aos 11 anos. “Fui aprovada só porque era alta. Não sabia dar uma manchete”, admite. Ela foi levada de Jandira à vizinha Barueri por um professor do colégio — na sua escola, não se praticava o esporte que a arrebataria. O resto já é história. Em 2019, Tainara teve sua primeira chance na seleção adulta, convocada por José Roberto para disputar a Liga das Nações. Essa experiência de representar o Brasil tem feito Tainara se imaginar nos Jogos de Tóquio, em julho próximo. “Só de saber como é um ambiente olímpico já seria incrível”, sonha a jovem.
Publicado em VEJA de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668