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3 terabytes por corrida: os dados produzidos pelos carros de Fórmula 1

Com o campeonato decidido, equipes de ponta como a Mercedes transformam-se em um laboratório para largar na frente no próximo ano

Quem acha que a temporada de Fórmula 1 não vale mais nada após a definição dos vencedores do campeonato de pilotos e de construtores pode se surpreender com o ritmo frenético que os mecânicos trabalham dentro dos boxes no Grande Prêmio do Brasil, penúltima etapa da disputa. Mesmo na garagem da equipe Mercedes, campeã das duas disputas com várias corridas de antecedência, os 60 funcionários – limite máximo regulamentar – que se esgueiram pelo espaço de pouquíssimos metros quadrados. Com os objetivos do ano praticamente alcançados, o foco é a pesquisa e desenvolvimento do carro que irá às pistas na próxima temporada.

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Por essa razão, os treinos livres – que ocorrem tanto às sextas-feiras quanto na parte da manhã de sábado – são vitais para as equipes que desejam largar na frente em 2020. VEJA teve acesso exclusivo aos bastidores, inclusive dentro dos boxes, do time do inglês Lewis Hamilton e do finlandês Valteri Bottas, e traz uma informação importante: se até pouco tempo atrás o principal fator desequilibrante de um monoposto era o tripé aerodinâmica, potência do motor e, claro, piloto, hoje essa trinca já ganhou um novo pilar: o processamento de dados em tempo real.

Os engenheiros da Mercedes tentam traduzir 3 TB de dados obtidos a cada fim de semana Allan Hamilton/Icon Sportswire/Getty Images

Durante as sessões livres, os carros recebem uma carga extra de sensores (estima-se em mais de 400), que são retirados para os treinos classificatórios e para a corrida pelo peso que adicionam a cada bólido. De dados apuradíssimos de telemetria a aparentes filigranas como a quantidade de ar que passa pelo capacete do piloto, tudo é medido e transmitido sem fios para duas centrais: aquela a beira da pista, no chamado pitlane, e uma outra na sede da equipe Mercedes, em Brackley, a noroeste de Inglaterra.

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“Cada carro produz cerca de 3 terabytes de informação por final de semana”, disse a VEJA o uruguaio Alejandro Couce, gerente geral para a América Latina da Tibco, a fornecedora de gerenciamento de dados da Mercedes e uma das maiores empresas do setor no planeta.”Por isso que ali no pitlane, dos seis engenheiros da equipe sentados a beira do muro do boxes, três são treinados por nós para fazer a interpretação mais rápida dos dados.” O uso do dados tem implicações práticas fascinantes, que antes dependiam única e exclusivamente do “feeling” dos homens ao volante e dos engenheiros de cada carro. Agora, os algorítimos de apresentam os vários cenários possíveis, para que uma pessoa de carne e osso tome a decisão mais acertada.

Exemplo: um microfone que capta os ruídos da caixa de câmbio dos carros pode “prever” uma falha no sistema antes mesmo que ela ocorra. Isso acontece pois esses sinais são comparados a um vasto banco de dados buscando padrões e similaridades. Ao identificar um som que, em outra situação, antecipou a quebra da transmissão do monoposto, é enviado um alerta ao computador dos engenheiros e o sistema de inteligência artificial tenta apresentar uma solução para o iminente problema.

Outra inovação, essa mais relacionada a uma situação de prova: agora é o computador que ajuda os pilotos a escolher o momento ideal de fazer as ultrapassagens. “É do piloto a função de pisar no acelerador ou retardar uma freada, mas ele o faz no momento ótimo que os nossos engenheiros a partir dos dados obtidos e interpretados”, disse Couce, da Tibco. Para chegar a “janela ideal”, os computadores também são alimentados com os dados das outras equipes (abertos, nada de espionagem industrial), como as parciais de tempo, pneus escolhidos e comportamento prévio em outras edições da disputa.

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A automação é tamanha que já é possível frear remotamente um carro de Fórmula 1, se a equipe a frente dos monitores perceber que o piloto está diante de uma batida grave iminente. “A tecnologia está aí, mas esperamos não ser necessário utilizá-la”, finalizou Alejandro Couce. A única coisa que a tecnologia não conseguiu vencer é o clima: quando chove, boa parte das medições são desconsideradas pois não representam as condições ideais de funcionamento das máquinas

 

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