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Kings League: o sucesso da liga criada por Piqué, a caminho do Brasil

Final do torneio de Fut 7 com streamers e ex-atletas levou 92.522 torcedores ao Camp Nou e contou com a presença de Neymar como ator e futuro dirigente

Mais de 90.000 pessoas viveram um domingo, 26, de futebol e festa no Camp Nou, o que não seria grande surpresa não fosse por um detalhe: não era jogo do Barcelona, mas a final da Kings League, torneio criado pelo ex-zagueiro Gerard Piqué e por Ibai Llanos, famoso streamer espanhol. O campeonato de Fut 7, com a participação de influenciadores, atletas amadores e algumas estrelas da bola como Ronaldinho Gaúcho e Iker Casillas,  terminou com triunfo por 3 a 0 da equipe Barrios contra Aniquiladores, para delírio nas arquibancadas e dos milhões de fãs que acompanhavam o duelo pelas redes sociais.

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O ambiente no Camp Nou lembrava a de um grande evento americano, como o Super Bowl, com shows musicais, pirotecnia e torcedores usando máscaras do rei que batiza a liga. Segundo dados da plataforma TVTOP España, a Final Four da Kings League teve pico de audiência de 2,16 milhões de pessoas, somando Twitch, TikTok e as contas oficiais dos presidentes das equipes.

A caminho do Brasil

O brasileiro Neymar atacou de ator, ao aparecer no telão simulando o sequestro de Piqué e exigindo para o resgate que se tornasse proprietário de uma das equipes da futura Kings League brasileira. Piqué, que abandonou o campos este ano para se dedicar exclusivamente à carreira de empresário, já havia revelado o objetivo de criar uma edição brasileira da Kings League quando convidou Ronaldinho Gaúcho para atuar em uma partida.

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“Comentamos que, no Brasil, o futebol de 7 é muito popular, Ronaldinho adora jogar. E começamos a falar que, no futuro, gostaríamos de levar a liga ao Brasil, sobre um mercado potencialmente bom”, disse, na ocasião.

De fato, o formato da Kings League se assemelha ao de campeonatos de society que fazem sucesso no Brasil, ou com os eventos de Showbol que levaram craques como Djalminha, Denilson e Falcão, do futsal, aos campos de grama sintética. É, porém, mais focado em entretenimento do que em esporte, pois conta com celebridades da internet (nem sempre boas de bola) e regras próprias. No Brasil, o RockGol, histórico programa da MTV, ou a Supercopa do canal Desimpedidos, têm o formato mais semelhante.

Formato pensado para atrair jovens

O projeto surgiu de uma ideia de Piqué com seu amigo Ibai, um dos principais streamers do mundo. Há anos, o ex-zagueiro, multicampeão com a seleção espanhola e com o Barcelona, vem alertando para um suposto desinteresse dos jovens pelo esporte e já chegou a pedir mudanças nas regras, como a redução do tempo das partidas, em razão do que chamou de “nível de concentração diferente”.

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“Ao longo ou médio prazo, o futebol deverá estudar a possibilidade de reduzir as partidas. Ou tentar deixá-las mais empolgantes. Digo o mesmo para o tênis e outros esportes. A juventude de hoje não passa duas horas vendo um jogo na TV. Creio que isso vai acontecer em todos os esportes, ao longo dos anos”, disse Piqué, ainda em 2018.

Gerard Piqué e Ibai Llanos, os idealizadores da Kings League -
Gerard Piqué e Ibai Llanos, os idealizadores da Kings League –

No início do ano, Piqué e Ibai anunciaram a criação da Kings League, com 12 times presididos por criadores de conteúdo e ex-jogadores, como Kun Agüero e Iker Casillas. Os jogos das fases anteriores acontecem em um complexo esportivo de Barcelona, a Cupra Arena. Já a decisão ocorreu no Camp Nou, em um gramado com dimensões reduzidas.

O torneio começou com 12 times, que se enfrentaram entre si, em ida e volta. Os oito mais bem colocados avançaram e disputam os playoffs, em partidas disputadas em dois tempos de 40 minutos. Nenhum jogo pode terminar empatado, o que obriga uma disputa de “shoot-outs”, caso haja a necessidade de desempate. No Brasil, viralizou a cena em que Ronaldinho Gaúcho se nega a bater um shoot-out, pois não queria correr.

Os elencos de cada time são compostos por 10 jogadores escolhidos por um Draft, ao estilo dos esportes americanos, e dois “Wild cards”. Esses especiais são o 11º jogador (estrelas que compõe o time durante toda a temporada) e o 12º jogador (estrelas que podem mudar a cada rodada).

Javier Chicharito Hernández, Javier Saviola, Juan Capdevila, Victor Sánchez foram alguns dos nomes que compuseram as vagas para profissionais. Ricardinho, jogador português que por muitos anos foi o melhor do mundo no futsal, e Ronaldinho foram convidados a levar mais magia ao torneio.

As regras da Kings League

• Sem um pontapé inicial, a bola é colocada no meio e os times precisam correr em direção a ela para ter a posse
• Substituições ilimitadas
• Cartão amarelo significa que o jogador precisa sair por dois minutos, e o cartão vermelho é a expulsão, mas com possibilidade de substituição
• Caso um time peça o uso do VAR e não haja mudança na marcação, o direito de pedir checagem acaba
• Cartas: gol dobrado por dois minutos, expulsar um adversário por dois minutos, ter um pênalti, roubar uma carta do adversário ou a coringa (escolher qualquer das ações)

Torcedores com máscaras para acompanhar a final da Kings League
Torcedores com máscaras para acompanhar a final da Kings League

Vai vingar no Brasil?

PLACAR ouviu dois especialistas no mercado de marketing esportivo sobre o tema. Ambos acreditam que, se bem “embalado”, a Kings League pode obter êxito no Brasil. “Acredito que o torneio tem duas peças-chaves para o sucesso. O primeiro é que sempre tem um ex-atleta ou streamer famoso em cada time, uma grande atratividade para o projeto que traz bastante engajamento. Uma outra força é a regra, que traz bastante interação e que torna este esporte um grande show de entretenimento”, opina Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e CEO da Heatmap.

“Pelo modelo de projeto na Europa e os nomes que pretendem trazer, acredito que também será um sucesso caso venha para o Brasil, ainda mais se tiverem mesmo grandes astros mundiais participando ativamente”, completa Salviano. Para Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, empresa do comitê organizador do Brasil Ladies Cup de futebol feminino, a chave está na divulgação.

“Se você tem influencers que atingem milhões de pessoas, passa a ter um produto com uma força de divulgação maior. Os atletas que atuavam no Showbpol se envolviam na divulgação do evento ou iam só para jogar a partida? Essa pode ser a grande diferença, porque se os atletas estão envolvidos no produto e tem milhões de seguidores, a chance do evento pegar é maior. Na época do Showbol, também, as redes sociais não estavam tão bem desenvolvidas como hoje”, diz Wolff.

“Esse tipo de evento, quando bem promovido, tem grandes chances de dar certo, mas obviamente que o produto precisa ser bom. O que aconteceu no Camp Nou é a prova de que foi muito bem elaborado, e obviamente pode ser adaptado ao mercado brasileiro por meio da mesma fórmula que foi feita lá, com influencers, ex-atletas, um produto bem embalado”, complementa.

Seleção brasileira de showbol
Seleção brasileira de showbol: muitos astros, nem tanta divulgação

La Liga incomodada

O sucesso da primeira edição da Kings League incomodou Javier Tebas, presidente de La Liga, que comparou o torneio a um circo e a um programa de televisão espanhol.  “É como dizer que o Pasapalabra (game show famoso da TV espanhola) pode ser um concorrente de La Liga. A única coisa em que a Kings League é parecida com o futebol é que você joga com uma bola e tem que marcar gols. Não consigo me imaginar fazendo a coisa das cartas em La Liga”, desabafou, em evento de LaLiga.

“Acho que é um circo. Não é uma questão de atrair ou não um público jovem. A Twitch é uma rede social aberta e gratuita, no futebol você tem que pagar todo mês e isso o torna muito diferente. Em seis meses, veremos o que falaremos sobre a Kings League. Lembro-me de quando Ibai Llanos e Piqué compravam jogos do PSG porque Messi saiu. Dois jogos transmitidos. E parecia que era revolução. Não quero dizer que isso dure dois jogos, mas vamos ter uma perspectiva do que há e do que não há (…) Eu gosto disso como um circo, mas não é comparável à indústria do futebol”, completou Javier Tebas.

 

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