Publicidade
Publicidade

Raí lança livro para incentivar prática esportiva; leia trecho

Na obra, ex-craque recorda histórias de sua infância e fala sobre a importância do exercício para seu dia a dia, mostrando os benefícios de cada modalidade

“Minha paixão pelo esporte vem muito antes de me tornar jogador profissional”, conta Raí

Campeão mundial com o São Paulo e com a seleção brasileira, o ex-jogador Raí se aventurou pela literatura – ele lança nesta quinta-feira, com direito a noite de autógrafos em São Paulo, o livro Como Gostar de Esporte, em parceria com a revista Saúde, da Editoria Abril, que também edita VEJA (confira a seguir, com exclusividade, um dos capítulos). Na obra, ele fala sobre a importância da prática esportiva e apresenta histórias de sua infância para explicar como o esporte sempre foi muito presente em sua vida – antes de se tornar jogador de futebol profissional e depois de sua aposentadoria. “Jogo tênis, corro, tento praticar esporte pelo menos três vezes por semana. O que mais sinto falta quando fico sem jogar, depois de ter parado, não são os campeonatos, e sim o prazer de brincar, de jogar bola. É uma coisa que eu quero fazer com mais frequência”, diz Raí.

Publicidade

Acompanhe VEJA Esporte no Facebook

Siga VEJA Esporte no Twitter

Capa do livro 'Raí - Como gostar de esporte'
Capa do livro ‘Raí – Como gostar de esporte’ VEJA

Irmão caçula entre seis homens – o mais velho e mais famoso foi Sócrates, morto em dezembro de 2011 -, Raí conta episódios marcantes de sua infância, a maioria deles, diz o ex-craque, pouco ou nada conhecidas do público. De acordo com ele, as atividades que adotou desde sua despedida dos campos (especialmente na Fundação Gol de Letra, que comanda em parceria com o amigo Leonardo, e no grupo Atletas pela Cidadania) foram a origem de sua ideia de escrever sobre a ligação antiga que ele tem com o esporte – afinal, nas duas entidades, ele tenta incentivar a prática do esporte entre crianças. “Aos poucos me dei conta de todas as faces do esporte, e comecei a perceber que muitos pais não sabem como incentivar os filhos, como facilitar o contato deles com a atividade física. Daí surgiu uma das ideias para fazer o livro: contar uma parte da minha vida que as pessoas não conhecem, e mostrar como minha paixão pelo esporte vem muito antes de me tornar jogador profissional, além de mostrar os benefícios que ele trouxe à minha vida.”

Como Gostar de Esporte, de Raí (Revista Saúde/Editoral Abril, R$ 25,90). Noite de autógrafos: nesta quinta-feira, a partir das 18h30, na Livraria Cultura (Conjunto Nacional, Av. Paulista, 2.073, 1º piso).

Publicidade

‘Torcida na medida certa’

Confira um dos capítulos do livro Como Gostar de Esporte, do ex-craque da seleção

A educação em casa e o ambiente escolar fizeram com que eu e meus irmãos encarássemos os esportes como grandes brincadeiras. A gente praticava pelo prazer. Tanto que o Sócrates, quando já atuava pelo Botafogo de Ribeirão Preto, não deixou de integrar o time de futebol de salão da faculdade de medicina – alguém duvida de que ele era o craque da equipe?! Jogar bola, para ele, não era uma obrigação, e sim um privilégio.

Agora, quem tinha mesmo o privilégio de ver o Sócrates desfilar seu talento desde moleque era meu pai. E fazia isso com gosto. Ele sempre acompanhava as partidas do seu primogênito, vibrando com os gols e as belas jogadas. Até que um dia o time juvenil do Botafogo do Magrão disputou uma final contra o Sumaré. Esse time amador, formado por um combinado de peladeiros, contava com uma arma-surpresa: o Sóstenes, o segundo mais velho entre os meus irmãos e que também batia um bolão. Imagine como um pai se comportaria nessa sinuca de bico! O meu teve uma sacada genial: foi para a arquibancada e, em vez de torcer por um ou outro filho, escolheu um lado do campo como seu clube do coração. Assim, cada filho teve sua torcida por um tempo.

O jogo foi tenso. O Botafogo abriu o placar e controlava as ações até que, no finalzinho, o Sóstenes subiu mais alto do que a zaga adversária e cabeceou para o fundo do gol, deixando tudo igual. O Raimar, presente nesse confronto familiar, disse que assim que a bola estufou as redes, o Sócrates ficou nervoso demais e saiu dando bronca nos defensores. Na prorrogação, o Botafogo confirmou o favoritismo, venceu por 2 a 1 e ficou com a taça. Mas meu pai parabenizou seus dois filhos por participarem de um jogo tão emocionante. Vale reforçar que nenhum dos dois primeiros filhos do seu Vieira foi incentivado a se tornar profissional, e sim a praticar um esporte. O que fez o Magrão ser profissional foi seu enorme talento.

Publicidade

Esse episódio é bem a cara do seu Vieira. Ele esteve presente e motivou tanto o Sócrates quanto o Sóstenes sem cobrar um melhor desempenho de ninguém. Acho que só se irritava um pouquinho no momento em que percebia que um de seus filhos fazia corpo mole. Quando o Sócrates ficava na ponta direita, onde não batia sol no segundo tempo, ele gritava: “Sai da sombra, Magrão!” Empenho era algo que ele pedia dos filhos. Sempre. De qualquer maneira, isso era mais brincadeira. Falam que o Sócrates ria demais dele.

Meu pai tinha mais uma história engraçadíssima como expectador dos seus filhos: em outra final, dessa vez de basquete pelo time da escola, o Sóstenes fez uma cesta decisiva faltando poucos segundos para terminar a partida. Ele saiu vibrando para a torcida e foi seguido pelos seus companheiros de time sem perceber que o adversário tinha tempo suficiente para correr e fazer mais dois pontos. Conclusão: perderam o jogo. Meu pai contava isso como graça, mas, de quebra, ficava mais um aprendizado.

UM ESPECTADOR ENTUSIASTA

Seu Vieira adorava estar dentro do mundo do esporte, principalmente quando se tratava do futebol. Ele chegou a compor a diretoria do Botafogo de Ribeirão Preto e sempre via os jogos do clube, mesmo sem o Sócrates em campo. Nessas ocasiões, era comum carregar um ou outro filho para o estádio. Essa paixão com certeza transbordou para a geração seguinte, inclusive porque não havia pressão para nada. O que o chefe da família fazia era se colocar à disposição e convidar a toda hora sua prole para ver uma boa partida.

Continua após a publicidade

Como nem sempre dá para acompanhar o futebol no estádio, meu pai tinha uma televisão em casa. Não é que conscientemente juntasse a família para ver um jogo, porém os filhos se aproximavam dele para observar a bola rolando na telinha. Essa reunião em volta de um esporte também fortaleceu o nosso vínculo com uma vida ativa. Outra modalidade que o encantava era o boxe. Isso por causa do Cassius Clay, que depois ficou conhecido como Muhammad Ali. Muitos defendem que foi o maior pugilista da história – e seu carisma conquistava todo mundo. O seu Vieira acordava de madrugada para ver as lutas do Muhammad Ali pela televisão. Às vezes, tirava os filhos da cama para que não perdessem os embates!

Tudo bem, não que seja muito positivo atrapalhar o sono de um jovem… Pelo contrário. Mas, dentro do possível, fazer de um evento esportivo um programa familiar serve como uma boa dica para aproximar os filhos desse ambiente. E não vale mostrar só futebol. Meu pai também achava fundamental que tivéssemos espaços para nos divertir com os esportes. Como era exagerado, embora não fosse rico, chegou a comprar os títulos de todos os clubes da cidade! Fazia isso como um verdadeiro investimento. Eu gastava horas neles. Lembro de passar tardes e tardes nadando, brincando, assistindo treinos e experimentando várias atividades. Quase todo domingo, ele enchia o carro com parte da família e ia para um desses lugares – como era muita gente, o restante pegava carona com o vizinho.

EU, NO PAPEL DE PAI

Mas incentivar os filhos nem sempre é fácil. O que à primeira vista parece ser um estímulo pode se tornar um fator estressante. E aqui cabe uma confissão: já cometi esse erro com minha primeira filha, a Emanuella. Comecei a ficar encanado, achando que ela, lá pelos seus 13 anos de idade, estava preguiçosa. Aí um dia, em Ribeirão Preto, eu tinha que sair da casa da minha mãe para visitar uns tios. E pensei comigo: por que não fazer o trajeto com a Emanuella correndo? Fiquei insistindo na ideia até que a convenci. E lá fomos nós.

No meio do caminho, me dei conta da distância entre as duas residências – quase 5 quilômetros! Para quem, na época, jogava profissionalmente, era tranquilo. Mas, para uma adolescente pouco acostumada a dar passadas por aí, um percurso enorme! Seja por orgulho, seja para tentar agradar o pai, ela foi até o fim com o rosto vermelho de esforço. Não quis parar no meio mesmo com o meu pedido. Só que chegou tão esbaforida que não quis fazer mais nada por um bom tempo.

Exagerar na dose e cobrar resultados, mesmo que de forma inconsciente como eu fiz, é negativo. Aprendi isso com a história da Emanuella e também vendo outros pais durante as partidas que disputava ao longo da minha infância e adolescência. Os pais que mais reclamavam ou cobravam com exagero geralmente eram os que tinham os filhos mais inseguros. Imagino que os meninos se sentiam obrigados a correr para lá e para cá com medo de não decepcionar ninguém.

Foi isso que eu fiz nos jogos de handebol da Raíssa, minha filha do meio. Às vezes, eu sofria por ela após uma derrota, mas sempre a apoiava. Amava vê-la em quadra e só isso já me satisfazia. Sabia que, apesar de jogar direitinho, nunca seria uma profissional. Mas ela adorava esse esporte, o qual jogou por muito tempo, até na faculdade. Com a Noáh, a caçula, vou vez por outra às aulas de natação. Ela aprendeu rápido a atravessar a piscina nos estilos livre, peito e costas. O nado borboleta melhora a cada dia e, com 7 anos, ela já começou a dar giros embaixo da água para mudar de direção!

A DOSE IDEAL DE INCENTIVO

Uma cena clássica de cinema para ilustrar um pai ausente é aquela em que ele chega atrasado – ou nem chega – no jogo do filho. Com o dia a dia corrido, não dá para passar horas na arquibancada a todo momento. Mas estar presente ao menos em apresentações de dança ou em campeonatos, por exemplo, é importante para a criança sentir que suas atitudes são motivo de orgulho. Nada de exagerar também.

Dependendo das características de cada um e até mesmo da idade, o menino ou a menina podem ficar com vergonha se a mãe coruja aparece em todas as aulas de educação física . E vale ficar de olho no excesso. Entretanto, aplaudi-lo em momentos-chave com certeza só fará bem. Ouvir suas histórias sobre o esporte que pratica, demonstrar interesse e, acima de tudo, apoiá-lo são medidas essenciais de sucesso contra o sedentarismo no futuro.

A grande questão está na maneira de encorajar a moçada. Em um trabalho coordenado por Dante de Rose Júnior, profissional de educação física especialista em psicologia do esporte da Universidade de São Paulo, jovens praticantes de basquete, vôlei, futebol e futsal apresentam um traço em comum: quando cobrados por desempenho em casa, eles encaravam a vitória como uma obrigação, quase uma obsessão. Isso, por sua vez, aumentava seus níveis de ansiedade e estresse, criando uma relação negativa com a modalidade praticada. Em outras palavras, reclamar de um gol perdido ou de uma falha na marcação só atrapalha. Principalmente nessa fase da vida, encarar essas atividades físicas como curtição é fundamental.

Ao acompanhar, digamos, a trajetória esportiva do seu filho, valorize o esforço acima de tudo. Claro que uma derrota às vezes gera tristeza – e também é papel do adulto confortá-lo. Dó que, mesmo nessas horas, reforce as conquistas e as atitudes positivas dele na quadra ou no campo.

Um erro frequente é dizer, antes de uma partida: “confio em você”. Embora apreça incentivadora, essa frase joga uma responsabilidade tremenda sobre os ombros do jovem. É como se o pai encarasse a vitória como certa. Se pensarmos bem, esse discurso seria o equivalente a um “não me decepcione”. Parece exagero, mas muito garoto por aíentende a mensagem exatamente dessa forma. Em vez do “confio em você”, que tal o “dê o seu melhor e… divirta-se”?

Não é preciso orientar. Com bastante tato e sutileza, ensinar um jeito mais eficiente de sacar no vôlei ou mover o braço durante a natação, por exemplo, às vezes até deixa tudo mais animado porque a criança percebe que pode melhorar e fica confiante (autoestima é outra palavra-chave na infância e na adolescência). De qualquer maneira, existem professores e treinadores justamente para isso. A primeira obrigação dos pais é simplesmente bater palmas. E a segunda. Como você vai ler no próximo capítulo, é ser um modelo.

Continua após a publicidade

Publicidade