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Protestos ofuscam jogos, chocam Fifa e chegam à seleção

Manifestações pelo país – que têm no custo elevado das obras ligadas à Copa um de seus alvos – preocupam organizadores, mas são apoiadas pelos atletas

“É lógico que, por eu vir de baixo, bate uma vontade. Precisamos dar ouvidos ao manifesto. O Brasil precisa melhorar em muitas coisas. Sentimos e sabemos que é verdade o que eles dizem”, afirmou Hulk, admitindo que desejaria participar dos protestos

Na véspera do segundo jogo da seleção brasileira pela Copa das Confederações, não se falou de futebol nos eventos oficiais da Fifa e da CBF no país. As manifestações populares que se espalharam por várias cidades na segunda-feira deixaram os preparativos para o duelo entre Brasil e México, em Fortaleza, na quarta, em segundo plano. Publicamente, o discurso da Fifa, da CBF, do Comitê Organizador Local (COL) e do Ministério do Esporte é de respeito ao direito de protestar, desde que sem violência. Reservadamente, contudo, os cartolas e autoridades vivem momentos de extrema apreensão – principalmente diante da promessa de uma grande manifestação pelas ruas da capital cearense na manhã de quarta, com previsão de trajeto até a Arena Castelão. Mesmo que os manifestantes não consigam chegar aos arredores do estádio – a área terá acesso restrito no dia do jogo -, o movimento que explodiu na segunda deverá repercutir dentro do Castelão. Muitos torcedores se organizam pelas redes sociais e já combinam formas de usar a partida para dar ainda mais impacto às reivindicações. Fala-se, por exemplo, no uso de roupas pretas no lugar das camisas da seleção – ou na intenção de cantar o hino brasileiro na íntegra, em sinal de oposição à organização do torneio, que executou só uma parte dele na abertura.

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Em entrevista coletiva concedida no hotel da seleção, em Fortaleza, o zagueiro David Luiz foi o primeiro a falar sobre o assunto publicamente, fora das redes sociais. Conhecido entre os colegas por ser um piadista, o atleta comentou o assunto de forma sóbria e coerente. “Vivo fora, mas amo meu país. Sou a favor do direito de expressão do cidadão, mas sem violência. O cidadão, se não está feliz, tem sempre o direito de se expressar. É só assim que nós vamos enxergar onde estão os erros. O brasileiro ama o seu país e é justamente por isso que as manifestações estão acontecendo.” O atacante Hulk também falou – e foi além, dizendo que gostaria de se juntar às manifestações. “É lógico que, por eu vir de baixo, bate uma vontade. Precisamos dar ouvidos ao manifesto. O Brasil precisa melhorar em muitas coisas. Sentimos e sabemos que é verdade o que eles dizem”, afirmou o jogador, que é paraibano e hoje mora na Rússia. Além deles, atletas como Daniel Alves e Dante usaram o Twitter para elogiar os manifestantes. No início da noite de segunda, um grupo de manifestantes foi até a entrada do hotel da seleção na capital cearense com faixas e palavras de ordem contrárias aos altos investimentos públicos consumidos pela realização da Copa das Confederações deste ano e do Mundial do ano que vem. Nenhum deles vaiou a seleção ou colocou a equipe na mira do protesto, que foi pacífico e se dispersou sem nenhum conflito, pouco antes das 21 horas.

‘Aplausos’ – Entre os dirigentes da Fifa, o discurso foi difuso. O primeiro a falar foi o coordenador de Responsabilidade Social da entidade, Federico Addiechi, participante do briefing diário da Copa das Confederações. Ele fez uma surpreendente defesa dos protestos, mesmo com o risco de que eles roubem atenção dos jogos da competição, como já aconteceu na abertura, em Brasília, no jogo entre Itália e México, no Rio, e no duelo entre Taiti e Nigéria, em Belo Horizonte – quando, aliás, o público pagante, cerca de 20.000 pessoas, foi menor do que a multidão concentrada nas ruas da capital mineira. “Sou cidadão argentino, suíço e italiano. Cresci na Argentina numa época de ditatura, quando ninguém podia mostrar sua insatisfação. Portanto, vejo essas manifestações no país como sendo muito boas. Mesmo elas ocorrendo agora, merecem aplausos, pois é algo positivo. Eu desaprovo qualquer tipo de violência, mas as manifestações democráticas são definitivamente bem-vindas.” Pouco depois, no Rio de Janeiro, o presidente da entidade, Joseph Blatter, mostrou que a posição oficial da Fifa não é bem essa. “Teremos uma competição muito boa. Tenho a esperança de que essa manifestações populares vão acabar”, disse, claramente preocupado com o impacto das manifestações sobre a avaliação final do sucesso do torneio.

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Nos bastidores, a Fifa se mostra assustada e alarmada com as manifestações, principalmente aquelas ocorridas nos dias de jogos, no entorno dos estádios. Na segunda, Blatter já tinha criticado os protestos, dizendo que os participantes estão pegando carona na importância do evento. “Eu sei um pouco sobre os protestos que acontecem aqui. As pessoas estão usando o futebol como plataforma e aproveitando a presença da imprensa estrangeira para fazer certas demonstrações.” Em seguida, fez uma previsão desastrada: “Vocês vão ver que hoje, que é o terceiro dia de competição, isso vai se acalmar. Vai ser uma competição maravilhosa”, apostou, horas antes da realização dos maiores atos públicos ocorridos no país em mais de duas décadas. Se a torcida resolver aproveitar a partida de quarta para se manifestar contra as autoridades, a Fifa ficará em situação delicada. O guia de conduta do torcedor portador de ingresso para as partidas da Copa das Confederações afirma que qualquer tipo de manifestação de cunho político e ideológico é vetada nos estádios. Faixas e cartazes, por exemplo, são proibidos. Resta saber se, diante do possível desgaste que terá com o público presente ao estádio caso atue para abafar algum tipo de protesto, a Fifa decidirá flexibilizar a regra, evitando cultivar uma antipatia maior entre os brasileiros.

Copa das Confederações
Copa das Confederações VEJA
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