Publicidade
Publicidade

Pela regra, brasileiro poderia usar prótese 3,5 cm mais alta

Pistorius reclamou sem razão: campeão Fonteles tem prótese legal e teve de dar mais passadas para vencer. Comitê espera que a polêmica não manche a vitória

Vítima de uma infecção que forçou a amputação de suas duas pernas quando tinha apenas 21 dias de vida, Alan Fonteles trocou Belém por São Paulo, há cerca de um ano, para receber um treinamento mais adequado. Foi quando seus treinadores constataram que ele deveria usar uma prótese maior

Ao reclamar publicamente do desempenho do brasileiro Alan Fonteles, medalha de ouro nos 200 metros categoria T44 nos Jogos Paralímpicos de Londres, no domingo, o sul-africano Oscar Pistorius, o grande astro do evento, acabou despertando uma acirrada polêmica em torno do tamanho das próteses usadas pelos velocistas amputados. As queixas contra o rival que o derrotou tiveram, porém, um efeito bem diferente do que Pistorius previa. Ao chamar atenção para o assunto, o atleta-símbolo do esporte paralímpico só ajudou a afastar as dúvidas sobre a legalidade da vitória do brasileiro. Pela regra estabelecida pelo Comitê Paralímpico Internacional (CPI), Fonteles poderia usar uma prótese ainda maior, e ainda assim estaria dentro do regulamento. Pistorius classificou a prova de “ridícula” por achar que o brasileiro levou vantagem em função da extensão das lâminas. O atleta, que mede 1,77 metro em suas próteses para uso diário, fica com 1,81 metro com suas novas próteses de corrida, recebidas apenas três semanas antes dos Jogos de Londres. As regras do CPI permitem que ele corra com próteses até 3,5 centímetros mais altas.

Publicidade

VEJA nas Olimpíadas: Pistorius, de herói olímpico a vilão paralímpico

A final dos 200 metros

Pistorius largou na frente e abriu boa vantagem. A recuperação espetacular do brasileiro na reta final fez o atleta sul-africano falar em ‘disputa desigual’

O tamanho das próteses usadas pelos corredores paralímpicos é determinado por um cálculo que leva em conta as dimensões do resto do corpo do atleta. A ideia é manter as próteses proporcionais ao tamanho do corredor. Pistorius, por exemplo, corre com próteses que o deixam com 1,84 metro, o limite permitido para que ele participe de provas convencionais, como a própria Olimpíada de Londres. Pelo regulamento, porém, o sul-africano poderia subir para até 1,93 metro. Depois de sofrer a primeira derrota de sua carreira nos 200 metros em Londres, Pistorius afirmou que o brasileiro campeão tinha entrado para a prova com próteses altas demais, o que o beneficiaria por permitir que ele cumprisse o percurso com um número menor de passadas. Mas ele errou não apenas no seu ataque ao rival, que cumpriu o regulamento, como também no argumento usado para apontar a possível distorção na prova – ao contrário do que disse o sul-africano, Alan Fonteles precisou de mais passadas para completar o percurso. Foram 98, sendo 52 na curva e 46 na reta. Pistorius fez os 200 metros em 92 passadas (49 na curva, 43 na reta). O brasileiro, portanto, precisou ser muito mais rápido em suas passadas para compensar a desvantagem.

Publicidade

Galeria de fotos: As melhores cenas dos Jogos Paralímpicos de 2012

Vítima de uma infecção que forçou a amputação de suas duas pernas quando tinha apenas 21 dias de vida, Alan Fonteles trocou sua cidade natal, Belém, por São Paulo, há cerca de um ano, para receber um treinamento mais adequado. Foi em São Paulo que seus treinadores constataram que ele deveria usar uma prótese maior – as lâminas que usava antes tinham sido confeccionadas em função das dimensões de seu corpo quando ele tinha 17 anos (hoje ele tem 20). O brasileiro conta que tentou usar as próteses mais altas pela primeira vez no ano passado, mas não conseguiu se adaptar. “Decidi tentar de novo no início deste ano e foi um pouco melhor. Há três semanas, decidimos disputar a Paralimpíada com elas”, contou, em entrevista ao jornal britânico The Guardian. “As próteses não correm sozinhas.” Antes de marcar os 21s45 que garantiram o ouro em Londres, Fonteles tinha como melhor tempo 22s45. Seus treinadores dizem que esse salto em seu desempenho é resultado das melhores condições de treinamento em São Paulo, além do fato de ele ter evoluído fisicamente nos últimos meses. O comitê paralímpico já disse que espera que as críticas de Pistorius não tirem o brilho da vitória do brasileiro. “Alan já era conhecido. Ele é um ótimo atleta e sua vitória não foi uma surpresa”, avisou o porta-voz Craig Spence.

Continua após a publicidade

Publicidade