“Amigos do futebol, onde está o respeito, onde está o fair play?”, perguntou Blatter, defendendo Dilma. Foi o que faltava para a provocação às autoridades ficar ainda mais barulhenta
A primeira grande vaia da Copa das Confederações não foi motivada por um chute bisonho ou uma falta violenta. A torcida presente ao Estádio Nacional de Brasília neste sábado se uniu em coro para provocar a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Sentados na tribuna, eles apareceram nos telões do estádio quando as delegações de Brasil e Japão já estavam perfiladas no gramado. Com o microfone em mãos, Blatter, que já estava na mira do torcedor, começou a discursar em português. Enquanto isso, Dilma não conseguia esconder sua insatisfação. Quando Blatter anunciou a presidente, a vaia ficou ainda mais alta. Os dois trocaram um olhar de decepção e Blatter voltou a falar, reclamando do comportamento do torcedor brasileiro: “Amigos do futebol, onde está o respeito, onde está o fair play?”, perguntou. Foi o que faltava para a provocação às autoridades ficar ainda mais barulhenta. Dilma, claramente irritada, se apressou a ler a frase que estava em seu roteiro, declarando aberta a Copa das Confederações no Brasil. A torcida só voltou a vibrar ao voltar sua atenção para a equipe do técnico Luiz Felipe Scolari. Se havia algum temor em relação a uma possível hostilidade contra os jogadores, ele logo desapareceu: a torcida aplaudiu muito a equipe nos minutos que antecederam o início do jogo.
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A partida foi precedida de uma breve cerimônia de abertura do torneio. Com menos de meia hora de duração, a festa foi simples e previsível, mas agradou à torcida – que aplaudiu bastante as coreografias formadas no campo com adereços brancos e verdes, montando expressões como “bem vindos” e “Brasil 2013”, em português e inglês. Em seguida, um grupo de baianas e outros dançarinos vestidos com trajes típicos do Brasil se espalharam pelo gramado, cercando uma representação do mapa do país. A parte final da cerimônia contou com a participação de dezenas de voluntários que representavam cada seleção inscrita no torneio. Trajados com roupas tradiconais de Uruguai, Espanha, Itália, Taiti, México, Japão e Nigéria, eles prestaram homenagem aos convidados da festa. O clima leve e tranquilo dentro do estádio nos momentos que antecederam o jogo contrastaram com a tensão sentida nos arredores do palco da abertura no início da tarde. Uma manifestação contra a corrupção e o uso de verbas públicas nas caríssimas obras do Mundial de 2014 provocou tumulto no Eixo Monumental, perto da entrada principal da arena. No começo, a polícia evitou o confronto com os manifestantes; mais perto do jogo, os agentes de segurança usaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
Apesar de assustados, os torcedores que tinham ingressos chegaram sem grandes sobressaltos ao estádio. Quem ainda não havia retirado sua entrada nos postos da Fifa precisou enfrentar longas filas para conseguir seu bilhete. A organização do evento tanto dentro como fora da arena, porém, seguiu o padrão usual da Fifa, com presença maciça de voluntários, orientadores e seguranças para atender ao torcedor. Barracas montadas pelos patrocinadores da Fifa distraíam quem decidiu chegar cedo ao estádio – como ele tem boa localização, bem próxima dos setores hoteleiros de Brasília, nem mesmo as restrições ao tráfego de veículos nos arredores foi um problema. Boa parte do público veio a pé. Na parte interna, enquanto a partida não começava, os torcedores tiveram de enfrentar longas filas nos bares e lanchonetes, que vendiam um cachorro quente pequeno por 8 reais, saquinho de batatas fritas por 7 reais e garrafas d’água ou refrigerantes por 6 reais. Os preços não foram a única queixa: antes mesmo da partida começar, o estoque de vários itens nas lanchonetes foi esvaziado, deixando muitos torcedores sem alternativas para matar a fome. Mesmo com eventuais percalços e decepções, o torcedor, no geral, parece ter aprovado a experiência de ver um evento de padrão Fifa em sua cidade.