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Nicolelis: em um lance de Pelé, o símbolo da genialidade

Em artigo para a revista Placar, neurocientista relembra jogada do camisa 10 em um Brasil x Inglaterra no Maracanã – e tenta explicar brilho do supercraque

De todos os malabarismos e desafios à lógica que eu presenciei Pelé fazer em campo, a característica que mais me marcou foi verificar, jogo após jogo, como a bola parecia, sem hesitação, grudar em seus pés e, dali para a frente, se recusar a se separar daquele que a tratava como ninguém mais era capaz. Curiosamente, anos depois, um dia eu deparei com uma gravação realizada pela rádio inglesa BBC durante um amistoso Brasil x Inglaterra, disputado no Maracanã, em 30 de maio de 1964. Durante aquele verdadeiro massacre futebolístico (5 x 1) imposto pelos então bicampeões mundiais aos futuros campeões do mundo, o lance do primeiro gol brasileiro desnorteou o locutor da BBC a ponto de levá-lo a dizer que Pelé realmente não devia ser deste universo.

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Nesse lance, depois de driblar vários ingleses, Pelé tenta o chute ao gol. Caprichosamente, a bola bate num defensor e retorna. Para onde? Ora, para o mesmo pé de Pelé, que, imediatamente, para desespero do locutor britânico, coloca Rinaldo (então ponta-esquerda do Palmeiras) na cara do gol. Mais tarde, Pelé daria outro passe de gênio para que o ícone alviverde Julinho Botelho marcasse mais um gol para o Brasil. Segundo o locutor da BBC, todas essas jogadas fenomenais refletiam o fato inegável de que “a bola não larga do pé de Pelé simplesmente porque ela faz parte dele!”

Meio século depois daquele jogo histórico, em todas as minhas palestras pelo mundo afora, é esse o exemplo que uso para descrever como nosso cérebro de primata assimila todas as ferramentas que cada um de nós utiliza no cotidiano – nossos carros, nossos telefones, nossas roupas, raquetes, bolas etc. – como uma verdadeira extensão do nosso corpo biológico. Levado ao limite da sua capacidade de assimilação, nosso cérebro permite que alguns de nós atinjamos graus impressionantes de proficiência no manuseio de ferramentas artificiais e objetos inanimados. Muito provavelmente é dessa voracidade cerebral em assimilar tudo ao seu redor que emergem os exímios violinistas, pianistas e também os craques de futebol, esses heróis populares que nos permitem manter por toda uma vida, ainda que tenuamente, laços quase imemoriais com nossa infância e juventude.

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Leia o artigo completo no site da revista Placar

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