Funcionária demitida do Rio 2016 afirma que cumpria ordens do chefe
Renata Santiago diz que arquivos foram solicitados por superiores diretos, a partir do Rio, e avisa que pretende processar o comitê. Dados foram enviados a partir de email corporativo da Londres 2012
Ao ser demitida do Comitê Rio 2016, Renata Santiago foi obrigada a sair escoltada da sede do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, na Barra da Tijuca, em direção à sua sala, num anexo no shopping Cittá América, localizado do outro lado da rua. Entregou laptop, celular e cartão de estacionamento da empresa. Não pôde salvar seus contatos pessoais. “A pessoa que me acompanhou ainda entrou no meu carro e saiu comigo do prédio, pois eu já não tinha mais o cartão do estacionamento”, conta ela. Renata foi uma das dez pessoas demitidas do Comitê Rio 2016 sob acusação de furto de documentos e arquivos do Locog (Comitê Londres 2012), ocorrido durante os Jogos Olímpicos. Ela nega que tenha cometido crime ou qualquer irregularidade. E afirma que seu chefe direto, Mário Cilenti, diretor de relações com os comitês de serviços dos Jogos e de Vila Olímpica da Rio 2016, não só sabia como requisitou um dos arquivos.
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“Ele me pediu para enviar a ele a apresentação que o Locog (Comitê Londres 2012) fez para a ACNO (Associação dos Comitês Nacionais Olímpicos), para comparar com o que ele estava fazendo. Sei que, entre os outros demitidos, ao menos uma também fez isso com orientação da chefe dela, que é de outra área. Outros mandaram esses arquivos pelo próprio e-mail do Locog, que recebemos enquanto estávamos lá”, conta ela. “Depois, ele me demitiu, acompanhado de uma mulher do RH. (Cilenti) estava com lágrimas nos olhos e me disse que a decisão veio de cima e que ele não podia fazer nada.
Renata insiste que não fez nada de errado. Descobriu depois que o contrato de 30 páginas em inglês que ela assinou incluía uma cláusula de confidencialidade, segundo a qual ela não poderia nem mesmo falar sobre o que viu, leu ou ouviu no Locog. “Quem analisou o documento foi a área jurídica da Rio 2016, e eles me mandaram assinar dizendo que era um contrato comum. Não houve nenhum tipo de orientação. Além disso, para que ir para lá se depois não poderíamos nem falar? Tínhamos que preencher um relatório para a Rio 2016 quando voltássemos, e nesse relatório havia um campo específico para discriminarmos os arquivos e fotos trazidos. Se não podíamos trazer nada, para que existia esse campo? Isso é tudo muito contraditório”, desabafa, lembrando que tinha uma senha fornecida pelo próprio Locog para acessar esses arquivos: “Nenhum deles era confidencial, ou eu não teria senha de acesso a eles”, argumenta.
Renata mandou uma carta ao presidente do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, a quem conhece há 12 anos, desde que chegou ao COB – onde trabalhou antes de ir para o Comitê Rio 2016. Quando percebeu não iria receber nenhuma resposta do dirigente, procurou o jornalista Juca Kfouri, que publicou a carta em seu blog. Agora, pretende entrar com uma ação por danos morais contra o Comitê. “Mas não vai ser ação conjunta, porque não sei o que os outros fizeram. Acho até que alguém pode ter realmente copiado algo confidencial, e para apagar o incêndio resolveram demitir todo mundo. Não sei, só imagino. Prefiro responder só por mim. Mas não entendo que ninguém mais tenha ido a público, gostaria que todos se manifestassem. Fico horrorizada que deixem dessa forma, é o nosso nome que está em jogo. A única coisa que sei é que os chefes sabiam que estávamos copiando arquivos, e que nós não sabíamos que estávamos fazendo algo errado. Não fiz nada errado”.