Espanha faz 10 a 0. E o Taiti faz a festa com torcida no Rio
No Maracanã lotado, os amadores lutaram, se divertiram e fizeram a alegria do público. Os campeões mundiais, com equipe reserva, foram só coadjuvantes
Visivelmente emocionados, os taitianos homenagearam os campeões mundiais oferecendo amuletos típicos na hora dos cumprimentos, logo depois da execução dos hinos. Ao longo do jogo, mostraram também que estavam se divertindo como nunca
Como já era de se prever, não foi o melhor jogo da Copa das Confederações – mas foi, sem dúvida alguma, o mais surreal (e o mais engraçado). A Espanha cumpriu sua obrigação, de maneira fria e protocolar, e goleou o fragilíssimo Taiti, nesta quinta-feira, no Estádio do Maracanã. Foram inapeláveis 10 a 0, com gols de Fernando Torres (quatro vezes), David Villa (três), David Silva (duas) e Juan Mata. Mas a equipe que deixou o campo mais satisfeita, pelo menos sob o aspecto da moral dos atletas, foi a representante da Oceania. Os taitianos viveram um sonho no Rio de Janeiro: jogando num estádio lendário, com as cadeiras praticamente lotadas, contra a atual campeã da Europa e do mundo, o time do técnico Eddy Etaeta foi ovacionado pela torcida, que aplaudiu animadamente os esforços dos azarões do torneio. Antes da partida, os taitianos diziam que, para eles, a vitória seria perder por menos de dois dígitos. Não foi possível: o décimo e último gol espanhol saiu no minuto derradeiro do jogo. Ainda assim, os taitianos aproveitaram ao máximo a inédita experiência – assim como a torcida, que se divertiu durante os 90 minutos apoiando a zebra da Polinésia Francesa, alfinetando os espanhóis com vaias e provocações e sorrindo com as reações cômicas dos improváveis heróis taitianos, que vibravam com cada passe certo, cada desarme bem feito e cada chance desperdiçada pelos europeus.
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Reservas burocráticos – Reina; Monreal, Sergio Ramos, Raúl Albiol e Azpilicueta; Javi Martínez, Santi Cazorla, David Silva e Juan Mata; David Villa e Fernando Torres. Com um time formado exclusivamente por atletas de sete grandes clubes europeus (Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Chelsea, Arsenal, Liverpool e Manchester City), a Espanha levou a campo o que pode ser considerado o melhor time de reservas do planeta. A equipe escalada nesta quinta pelo técnico Vicente Del Bosque (que decidiu poupar os titulares por causa do cansaço do elenco, em fim de temporada europeia) seria páreo duríssimo para qualquer seleção do mundo – inclusive para o time titular, favorito à conquista do título da Copa das Confederações, junto com o Brasil e a Itália. Ainda assim, quem veio ao estádio para ver os craques do elenco que faturou o último Mundial (essa era a intenção da enorme maioria do público, como se notou pelo predomínio de camisetas vermelhas da Fúria no Maracanã) se decepcionou: com Casillas, Piqué, Xavi, Iniesta e Fábregas no banco (os dois últimos acabaram entrando no fim), a formação que veio a campo no Maracanã praticou um futebol burocrático e sem inspiração – muito em função, evidentemente, da falta de motivação para o duelo contra os taitianos, que já haviam perdido por 6 a 1 da Nigéria na estreia. A Espanha, que já tinha passado por seu principal desafio na primeira fase, batendo o Uruguai, tinha a impopular missão de destroçar os limitadíssimos oponentes.
Espanha 10 x 0 Taiti: Confira as estatísticas completas e os principais lances do jogo
Para os taitianos, no entanto, foi o jogo mais importante de suas carreiras – o que se refletiu claramente no esforço descomunal dos humildes atletas da equipe ao marcar os espanhóis e tentar impedir que a goleada fosse ainda maior. Visivelmente emocionados, os taitianos homenagearam os campeões mundiais oferecendo amuletos típicos na hora dos cumprimentos, logo depois da execução dos hinos. Ao longo do jogo, mostraram também que estavam se divertindo como nunca: o goleiro Roche, por exemplo, foi o grande personagem do jogo, alternando falhas bisonhas e comemorações esfuziantes a cada defesa que conseguia fazer. A torcida, é claro, foi ao delírio com o jogo em clima de pelada sem compromisso: teve “olé” para as raras trocas de passes que não eram interceptadas pela marcação espanhola, comemoração digna de conquista de título quando Torres desperdiçou uma cobrança de pênalti e insistentes coros por uma impossível reação taitiana – o placar só crescia, mas o público não se cansava de cantar “vamos virar, Taiti”. Os espanhóis encararam a situação com relativo bom humor – ninguém aparentou irritação com as vaias aos gols da equipe (nem com as provocações da torcida brasileira sobre um possível duelo com os pentacampeões na semifinal ou na decisão, no próprio Maracanã).
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Nos minutos finais, o Taiti se lançou todo à frente para tentar um improvável gol de honra, que acabou não saindo. Não importou: em mais uma manifestação exemplar de fair play, os taitianos fizeram um corredor na linha do meio-campo para cumprimentar todos os atletas espanhóis. Com os europeus já nos vestiários, o time de amadores foi aplaudido de pé pelo Maracanã inteiro, no que certamente foi o auge da carreira de todos os atletas da equipe. O próximo (e último) compromisso dos polinésios no Brasil está marcado para domingo, contra o Uruguai, na Arena Pernambuco. Já eliminados, eles farão sua despedida do torneio, em que já tinham sido empurrados pelo público local na estreia, em Belo Horizonte. Já os espanhóis seguem para Fortaleza, onde encaram a Nigéria no fechamento do Grupo B, também no domingo. Uruguaios e nigerianos jogam ainda nesta quinta, em Salvador, numa partida que deve interessar bastante aos brasileiros – quem ganhar fica muito perto de avançar às semifinais. Se o Brasil confirmar o primeiro lugar de seu grupo contra a Itália, no sábado, na Arena Fonte Nova, deve encarar justamente essa seleção num duelo marcado para quarta-feira, no Mineirão. A outra semifinal acontece na quinta, na Arena Castelão, entre o vencedor do Grupo B (provavelmente a Espanha) e o segundo colocado do Grupo A.