Cidade olímpica maltrata candidatos a medalhas em 2016
A pouco mais de três anos para os Jogos, Rio de Janeiro fecha vários locais de treinamento e dificulta a vida dos atletas, que não terão a preparação adequada
“É muita hipocrisia querer sediar Olimpíada e não dar a menor condição para os atletas se prepararem. O resultado não virá desse jeito”, diz Bruna Martins, do ciclismo
Na noite desta segunda-feira, o Rio de Janeiro reunirá alguns dos maiores atletas da história na cerimônia de entrega do prêmio Laureus, conhecido como o Oscar do esporte. O Brasil tem três indicados – dois paulistas (Neymar e Daniel Dias) e um paraense (Alan Fonteles). Se depender do tratamento que vem sendo dispensado aos esportistas que moram na cidade olímpica, a chance de o Rio emplacar um de seus atletas nas próximas edições da premiação é pequena. A pouco mais de três anos para a abertura da primeira edição dos Jogos na América do Sul, os atletas radicados na cidade não conquistam novos espaços para treinar para 2016. Muito pelo contrário: num intervalo de poucos meses, algumas das principais instalações de treinamento esportivo do Rio fecharam as portas, deixando os atletas órfãos – e prejudicando de forma dramática os preparativos desses candidatos a medalhas olímpicas. Entre as modalidades afetadas estão o judô, a natação, a ginástica e o atletismo – as maiores fontes de medalhas para o Brasil nos últimos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Maltratados na cidade que está gastando bilhões de reais para receber a Olimpíada, esses atletas agora esperam que as promessas sobre a construç��o de novos locais de treinamento sejam concretizadas – de preferência, rapidamente, já que falta relativamente pouco para o início dos Jogos.
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o incêndio no ginásio do clube
A pista está sendo desmontada e a estrutura ao seu redor será demolida, já que o local não atenderia todas as exigências necessárias para receber as provas de ciclismo da Olimpíada. Um novo velódromo será construído na cidade, mas não a tempo de servir de local de preparação para 2016. “A gente vai passar a treinar na rua. Mas o ciclismo de velocidade e o de estrada são dois esportes totalmente diferentes. A gente vai ter que viajar para não perder muito contato com a pista. Vai ser horrível”, disse Bruna Martins, de 19 anos, promessa da modalidade, em entrevista concedida ao site Globoesporte por ocasião do fechamento do velódromo. “É muita hipocrisia querer sediar Olimpíada e não dar a menor condição para os atletas se prepararem. O resultado não virá desse jeito. Eles só podiam mexer nesse velódromo quando houvesse um novo pronto.” A pista do Pan deverá ser reconstruída em Goiânia. Outros atletas prejudicados pelo fechamento das instalações também estão sendo remanejados para outros estados, como Minas Gerais e São Paulo. Além dos ginastas, judocas e ciclistas, representantes do atletismo e da natação também estão de malas prontas – e sem um novo lugar para ir.
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Em função das obras no complexo do Maracanã (que, ironicamente, será o palco da abertura e do encerramento dos Jogos de 2016), duas das principais instalações esportivas da cidade, o estádio de atletismo Célio de Barros e o parque aquático Júlio Delamare, também serão desmontadas. O Célio de Barros já não funciona mais – virou parte do canteiro de obras do Maracanã. O Júlio Delamare, que também foi reformado para o Pan e também deixará de existir, não tem data para fechar, mas sua demolição é considerada irreversível – o edital de concessão do Maracanã prevê a construção de estacionamentos, lojas, restaurantes e um museu do futebol no local. Quem ganhar a disputa para gerenciar o estádio terá de assumir o compromisso de construir novos centros esportivos de natação e atletismo perto do complexo, reparando o problema criado pelo desaparecimento do Célio de Barros e do Júlio Delamare. Assim como no caso do ciclismo, porém, essas novas instalações podem acabar ficando prontas apenas às vésperas dos Jogos – quando já será tarde demais para auxiliar na preparação dos nossos atletas olímpicos.