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Os bares do Estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista (SP), ostentam uma novidade discreta no cardápio. O tradicional sanduíche de linguiça, espécie de patrimônio cultural da cidade localizada a 80 km da capital, agora vem acompanhado de uma latinha de energético. É a simbologia perfeita para esta nova fase do Bragantino, tradicional clube do interior que retorna à primeira divisão do Campeonato Brasileiro depois de 22 anos de ausência. Impulsionado pela nova parceira, a multinacional Red Bull, o time conquistou o acesso na última terça-feira ao bater o Guarani por 3 a 1, com cinco rodadas de antecipação.
O objetivo da empresa austríaca de bebidas é repetir em Bragança o sucesso que obteve em clubes de outros países. Para o próximo ano, o projeto do clube-empresa ganhará modificações significativas: a partir de 2020, o time trocará oficialmente de nome – será o Red Bull Bragantino –, terá um novo escudo e até um uniforme na cor vermelha. Seriam essas novidades um tapa na cara da tradição ou um passo natural para salvar o futebol caipira? A discussão promete fazer barulho na próxima temporada, bem como o time dentro de campo, ainda mais depois da injeção de 200 milhões de reais em investimentos para tentar surpreender os gigantes da Série A.
A ideia de unir forças partiu do próprio Bragantino. Alertado durante um jantar com um amigo de que a Red Bull buscava um novo clube para investir – a empresa apoiava um clube sediado em Jarinu (SP) –, o presidente Marquinhos Chedid decidiu ligar para Thiago Scuro, diretor-executivo do Red Bull Brasil. “Resolvemos tudo num almoço de duas horas. Eles fizeram duas ou três exigências, eu também, e chegamos a um acordo”, conta o cartola. Marquinhos Chedid, empresário e ex-deputado federal de 61 anos, é filho de Nabi Abi Chedid (1932-2006), o controverso dirigente que chegou a ser vice-presidente da CBF e comandou o Braga em seus tempos de glória: na conquista do Paulistão de 1990 e do vice-campeonato do Brasileirão no ano seguinte. “Horas antes de falecer, meu pai me fez um único pedido: não deixe o Bragantino morrer”, contou Marquinhos. Uma de suas exigências feitas à empresa foi manter o estádio com o nome original.
O time dirigido pelo ex-zagueiro Antônio Carlos Zago, que chegou a 65 pontos em 33 rodadas, aposta na mescla entre atletas experientes, como o goleiro Júlio César, ex-Corinthians, e o jovem meia Claudinho, de 22 anos, destaque do time e já cobiçado por grandes do futebol nacional. “Idade não importa, nosso pilar para montar o elenco é o processo de scouting e recrutamento. Aqui não existe 'contratação do diretor', é uma decisão compartilhada, fruto do trabalho de diversos profissionais que buscam estatísticas e informações sobre o comportamento pessoal do atleta. Queremos atletas que atendam nossas necessidades e sejam homens interessados e trabalhadores”, afirma o CEO Thiago Scuro.
A parceria segue os moldes das empreitadas de sucesso da Red Bull em Salzburgo, na Áustria, e Leipzig, na Alemanha – ambos os clubes disputam atualmente a Liga dos Campeões da Europa. Os gestores da empresa têm total autonomia para tocar o futebol, enquanto Marquinhos Chedid toma a frente em compromissos mais institucionais, como a relação com federações e imprensa. Na partida da última terça-feira 5, contra o Guarani, ele assumiu também o papel incendiário de pressionar a arbitragem no intervalo. Ele chegou a discutir com funcionários do próprio clube que tentavam contê-lo, aos berros de “aqui quem manda sou eu.” Já não é bem assim e será menos ainda em 2020.