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Pupilo de Cruyff, técnico do Panamá quer ser ‘novo Marrocos’

Dinamarquês Thomas Christiansen usa ensinos de craque holandês e inspiração da zebra do últmo Mundial para guiar a sensação da Copa América

PHOENIX (EUA) – Thomas Christiansen, 51 anos, é um daqueles figurões do futebol. Natural de Hadsund, na Dinamarca, mas de origem espanhola, mudou-se com apenas 17 anos para Barcelona para terminar a sua formação no principal clube da Catalunha. Fala de forma fluente a língua e ri a todo tempo. Na entrevista concedida após a surpreendente classificação do Panamá às quartas de final da Copa América, questionado se preferia enfrentar Brasil ou Colômbia, a resposta não foi nada protocolar: “nenhum deles”, acompanhado de sonora gargalhada.

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“Temos que aproveitar, estamos aqui por méritos próprios. O mais importante é chegar bem para essa partida”, completou na mesma ocasião.

Técnico da sensação desta Copa América desde 2020, Christiansen carrega como maior influência o lendário craque holandês Johan Cruyff, de quem conta ter tirado lições que leva até hoje durante a passagem pela Catalunha. Além de jogador, Cruyff dirigiu o clube de 1988 a 1996.

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“Vocês não imaginam o quão avançado e diferente era [Cruyff]. Com o tempo e todo esse conhecimento, você entende aquilo que procura. E esse tipo de metologia é o que tento implementar no Panamá”, disse, em outra entrevista, em março deste ano, durante a disputa da Liga das Nações da Concacaf.

No Barça, além de Cruyff, também foi fundamental para a carreira como treinador a proximidade com Quique Costas, a quem chama de “segundo pai”. Costas foi considerado o melhor treinador da história do Barcelona B, formador de incontáveis talentos na história clube.

Apesar da surpreende campanha, a ideia principal do treinador é fazer com que a seleção panamenha volte a disputar uma Copa do Mundo, até agora restrita a uma solitária participação em 2018, quando perdeu todos os jogos. Ele está conseguindo ainda mais: já incomoda as principais forças da América.

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Na competição continental, venceu por 2 a 1 os Estados Unidos, anfitriões do torneio, sem se abalar após sair perdendo no confronto disputado em Atlanta. Depois, confirmaram a classificação diante dos bolivianos.

“Antes de deixar o Panamá, quando viajamos para os Estados Unidos, disse que gostaria de ser uma surpresa como o Marrocos na Copa do Mundo. Passarmos à segunda fase e isso me deixa contente… super contente (risos). Reflete o que somos como equipe, o que temos jogado para estar aqui. São muitos dias, muita convivência e agora é o momento para desfrutrar. Contudo, ainda podemos fazer mais um esforço para a próxima partida”, afirmou o treinador.

No último Mundial, o Marrocos surpreendeu não só com a classificação entre os 16 melhores, como ao avançar até as semifinais eliminando potências como Espanha e Portugal pelo caminho.

Achraf Hakimi, com a camisa 2, fez o gol decisivo de Marrocos contra a Espanha, em 2022 - Foto: EFE/EPA/Mohamed Messara
Hakimi (com a camisa 2) comemora gol contra a Espanha na Copa – Mohamed Messara/EFE

Para a competição, o Christiansen precisou superar alguns problemas. O principal deles o fato de não poder contar com o zagueiro e capitão Aníbal Godoy, do Nashville, da MLS, que sofreu uma lesão grau dois no músculo reto femoral esquerdo.

“Seria mais fácil me fazer de vítima. Dizer que tivemos muitas lesões, muitas baixas e que por isso não nos classificamos, mas nos comportamos de outra maneira. Demos oportunidade a jogadores jovens e estamos crescendo com esse trabalho. Estou super orgulhoso de todos”, argumentou.

Christensen é movido a desafios. Deixou a Europa após passagens por Leeds United e Union St. Gilloise, da Bélgica, para aceitar o cargo em país pouco conhecido para ele em meio ao agravamento de casos de Covid-19. Só conheceu pessoalmente os jogadores após meses de contatos por vídeochamadas.

Em depoimento ao The Coache’s Voice, plataforma que publica textos em primeira pessoa de treinadores de futebol, classifica a própria empreitada como “meu maior desafio”.

Christensen abraça integrante da comissão técnica do Panamá após vitória contra os Estados Unidos - Eduardo Muñoz/AFP
Christiansen abraça integrante da comissão técnica do Panamá após vitória contra os Estados Unidos – Eduardo Muñoz/AFP

“Os futebolistas panamenhos são fisicamente fortes, tecnicamente aptos e atléticos, mas carecem de algum conhecimento de futebol de base. Este também é um dos meus desafios com a seleção nacional: desenvolver jogadores”, avaliou na ocasião.

O time se desenvolveu de fato. Fez uma histórica campanha na Liga das Nações da Concacaf do último ano, chegando à semifinal. Acabou eliminado para o México, mas foi elogiado pelas três vitórias e um empate na fase de grupos, além da goleada por 6 a 1 sobre a Costa Rica nas quartas.

Antes do ápice da carreira como treinador, que também tem passagens pelo Apoel, do Chipre, e no AEK Larnaca, da Grécia, Christensen rodou como jogador. Atuou no Barça B e depois acumulou empréstimos: Sporting Gijón, Osasuna e Racing Santander.

Já sem vínculo com o clube formador, ainda jogou no país por Real Oviedo, Villarreal e Terrassa, até a mudança para o Panionios, da Grécia, além do Herfolge, da Dinamarca. Curiosamente, foi no penúltimo desafio da carreira, próximo da aposentadoria, que atingiu o melhor momento: a artilharia da Bundesliga na temporada 2002/03 pelo Bochum, empatado em gols com o brasileiro Élber, do Bayern.

Agora, o céu é o limite. Assim como o Marrocos era um “intruso no ninho” dos 16 melhores da Copa, e terminou em quarto, ele espera continuar surpreendendo na competição continental.

Capa da PLACAR de junho - Guia da Copa América e da Euro, com Rodrygo
Guia da Copa América e da Euro, com Rodrygo na capa – Reprodução/Placar

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