De tão apaixonante, por vezes imprevisível, o futebol não ocupa hoje grande lugar na literatura esportiva ficcional. Imaginar histórias que abordam algo tão comprometido com momentos heroicos, viradas espetaculares e zebras sem precedentes foi o desafio de Mundos do Futebol – 11 contos e 1 crônica, da editora Cambalache, organizado por Rubem Barros. “Talvez o que se sinta falta, e que serviu como mote para esta coletânea, é a presença mais nítida do futebol tanto no universo ficcional como na devoção aos personagens menos aclamados pelos holofotes e pela fama”, diz à PLACAR.

O time de contistas e cronista conta com uma escalação luxuosa. A precisão jornalística de nomes como Edu Elias, Gilvan Ribeiro e Sérgio Rizzo concede espaço a uma fertilidade de ideias que não se vê no lugar onde o goleiro pisa. Agustín Lucas, Beto Furquim, Eugênio Vinci de Moraes, Flávia Castro, Inés Bortagaray, Luiz Costa Pereira Junior e Maria Guimarães completam o esquadrão, que conta ainda com o fino traço de Pedro Mendes da Rocha nas ilustrações e trabalho de Fernanda do Val na capa.

Mundos do Futebol - 11 Contos e 1 Crônica - Divulgação

Mundos do Futebol – 11 Contos e 1 Crônica – Divulgação

Junto deles, está o ponta-esquerda Fernando Sampaio. Camisa 11, o hoje economista, torcedor do Santos, se lembra de, quando criança, ainda estava descobrindo o futebol, durante a Copa de 70. Naquele tempo, morava nos EUA com o pai exilado, o político Plínio de Arruda Sampaio. Curiosamente, foi naquele país que se encontrou com Pelé anos mais tarde. Daí a crônica “Quatro encontros”, reproduzida um trecho da edição impressa número 1529 de PLACAR, já disponível em versão digital e física.

Quatro encontros

A língua que falávamos em casa era diferente da que eu ouvia quando saía com meus pais ou meus irmãos. Parecida, mas diferente, com certeza. Eu ficava encafifado. A língua que falava com meus avós e tios, em telefonemas muito, muito curtos, só pra dizer feliz aniversário, saudades, beijo!, era igual à que a gente falava em casa. Tinha de falar bem depressa porque eles moravam longe, era caro demais ficar batendo papo. Então entendi: por isso quase nunca a gente se via, só quando apareciam e passavam alguns dias em casa.