Ex-jogador paraguaio, que completa 65 anos nesta quinta, 28 de agosto, é um dos grandes ídolos da história Tricolor
É dia de festa nas Laranjeiras. O ex-jogador paraguaio Julio César Romero Insfrán, o Romerito, um dos grandes ídolos da história do Fluminense, completa 65 anos nesta quinta-feira, 28 de agosto.
O ex-meio-campista marcou época no Tricolor na década de 1980. Seu gol mais recordado, diante do Vasco, garantiu o título do Campeonato Brasileiro de 1984, e também a Bola de Prata de PLACAR daquele ano. Ao todo, Romerito disputou 214 jogos e fez 59 gols com a camisa do Fluminense entre 1984 e 1989.
Além do título brasileiro, Romerito ergueu também o bicampeonato carioca, em 1984 e 1985. Uma trajetória de gols, taças e identificação com a torcida que lhe garantiu um espaço no Time dos Sonhos do Fluminense, na edição de colecionador que abriu 2025.
Romerito deixou o Fluminense em 1989, seduzido pelo chamado de ninguém menos que o gênio Johan Cruyff, que o conhecia dos tempos em que atuaram nos Estados Unidos, para reforçar o Barcelona, da Espanha, em passagem apagada.
Romerito, jogador do Fluminense.
Pelé com Chinaglia e Romerito, no jogo de despedida de Beckenbauer pelo Cosmos.
Romerito e Branco, do Fluminense, comemorando gol com o Vasco, no jogo pelo Campeonato Carioca de 1984.
Romerito, do Fluminense, no jogo contra a Portuguesa, pela Copa Brasil.
Tato e Romerito, do Fluminense, comemorando gol contra o Vasco, no jogo pelo Campeonato Carioca de 1984.
Romerito, jogador do Fluminense.
Romerito, do Fluminense, no jogo contra o Flamengo, pelo Campeonato Carioca de 1984..
Um ano antes, em janeiro de 1988, Romerito concedeu sua mais reveladora entrevista de capa à PLACAR. Nela, falou sobre a fortuna acumulada, desafetos, apreço por um chopinho, política e muito mais.
O blog #TBT PLACAR, que toda quinta-feira recupera um tesouro de nosso acervo, reproduz abaixo, na íntegra, o texto de Milton Costa Carvalho.
Comandante do time e herói da torcida, o meia resolve continuar no Fluminense e vai à luta disposto a novas conquistas
Por: Milton Costa Carvalho
Costuma-se ouvir nas Laranjeiras que, quando Romerito está bem, todo o time se sente melhor. É um prestígio acumulado desde 28 de marco de 1984. Naquele dia, em Assunção, o jogador paraguaio estreava em campo com as cores verde, branco e grená do Fluminense. Pela TV a torcida tricolor aplaudiu ao vê-lo fulminar as redes do adversário – um combinado entre o Cerro Porteño e o Sol América – no único gol da partida. Foi um ano muito feliz para mim”, recorda Romerito.
Jogador de ótimo preparo fisico e técnico, acabou ídolo nas Laranjeiras. Desde então marcou cinquenta gols em 175 jogos. Há quem ache pouco. Os que pensam assim erram duas vezes. Primeiro, porque ele não é centroavante. E, segundo, porque muitos desses gols foram decisivos. Como o que fez contra o Vasco, na primeira partida das finais do Campeonato Brasileiro de 1984, que deu ao Flu o título da temporada. Ou quando, ao empatar com o Bangu, na decisão do título carioca de 1985, abriu o caminho para a conquista do tricampeonato.
*Trabalho muito mais na armação que na conclusão””, justifica.
Se não chega a ser um artilheiro, fica diffcil poupar-lhe elogios quanto ao empenho no gramado. O prazer de jogar e compromisso com vitórias o acompanham desde as peladas em Luque, sua cidade natal. Assíduo freqũentador de terrenos baldios, quadras de futebol de salão e campos oficiais paraguaios, Romerito acabou dividindo-se entre a bola, o primeiro ano de Economia e o emprego no Ministério da Fazenda.
Impulsionado por amigos e parentes, fez um teste no Deportivo Luqueño. Ali o Paraguai perdia um provável economista. E o futebol via o despertar do futuro craque.
Seu nome já ocupava espaço nos jornais quando viajou ao Uruguai para disputar o Campeonato Sul-Americano de Juniores de 1979. Do lado argentino, surgia o astro Diego Maradona. Do uruguaio, o talentoso Rubén Paz. Mas foi Romerito quem voltou para casa como artilheiro, com cinco gols. Pouco depois, um momento de grande emoção: a convocação para a Seleção Paraguaia e um jogo no Maracanã, que só conhecia através da imaginação. “Não perdia um Fla-Flu”, brinca, ao se lembrar do potente rádio sua casa.
Na sala, aos domingos, sintonizava em ondas curtas as emissoras cariocas inventando dribles fantásticos sob os aplausos das arquibancadas.
E, agora, lá estava ele, um garoto de 19-anos, desconhecido do público brasileiro, no estádio lotado de seus sonhos. “O pior era olhar para o lado e ver aquela Seleção Brasileira feroz'”, relembra. Uma ferocidade que começou com dois gols – um de Falcão, outro de Sócrates. E terminou amansada pelos chutes indefensáveis de Morel e do estreante Romerito – autor do gol de empate-, que acabaram deixando Brasil fora da Copa América de 1979.
Em dezembro daquele mesmo ano, Romerito trocou a pacata Luque pela exuberante Nova York. Contratado pelo Cosmos, conquistou o status de astro internacional ao lado de estrelas consagradas, como Carlos Alberto Torres, Beckenbauer, Neeskens, Chinaglia – e Pelé. “Não queria ir”, conta. “Mas meu pai argumentou que isso significava minha independência financeira. Não me arrependi.”
Foram quatro anos de viagens ao redor do mundo. Rico e famoso – entre seus bens arrolam-se terrenos e imóveis, destacando-se uma suntuosa mansão de dois andares nos arredores de Assunção -, mantém quantias que não declara depositadas em bancos paraguaios e nos Estados Unidos. Vaidoso, adora pescar dourados e surubins em sua lancha potente. Mas não sabe precisar o montante de sua fortuna. “-Meu pai é quem administra tudo”, desconversa. “Tenho mais nome e fama do que dinheiro.”
Seu jeito de ser já lhe rendeu absurdas acusações. Viciado em drogas, homossexual e alcoólatra foram algumas. “Tenho mulher e dois filhos”, dispara em sua defesa. Referindo-se com carinho à mulher Maria Alice Rosina Barreto, uma niteroiense de 25 anos, e aos dois filhos Julio César, um ano e nove meses, e Joana Felícia, recém-nascida, Romerito torna-se categórico: “É uma família exemplar. Quanto a drogas, não cheiro nem lança-perfume. Mas bebo um chopinho”.
Contraditório, diz que é liberal em relação às pessoas. “Cada um vive como bem entender”, prega. Na área dos costumes, porém, define-se como conservador. E, para o mundo, fica no meio-termo defende uma política social democrática. Se não bastasse, está entre os admiradores do general Alfredo Stroessner, que mantém o Paraguai sob uma ditadura há 33 anos.
“Meu país pode ser pobre. Mas lá não existe fome, miséria, roubos e violência”, acredita. Irritado mesmo Romerito fica apenas com o comentarista Washington Rodrigues, da Rádio Globo do Rio de Janeiro. “Ele implica com meu dinheiro e diz que só penso em beber. É um ridículo”, alfineta. “Quando fiz dois gols contra o Vasco, levantou em pleno ar a possibilidade de que eu teria jogado sob efeito de estimulantes.”
Romerito refere-se à vitória do Flu no dia 25 de outubro do ano passado, pela Copa União. Ali, quebrou um jejum de cinco meses sem marcar. Nem por isso a torcida o esqueceu. Nas Laranjeiras, aparecem diariamente ávidos compradores da camisa 7. “Ele é a grande atração da nossa caixinha”, anima-se o roupeiro Ximbica, que recolhe 500 cruzados de cada peça vendida a um fundo dos jogadores, até a divisão de final de ano.
Sinal de que, apesar do sai-não-sai da equipe, seu estigma de ídolo continua inabalável. “As grandes paixões são mesmo assim, ensina. “Vivem momentos de turbulência.” Por suas palavras e o entusiasmo nos treinos, Romerito faz prever 20 uma fase de lua-de-mel com o tricolor. Para isso contribuiu uma reunião com o presidente Fábio Egypto, há duas semanas. Nela, ficou acertado o pagamento dos salários atrasados. “Algo em torno de 7 ou 8 milhões de cruzados”, calcula.
Uma parte referente à dívida é de 1986. A do ano passado virá em parcelas, junto aos salários de 130 000 cruzados. Com a dívida escalonada, Romerito garante estar tranqüilo para pensar apenas no futebol. “O coração sempre permaneceu em campo, junto à torcida”, assegura.
Adaptado ao clima carioca, Romerito vive em um confortável apartamento no Leblon, elegante bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Ali, algumas vezes é possível ouvi-lo arriscar algumas notas em uma harpa originária de seu país. Mas só até a bola começar a rolar. Seu maior sonho é novamente dar mais uma volta olímpica com a faixa de campeão e ficar em paz com a torcida.
Depois, com certeza, irá curtir as férias e matar as saudades do Paraguai.
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