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Ronaldinho x Matthäus inspirou coluna de Falcão sobre a dura hora de parar

Em 1999, aos 38 anos, lenda alemã sofreu diante da jovem revelação do Grêmio na Copa das Confederações do México

Lothar Matthaus e Ronaldinho durante Alemanha x Brasil na Copa das Confederações de 1999
Lothar Matthaus e Ronaldinho durante Alemanha x Brasil na Copa das Confederações de 1999

Em 24 de julho de 1999, sob intenso calor no Estádio Jalisco, em Guadalajara, no México, a seleção brasileira atropelou a Alemanha por 4 a 0 em jogo válido pela Copa das Confederações. O duelo entre as potências do esporte colocou frente à frente dois meias históricos em momentos distintos de suas carreiras: Ronaldinho Gaúcho, autor de um dos gols (os outros foram de Alex, duas vezes, e Zé Roberto) e Lothar Matthäus, uma lenda do futebol alemão, campeão mundial em 1990 e eleito melhor do mundo no ano seguinte.

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Na ocasião, Matthäus tinha 38 anos e Ronaldinho 19. “Era uma disputa desigual”, definiu outro craque, Paulo Roberto Falcão, em sua coluna para a PLACAR de agosto de 1999. Intitulado “O cassino do futebol”, o texto tratava da dificuldade que os atletas enfrentam para aceitar que chegou a hora de pendurar as chuteiras e tratava de exaltar o legado do alemão, “um exemplo de craque que merecia deixar o futebol no auge, com todas as glórias, sem inspirar qualquer compaixão.”

O camisa 10 germânico ainda jogaria a Euro-2000, outra fracassada campanha da Alemanha, e trocaria o Bayern de Munique por uma temporada no New York Metro Stars, dos EUA, antes de se aposentar. Curiosamente, naquele mesmo ano de 1999, Ronaldinho fez outra estrela veterana sofrer: o volante Dunga, em seus últimos meses pelo Inter, em uma final de Gauchão contra o Grêmio.

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O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera algum tesouro de nossos arquivos, reproduz a coluna de Falcão na íntegra:

O cassino do futebol

A imagem de um jogador veterano prolongando a sua carreira lembra um apostador que está ganhando na roleta e não consegue parar de arriscar a sorte

Paulo Roberto Falcão

Difícil mesmo para um jogador de futebol é compreender o momento de parar. Outro dia vi o alemão Lothar Matthaus, com seus 38 anos, cinco Copas do Mundo, 137 jogos pela seleção de seu país, correndo atrás do garoto Ronaldinho Assis, de 19 anos. Era uma disputa desigual. Por mais coragem, experiência e talento que tivesse o alemão – e ele tem tudo isso -, não havia como suportar o sol escaldante de Guadalajara com a mesma energia do jovem brasileiro.

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A imagem que me vem à cabeça quando vejo um ídolo insistindo em prolongar a carreira é a do apostador que está ganhando no cassino e resolve arriscar mais uma parada de apostas. Quando perde, não se conforma. Acha sempre que vai conseguir recuperar e a tendência é de que se enterre cada vez mais, pois a sorte ” como o brilho numa profissão tão competitiva como o futebol ” sempre é efêmera. Não estou me referindo apenas a Matthaus, que até se mostra em boas condições para a idade que tem. Ele é só um exemplo de craque que merecia deixar o futebol no auge, com todas as glórias, sem inspirar qualquer compaixão.

Embora o futebol europeu seja mais corrido, a melhor formação atlética dos jogadores permite maior longevidade. O zagueiro Pietro Vierchowod, por exemplo, foi meu companheiro no Roma e ainda está atuando no Piacenza, com mais de 40 anos. Mas isso só é possível em posições que permitem jogar no atalho: zagueiros, volantes e, às vezes, algum atacante que não precisa se movimentar muito. Laterais e meias de ligação sentem mais rápido o peso da idade, pois são obrigados a correr o tempo todo. O meio campo, pode-se dizer, não tem atalho.

Sei que a hora de parar no esporte é tão difícil de identificar quanto o número que vai dar na roleta. Costumo, inclusive, dizer que o jogador de futebol morre duas vezes ” quando deixa a bola e quando chega efetivamente ao fim da vida. Por isso, sempre recomendo aos jovens atletas que busquem outras alternativas de vida, que não se restrinjam ao mundo do futebol, que façam amizades em outros círculos e pensem um pouquinho além dos próximos 90 minutos.

Dizem que a cabeça do jogador de futebol precisa ser um terceiro pé. Eu acho que tem que vir sempre antes dos pés. Ninguém consegue parar com absoluta tranqüilidade, pois o futebol é apaixonante, gratificante, dá retorno imediato. Porém, o profissional que aprende a transitar em outras áreas normalmente consegue administrar melhor o momento de sair de campo. Craques consagrados e ricos como Matthaus até podem retardar a aposentadoria por prazer. Duro mesmo é não poder parar por necessidade de natureza econômica. Sair do cassino devendo é uma tragédia.

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