O jogador mais odiado do Brasil: as polêmicas eleições de PLACAR
Com personalidades opostas, Marcelinho, em 2000, e Ricardinho, em 2006, foram os eleitos; pleito inicial também elegeu clubes e dirigentes mais detestados
Bem do antes do advento das redes sociais e da popularização do termo hater, o futebol e seus protagonistas já eram alvo de ódio, seja de adversários, treinadores e, claro, torcedores rivais. Há mais de duas décadas, PLACAR inaugurou o que depois de tornaria uma tendência no jornalismo esportivo: o debate em torno “do jogador mais odiado do Brasil”. Dois corintianos estamparam capas dedicadas a isso: Marcelinho Carioca, em 2000, e Ricardinho, em 2006.
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Na edição de abril de 2000, o diretor de redação Sérgio Xavier Filho detalhou as intenções da revista citando o recente casamento do editor-sênior Celso Unzelte e seu drama de ter subido ao altar bem na hora de um jogo importante – não de seu time, o Corinthians, mas do rival, Palmeiras. “Mais do que torcer, o negócio era secar o odiado rival. E é desse ódio que trata a capa de PLACAR. Um ódio tão sincero quanto a paixão pelo clube do coração. Um ódio sem violência, mas que tem a cara do futebol autêntico. E aí Marcelinho, Edmundo, Corinthians, Vasco e Eurico Miranda são campeões quando o assunto é tirar o torcedor do sério.”
A primeira eleição foi popular, nos primórdios da internet e do site da revista. Foram computados quase 10.000 votos, com ampla vantagem para Marcelinho como o atleta mais abominado pelos torcedores. O ídolo corintiano recebeu 43,1% dos votos, mais que o dobro do segundo colocado, Paulo Nunes, com 18%. Edmundo, Romário e Edilson completaram o top 5.
Também houve a eleição dos mais odiados por parte dos próprios atletas, que relutaram no início, mas acabaram dando seus veredictos com a promessa de que o voto seria secreto. Neste caso, o vascaíno Edmundo foi o “vencedor”, com 29 votos, seguido por Marcelinho, com 27. Argel e Vagner vieram na sequência, com apenas quatro.
Marcelinho, que era o atual Bola de Ouro da PLACAR, levou a eleição na esportiva. “É até bom. As torcidas me odeiam pelos gols que tenho feito contra meus adversários. É sinal de que sou temido. Eu tenho de corresponder aos torcedores do Corinthians e ser amado por eles”, disse o camisa 7, que sonhava em voltar a seleção para diminuir sua rejeição nacional.
Além da personalidade controversa dos atletas, os resultados traduziam o momento das equipes em campo: Corinthians e Vasco estavam entre as equipes mais fortes do país naquele momento e, logo, mais visados pelos rivais. Na votação popular de clube mais odiado, o alvinegro paulista levou vantagem, com 41,5% dos votos, seguido pelo rival Palmeiras, que era o atual campeão da Libertadores, com 34,3% e pelo Vasco, com 9%. Na escolha dos jogadores, o top 3 foi: Vasco, Corinthians e Flamengo.
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A bronca com o Vasco tinha outra motivação: Eurico Miranda, eleito com louvor o dirigente mais odiado do país à época pelos leitores, com 68% dos votos populares, bem à frente do segundo colocado, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, com 10,4%.
A eleição foi refeita na edição de março de 2006, desta vez apenas com 100 votos de atletas do Brasil e do exterior, e colocou o meia Ricardinho, com passagens por Paraná, Corinthians, São Paulo, Santos e seleção brasileira como o pior colega de profissão. O resultado surpreendeu a reportagem e entristeceu o pacato jogador, hoje comentarista, que concedeu entrevista sobre o tema.
Ricardinho, já veterano e prestes a retornar ao Corinthians, recebeu 25,76% dos votos válidos, à frente de Romário (10,60%) e Edmundo (4,55%). “Veja bem, comigo nunca teve nada, mas o pessoal diz que ele é muito baba-ovo de treinador, puxa-saco, fica com aquele papinho com o técnico…”, justificou um companheiro de Ricardinho na seleção, que se absteve de votar, mas ajudou a explicar a rejeição.
À época, PLACAR destacou o fato de Ricardinho ser “educado, com uma inteligência e cultura acima da média” e com “ficha limpíssima”, motivo da surpresa da eleição. A revista ainda elencou o único entrevero público de Ricardinho, justamente com seu “antecessor” no posto, Marcelinho Carioca, e suas conturbadas transferências para os rivais do Corinthians. A maioria dos depoimentos, no entanto, citavam o que ouviam falar dele. “Um amigo me disse uma vez que o Ricardinho é um safado, pilantra…e tem cara mesmo”, disse o meia de um clube carioca.
O meia canhoto foi defendido por Carlos Alberto Parreira, seu técnico no Corinthians, em 2002, e também na seleção brasileira daquela época (2003-2006). “Nunca percebi o Ricardinho puxando saco. Tanto que ele foi à Copa com o Felipão, e não por influência minha. E se for à Copa este ano comigo não vai ser por causa disso, e sim por sua qualidade como jogador.”
Ricardinho concedeu entrevista a PLACAR e admitiu incômodo com a situação. Ele justificou sua aproximação da comissão técnica pelo interesse na profissão. “Sou um cara que questiona os treinadores, principalmente na parte tática (…) Talvez por eu ser dessa forma existam essas acusações. me preocuparia se fosse algo mais sério, mais pessoal”, disse o paranaense, que tentou ser treinador após a aposentadoria e hoje trabalha como comentarista.
“Não sei quem votou e nem me interessa, mas tenho certeza que grande porcentagem desses jogadores, quando a gente trabalhava junto, vinha me perguntar: ‘Fazemos como no jogo? Desse jeito, daquele jeito?’ Ou então: ‘Precisamos discutir a premiação. Ricardo, já acertou a premiação?’ Ou seja, se beneficiavam justamente desse meu jeito de ser”, completou.
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