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Há 50 anos, o enorme coração do técnico iniciante Telê Santana

Em edição de PLACAR de 1972, o 'Fio de Esperança", já campeão brasileiro pelo Atlético-MG, chamava a atenção por sua afetuosidade nos treinos

Matéria de março de 1972 sobre Telê Santana
Matéria de março de 1972 sobre Telê Santana

“Como jogador, Telê era o Fio de Esperança. Como técnico, mostrou muito talento e o coração do tamanho de um trem”. Durante suas memoráveis passagens por seleção brasileira e São Paulo, Telê Santana (1931-2006) ficou conhecido por sua exigência com os atletas e, por vezes, levou fama de rabugento. Nos primeiros anos como técnico, no entanto, era sua afetuosidade que chamava a atenção. Em edição de março de 1972 de PLACAR, o repórter Arthur Ferreira detalhou a relação do “Fio de Esperança”, apelido que ganhou nos tempos de ídolo como ponta-direita do Fluminense, com seus comandados do Atlético Mineiro

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Telê iniciou a carreira de técnico em 1969, no Fluminense, e logo conquistou o título carioca. Mineiro de Itabirito, mudou-se no ano seguinte para o Galo e em 1971 comandou o time que ergueu o troféu do Campeonato Brasileiro. Já estava claro: o Brasil assistia ao surgimento de um fenômeno na profissão. Telê foi sinônimo de futebol vistoso, era obcecado por detalhes técnicos, e bastante disciplinador. Foi um verdadeiro professor, preocupado não apenas em ensinar fundamentos com e sem bola, mas também em orientar os atletas em sua vida particular. Há 50 anos, PLACAR deu detalhes de seus métodos.

O repórter Arthur Ferreira detalhou as várias versões de do técnico. Confira, abaixo, alguns trechos:

Telê compreensivo
Oldair chega atrasado ao treino, diz que dormiu mal porque a filha estava doente. Telê quer saber detalhes, pergunta se Oldair já chamou o médico, se a menina melhorou. Começa o treino, Oldair mostra-se preocupado. Telê autoriza:

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Vai embora, acho melhor você ficar ao lado da garota.

Telê alegre

— Meus parabéns, Spencer! Você não imagina o quanto eu torci por seu sucesso no vestibular. Estou muito satisfeito porque você passou em engenharia. 

Spencer, de cabeça raspada, calouro da Universidade Católica, agradece o interesse do técnico camarada.

Telê amigo
— Toma, Vantuir. Você foi um cara de quem me lembrei muito durante as férias, na Europa. É um canivetinho que comprei em Paris, uma lembrança simples. 

— Puxa, o senhor se lembrou de mim, lá longe. Obrigado, é a primeira vez que isso acontece comigo. (Vantuir agradece, surpreso, com lágrimas nos olhos.)

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E Telê sai distribuindo canivetes aos jogadores, chamando todo mundo de “amigos”, o que é a pura verdade.

Telê técnico

A turma está tranquila, sem problemas. Telê vai para o campo da Vila Olímpica e começa o treino, às 8h. Dá um coletivo puxado, para o treino várias vezes, corrige os defeitos, presta atenção a todos. Às 11h começa o treino especial para os goleiros, e só depois do meio-dia deixa o campo ao lado de Renato, Mazurkiewicz, Mussula e Zolini. No vestiário, conversa com o auxiliar Leo Coutinho, com o preparador físico Roberto Bastos. Fala do treino da tarde, do tratamento que o médico Haroldo Lopes da Costa receitou para Cincunegui.

— Estou satisfeito, trabalho por amor, por isso me dedico o dia inteiro ao Atlético.

Em casa, enquanto descansa, Telê vê os teipes do Atlético, lê todo o noticiário esportivo, procura estar em dia com o futebol dos adversários.

(…)

Telê crítico

O técnico está preocupado com a Taça Libertadores, o excesso de jogos. Não quer arriscar o cansaço o prestígio do título de campeão brasileiro. Aliás, prestígio muito relativo em termos internacionais. Na sua viagem, Telê constatou que o futebol brasileiro só é conhecido pela seleção brasileira e pelo Santos de Pelé: ninguém sabia do título do Atlético.

— Fui um autêntico relações públicas do clube durante a viagem. A CBD deve intensificar a propaganda do futebol brasileiro boi exterior, mas dando atenção aos clubes porque isso só beneficiaria o nosso futebol.

Numa relojoaria de Paris, havia um pôster do Atlético na vitrina (aquele publicado pelo PLACAR). Telê entrou, curioso, e ficou sabendo que o ponta-direita Ronaldo, em viagem de lua-de-mel, o havia colocado lá.

— Veja o absurdo: se alguém ligado ao clube não o promove, ninguém mais o faz. Precisamos abrir novos mercados para nós. 

(…)

— Telê tem no seu tratamento igual e humano a base da grande amizade que conquistou no Atlético. Todos procuram trabalhar bem, com alegria, porque não querem desagradar ao técnico e amigo. Temos 32 jogadores e todos gostam dele. Isso é um privilégio. (Fabio Fonseca, diretor de futebol).

 

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