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Copa do Mundo

Há 45 anos, a estreia de Telê Santana na seleção brasileira

Treinador assumiu a seleção como uma unanimidade em 1980. Em entrevista à PLACAR, criticou Zagallo e defendeu sexo na concentração

Publicado por: Redação em 05/06/2025 às 15:03 - Atualizado em 05/06/2025 às 17:10
Há 45 anos, a estreia de Telê Santana na seleção brasileira
Telê Santana dirigiu a seleção em três passagens nos anos 80 - J. B. SCALCO/PLACAR

O torcedor da seleção brasileira vive nesta quinta-feira, 5, a expectativa para a estreia do técnico Carlo Ancelotti, diante do Equador, em Guayaquil, pela 15ª rodada das Eliminatórias para a Copa de 2026. Há 45 anos, a seleção canarinho se preparava para o início de um trabalho marcante, o do técnico Telê Santana.

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Um dos grandes técnicos da história do futebol brasileiro, ainda que não tenha conseguido vencer as Copas de 1982 e 1986, Telê foi anunciado em fevereiro de 1980 como o substituto de Cláudio Coutinho. Ex-jogador e ídolo do Fluminense, o mineiro de Itabirito havia conquistado títulos no comando do Tricolor das Laranjeiras, do Atlético-MG e do Gêmio, e naquele momento dirigia o Palmeiras.

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Telê chegava com a promessa de promover um futebol intenso e vistoso, o que conseguiu, apesar das frustrações nos Mundiais. Sua estreia, no entanto, não foi das mais empolgantes: um triunfo por 2 a 0 sobre o México, com gols dos são-paulinos Zé Sérgio e Serginho. Os 34.316 espectadores presentes no Maracanã vaiaram a equipe na ocasião.

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Telê Santana na PLACAR

Na edição de PLACAR de 11 de janeiro de 1980, Telê já falava como favorito a assumir o cargo, em entrevista a Sérgio A. Carvalho. Em uma pesquisa, ele era o preferido de 197 de 221 jornalistas ouvidos pelo Estadão. Apesar de despistar sobre o acerto, já apresentava seus “Oito Princípios” e dizia que trabalharia para acabar com o bairrismo e a falta de profissionalismo na seleção.

Telê deixava claro que o treinador da seleção deveria ser fixo, não se dividir com nenhum clube, e que o trabalho não poderia se limitar às competições. Sobrou até para o tricampeão mundial Mário Jorge Lobo Zagallo, à época grafado apenas com um L.

“Pelo menos evitaríamos aquele vexame de 74 com o Zagalo declarando que 1a Holanda me surpreendeu’. Ora, ele tinha obrigação de saber como a Holanda jogava em todos os detalhes. Isto é um trabalho que não acaba mais. Por isso defendo a idéia do técnico permanente.”

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Direto como sempre, Telê tratou sobre diversos temas espinhosos, como a presença de mulheres na concentração. “Acho prejudicial o jogador ficar longe de suas mulheres numa Copa do Mundo, sem poder manter relações sexuais com elas. Isso me parece tão ruim quanto ter relações na véspera da partida ou na noite imediatamente após o jogo.”

O blog #TBT PLACAR reproduz na íntegra o texto de janeiro de 1980: 

Não aceito palpite de ninguém, nem do meu pai!

É o que se pode chamar de unanimidade nacional. De repente todos descobrem – no sul, no centro, no norte – que Telê é a solução para a Seleção. Precavido, Telê abre o jogo: aceita o cargo, desde que seja para valer, até a Copa, até o tetra de 82

Sérgio A. Carvalho

Desde a eleição de Giulite Coutinho à presidência da CBF, são cada dia mais intensas as especulações que falam de Telê Santana como futuro técnico da Seleção Brasileira. Sinal dos tempos, em pesquisa nacional realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo, ele foi apontado por 197 entre 221 jornalistas ouvidos como o homem ideal para o cargo.

Até aqui, Telê vem reagindo olimpicamente a toda essa boataria que — garante — só chegou a seu conhecimento pelos jornais. Semana passada, por exemplo, enquanto o assunto fervilhava em São Paulo e no Rio, principalmente, ele gozava suas férias em Belo Horizonte, colhendo frutas e realizando pequenos melhoramentos em seu sítio. Telê insiste que não tem nenhum plano na cabeça. Mas, se um dia chegar a dirigir a Seleção, é certo que irá se guiar por alguns princípios que considera básicos. Por exemplo:

1. Técnico e preparador físico permanentes

2. Total autonomia para convocar e dispensar jogadores

3. Organizar melhor o calendário, de forma a conciliar os interesses da CBF e das Federações

4. Observar o máximo possível, e pessoalmente, os jogadores que se destacam em cada Estado, para dar chance a todos, mesmo depois de fracassarem nos primeiros testes

5. Correr o Brasil para manter contato direto com jogadores e técnicos em seus próprios clubes, nos locais de treinamento

6. Buscar uma maior aproximação dos técnicos brasileiros, que formam uma classe desunida e desinformada

7. Exigir tempo para treinar a Seleção, ainda que seja para uma única partida

8. Acompanhar, periodicamente, a evolução do futebol em outros centros, especialmente a Europa

Pelo simples enunciado desses princípios, fica evidente a divergência de Telê em relação a alguns pontos defendidos por Cláudio Coutinho. A começar pela questão do técnico permanente, da qual Giulite Coutinho já disse que não abre mão:

— Discordo dos que dizem (Coutinho é um deles) que não há trabalho para um técnico permanente. Há sim, e muito. Agora, por exemplo, ele estaria com a Seleção Olímpica, ajudando o técnico Jaime Valente, orientando e observando os jogadores que poderão ser úteis à Seleção profissional em 82.

Acho que todo o trabalho de seleção, seja amadora ou profissional, deve ter em vista a Copa da Espanha.

Telê vai mais além: acha que o técnico permanente é o primeiro passo para acabar de vez com o bairrismo no futebol brasileiro.

— Claro que vai acabar, pois o técnico vai viajar, conviver com a imprensa, técnicos e jogadores de outros Estados, diminuindo assim sua margem de erro. Veja, por exemplo, aquele jogo do Brasil e Paraguai. O Coutinho não tinha condições de convocar os jogadores gaúchos que convocou. Ele não foi a Porto Alegre ver como estavam o Jair, o Falcão, o Éder… Convocou por informações que recebeu de terceiros. E isso nunca é bom.

Telê, Técnico da Seleção Brasileira, durante treino – Auremar de Castro/PLACAR

Telê Santana invoca o exemplo argentino para reforçar sua argumentação. De fato, desde que Menotti foi transformando em técnico exclusivo da Seleção, o futebol argentino voltou a crescer e encerrou a década com dois títulos importantíssimos: a Copa de 78 e o Mundial Juvenil de 79. Claro que o modelo não pode — nem deve — ser simplesmente copiado pelo Brasil.

Aqui, por exemplo, levamos uma grande desvantagem em relação a Argentina: as distâncias entre um e outro centro são imensas. O que, na opinião de Telê, representa um obstáculo muito pequeno em comparação às vantagens do esquema que ele propõe.

— Pelo menos evitaríamos aquele vexame de 74 com o Zagalo declarando que “a Holanda me surpreendeu”. Ora, ele tinha obrigação de saber como a Holanda jogava em todos os detalhes. Isto é um trabalho que não acaba mais. Por isso defendo a idéia do técnico permanente.

Há outro ponto que Telê considera fundamental: dar tantas chances quantas forem necessárias para que o jogador convocado mostre seu futebol. Ele lamenta, por exemplo, os muitos casos de jogadores que disputaram uma única partida, deram azar de não se apresentar bem e foram cortados.

— Em dois dias, nem um gênio pode mostrar o que sabe. Além do mais, seleção é time, é conjunto. E isso só se consegue com muito treinamento. Mesmo individualmente, o jogador só consegue se aperfeiçoar com muito treinamento. Foi batendo muitas faltas que o Nelinho, o Zico se tornaram grandes cobradores. Aliás, em matéria de treinamento eu sou um cara muito chato. O próprio Reinaldo disse isso, certa vez, numa entrevista a Placar.

Hoje, ele reconhece que eu tinha razão. O Éder, a mesma coisa. Tanto assim que me ofereceu o título de campeão gaúcho — o que muito me alegrou.

Telê Santana, técnico da Seleção Brasileira no Mundialito de 1980 – RICARDO CHAVES/PLACAR

Telê Santana, do Fio de Esperançã ao Mestre

De fato, se há uma coisa que todos reconhecem em Telê é sua incrível capacidade de se relacionar com seus comandados. E a razão disso pelo menos em parte, pode ser encontrada no seu passado de jogador do Itabirano, América de São João Del Rey, Fluminense, Guarani e Vasco da Gama. Sem ser um supercraque, sempre foi muito útil em campo pela facilidade com que desempenhava as mais diversas funções. Um ponta-direita com cacoetes de ponta-de-lança — ou vice-versa. Para os que não o viram jogar, talvez o melhor ponto de referência seja Jorginho — a quem dirige no Palmeiras, segundo alguns, à sua imagem e semelhança.

Como técnico, ele iniciou carreira em 67 dirigindo o infantil do Fluminense. De lá até aqui, os títulos mais expressivos que conquistou foram os de campeão mineiro em 70 pelo Atlético, campeão brasileiro em 71 também pelo Galo e campeão gaúcho em 77 pelo Grêmio.

Em todos esses anos, por todos os clubes por que passou, deixou como marca registrada um estilo personalista de trabalhar. Jamais, por exemplo, admitiu qualquer intromissão em suas decisões. E já viveu o suficiente para saber que não vale a pena mudar — ainda que a serviço de uma seleção.

— Minha primeira condição é esta: não aceito opiniões de ninguém, nem do meu pai. Uma vez meu irmão foi ver uma partida do Palmeiras e depois saímos para jantar. Aí, ele me perguntou: “Quer saber o que acho do time”? Respondi na mesma hora: “Não, não quero. Como você pode formar opinião vendo um jogo só se eu, há quase um ano aqui, ainda tenho sérias dúvidas sobre o time, sobre os jogadores?”

É claro que um técnico de seleção tem de ouvir as observações, as indicações dos colegas que dirigem os principais clubes do estado. O interessante é que, em toda a minha carreira, jamais fui procurado para isso.

Pra terminar, Telê defende uma tese que certamente o fará mais popular entre os jogadores: uma revisão radical no regime de concentrações.

— A concentração, hoje, não funciona mais como nos tempos passados.

Serve apenas para repouso. O jogador já adquiriu maturidade suficiente para continuar sendo vigiado. Ele precisa sair, resolver seus problemas sem ter de ficar limitado ao ambiente da Seleção.

Telê e o sexo na concentração

Telê vai em frente. Agora, abre à discussão sobre um tema que é tabu no futebol: o sexo.

— Acho prejudicial o jogador ficar longe de suas mulheres numa Copa do Mundo, sem poder manter relações sexuais com elas. Isso me parece tão ruim quanto ter relações na véspera da partida ou na noite imediatamente após o jogo.

Como se vê, Telê tem muitos conceitos formados sobre seleção para quem se diz pouco interessado no assunto.

De qualquer forma, à sua revelia ou não, as discussões prosseguem. Discussões que ele acompanha de longe, recolhido a seu sítio em Belo Horizonte e esgrimindo seu mineiro plano de despistamento:

— Vi Zagalo, Brandão e o próprio Coutinho envelhecerem na Seleção e não gostaria de sofrer a mesma coisa. Já me considero um técnico realizado, me satisfaço plenamente como técnico de clubes.

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