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Há 10 anos, PLACAR clamava pelo uso da tecnologia e introdução do VAR

Reportagem de 2013 se inspirou em outros esportes e apresentou diferentes ferramentas para tornar o futebol mais justo, e destacou mitos e verdades da tecnologia

Rodada após rodada do Campeonato Brasileiro se vê novos erros de arbitragem e as críticas não param. Há 10 anos, em março de 2013, PLACAR apostava no uso da tecnologia para tornar o futebol mais justo. Pode parecer que não, mas a presença do VAR (árbitro de vídeo), se não extinguiu, ao menos diminuiu as ‘bizarras’ e polêmicas falhas humanas dentro de campo. No entanto, muitas outras ferramentas ainda poderiam ajudar a acabar com as discussões que persistem.

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Foram inúmeros os resultados de jogos influenciados pela arbitragem. A Argentina conquistou o mundo, em 1986, mas antes Diego Maradona precisou da ajuda de Deus para eliminar a Inglaterra com ‘La Mano’ – um gol que seria anulado nos dias de hoje.

PLACAR trouxe a verdade já em 2013: a tecnologia não acabaria com erros e, de fato, não acabou. Em 2018, uma nova era começou no futebol e o VAR passou a fazer parte das quatro linhas. A tecnologia, por exemplo, não permitiria que Maradona se tornasse o próprio Dios albiceleste, mas tampouco sanou as decisões equivocadas dos juízes.

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A reportagem, à época, foi buscar em outros esportes exemplos de ferramentas tecnológicas que poderiam ajudar a diminuir as polêmicas no futebol, e ainda podem, sem torná-lo um jogo chato.

O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera um tesouro de nossos arquivos, reproduz na íntegra a reportagem sobre tecnologia no futebol, assinado pelo jornalista Fabio Soares, abaixo:

Previsão de como o futebol poderia ser jogado na década atual - Reprodução/PLACAR
Previsão de como o futebol poderia ser jogado na década atual – Reprodução/PLACAR

Tecnologia já!
Passou da hora de o futebol utilizar recursos extracampo para ajudar os juízes. Saiba como os avanços em outras modalidades podem ajudar, sem deixar chato o mais sagrado dos esportes.

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Por Fabio Soares

Nenhum esporte do mundo parece tão arcaico como o futebol. São 150 anos desde que as primeiras regras foram definidas. Desde então, apenas oito mudanças foram realizadas – a últimas delas, em 1992, proibiu que o goleiro agarrasse com as mãos um recuo que não fosse com o peito ou a cabeça, um golpe e tanto nos “enceradores”. No que diz respeito à arbitragem, a resistência ao novo parece ainda maior. A Fifa prefere multiplicar os olhos humanos, como no caso da adoção do decorativo árbitro de linha, a pedir a ajuda das máquinas.

O futebol mudou, tornou-se mais dinâmico. Os jogadores correm muito mais. Por outro lado, nada escapa às onipresentes câmeras de TV. Arbitrar hoje é um tremendo abacaxi. Os juízes estão muito mais expostos. Exigir que não errem é uma desumanidade. A passos de cágado, a Fifa começa a discutir a implantação do uso da tecnologia para diminuir os erros de arbitragem. Pressionada por falhas grotescas na Copa do Mundo de 2010 e na Euro 2012, a entidade aceitou testar no Mundial de Clubes recursos para detectar se a bola entrou ou não no gol. O Hawk-Eye (sistema de câmeras) e o GoalRef (chip na bola) não precisaram ser acionados no torneio do Japão, mas receberam o aval para as Copas das Confederações e do Mundo. É pouco. A tecnologia pode ajudar muito mais.

Mas por que a Fifa resiste a ir além? Porque teme a “descaracterização do jogo”. Críticos às mudanças dizem que a arbitragem eletrônica afetaria a agilidade, emoção e até as discussões de bar. “As partidas durariam 5 horas”, diz o presidente da Uefa, Michel Platini.
Não é verdade, e PLACAR vai mostar por quê. Está na hora de colocar ao lado dos juízes, e não contra, recursos capazes de aprimorar a arbitragem. Não se trata de propor um uso excessivo – na maior parte das modalidades que adotam a tecnologia, ela auxilia juízes a dirimir dúvidas exclusivamente em lances capitais.

O tênis desafia

Veja o caso do tênis. Começou, no início dos anos 90, a usar um feixe de luz na área de saque. Depois veio o sensor na rede. E desde 2005, o mesmo Hawk-Eye testado hoje no futebol é a ferramenta dos “desafios”, situação em que o tenista pode contestar a decisão da arbitragem em relação a uma bola que pingou dentro ou fora. “Os jogadores acertam em 30% dos casos”, diz Carlos Barbosa, brasileiro com experiência como árbitro de cadeira em finais de Grand Slam. Os veredictos são exibidos em telões e levam cerca de 30 segundos. “Tornaram-se uma atração à parte”, afirma Barbosa.

Segundo Ricardo Reis, coordenador técnico e de arbitragem da Confederação Brasileira de Tênis, a instalação de um sistema como esse custa cerca de 100000 reais. Em um estádio de futebol, essa quantia seria de 500000 reais. Não é um custo inviável para torneios de elite. E o argumento de que não daria para “universalizar” a utilização dos recursos não é suficiente para barrá-la nos principais palcos. No tênis, o aparato eletrônico, segundo Reis, está longe de ser universal, mesmo nos mais badalados torneios. “Apenas Indian Wells [Estados Unidos] tem a tecnologia do desafio em todas as quadras. A maioria das grandes competições, até mesmo Wimbledon, a utiliza somente nas quadras centrais.” E no futebol, diga-se, essa falta de padrão estrutural já impera. Não há comunicação eletrônica entre os árbitros, spray para marcar distância da barreira ou juiz ao lado das traves em competições mais modestas.

O futebol americano é um dos esportes mais abertos à tecnologia. Além de sete juízes em campo, técnicos também têm direito de desafiar a arbitragem, que por sua vez pode recorrer ao replay em uma lista de 20 tipos de lance. Quem se opõe à tecnologia costuma citá-lo como modelo de esporte truncado. De fato, uma partida dura 3 horas e meia. A tecnologia, porém, não tem culpa nisso. Segundo Jean Pierre Soares, presidente do Conselho Nacional de Arbitragem de futebol americano no Brasil, cada revisão de imagem leva em torno de 1 minuto e meio. Somados os limites de dois pedidos por treinador e os dois da arbitragem, são 9 minutos de acréscimo. “E não me lembro de um jogo em que tenha chegado a isso”, diz Soares. O lance mais discutido do ano passado no Brasileirão, o gol de mão de Barcos pelo Palmeiras contra o Internacional, provocou uma paralisação de 6 minutos na partida, até o árbitro Francisco Carlos Nascimento ordenar a anulação do tento. Seguiram-se 12 dias até o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidir que o jogo não seria anulado.

Duro de apitar

Nos dois tipos de futebol, o da bola oval e o da redonda, as dimensões do campo e o número elevado de jogadores dificultam bastante a visualização de certas infrações. Por exemplo: estudos revelam como a limitação do movimento dos olhos humanos torna a marcação de determinados impedimentos pura loteria. Em artigo publicado no British Medical Journal, uma das mais respeitadas publicações da área, o médico espanhol Francisco Belda Maruenda demonstra ser impossível para o bandeirinha ao mesmo tempo observar o lançador e acompanhar as movimentações do atacante e do defensor. Belda afirma que o olho humano demora cerca de 23 centésimos de segundo para ir de um ponto a outro, se fixar e se acomodar. Quando a imagem do lance fica clara para a tomada de decisão do bandeirinha, os jogadores já não estão mais em suas posições originais. Se zagueiro e atacante correm em direções contrárias, 23 centésimos são suficientes para mudar drasticamente a cena do lance.

O ex-bandeirinha Roberto Braatz conta que há mecanismos para aprimorar a visão periférica. “Treinamos com aproximação e distanciamento de objetos em deslocamentos rápidos.” Mesmo assim, concorda que há lances impossíveis de marcar com exatidão. “Digo que um bandeira tem de ser como aquele craque capaz de ver lances impossíveis aos atletas comuns.” O ex-juiz Renato Marsiglia, hoje comentarista de arbitragem, brinca ao comentar que “o bandeira ideal tem de ser estrábico”.

A adaptação

Embora reconheçam a limitação humana e a necessidade de ajuda tecnológica, ex-árbitros ouvidos por PLACAR admitem a dificuldade de adaptá-la às regras. Para Leonardo Gaciba, também ex-juiz e hoje comentarista da TV Globo, as únicas certezas são que tais recursos poderiam influir somente em lances de gol e impedimento. “Em situações disciplinares [como faltas] haverá sempre necessidade da interpretação do juiz.”

Levantamento realizado pelo jornalista e pesquisador Valmir Storti traçou um minucioso raio X da atuação de juízes e bandeirinhas no último Brasileirão. No trabalho, Storti dissecou 380 jogos, todos gravados e revistos. Decisões da arbitragem em que a conclusão não era absolutamente clara, ou por não terem sido captadas pelas câmeras ou por serem demasiado interpretativas (caso de alguns pênaltis), foram classificadas por ele como duvidosas. No total, foram marcados 1797 impedimentos na competição, sendo 1214 corretos (67,6%), 359 duvidosos (20%) e 224 errados (12,4%). Os tira-teimas registraram 45 impedimentos não assinalados. Em dez deles, a jogada terminou em gol, dado importantíssimo para o debate em questão. Ora, se a utilização da tecnologia for limitada a lances de gol, apenas dez impedimentos teriam de ser revistos durante o Campeonato Brasileiro inteiro. Em relação à quantidade e ao tempo de paralisação dos jogos, é pouco. Em termos de influência nos resultados, no entanto, seriam decisivos, pois oito desses duelos terminaram empatados ou com vitória por diferença de somente um gol.

“Pela dinâmica do futebol, não vejo como fazer tantas paradas como no tênis, mas para verificar se a bola entrou precisa haver recurso externo”, analisa Tite, técnico do Corinthians. Ele cita o gol não-validado da Inglaterra no confronto ante a Alemanha na Copa passada. “A bola entrou meio metro. A discussão de bar deveria ser sobre qual time foi melhor, não a respeito de erros da arbitragem.”

No Brasil, um jogo marcado por falhas decisivas do juiz foi a final do Campeonato Brasileiro de 1995, entre Santos e Botafogo. O juiz Márcio Rezende de Freitas errou em três gols. Nos dois validados, o dos cariocas foi marcado em impedimento e o do Santos teve o atleta conduzindo a bola com a mão. No único tento legal, o árbitro marcou impedimento. Com o ponto eletrônico e cobertura das câmeras existentes hoje, Freitas poderia ter sido alertado bem antes de chegar ao meio-campo para reiniciar a partida. O ex-meia Giovanni, estrela santista daquele time de 95, sugere aliar a tecnologia a uma participação mais ativa do árbitro que fica ao lado das traves. “Com o chip na bola, não precisa um juiz só para ver se a bola entrou.”

É pra já!

Mas é possível colocar tudo isso em prática? Sim, e já. Chips na bola e câmeras para determinar se a bola cruzou a linha do gol são unanimidades e já foram aprovados. Com a nova tecnologia, há a possibilidade de aproveitar melhor os recursos humanos – o juiz ao lado da trave fica livre para ajudar a marcar outros lances, como pênaltis e escanteios. Mas não se pode parar por aí.

Por que não adotar a revisão de imagens nos lances de gol em que o chamado quarto árbitro, em vez de atuar como babá de técnicos indisciplinados, seja encarregado de ver o replay a partir de uma tela instalada em sua mesa e, caso encontre alguma irregularidade, possa informar o juiz? Ou que, pelo ponto eletrônico, alerte o juiz de campo sobre a irregularidade, chamando-o para rever o lance por diferentes câmeras? Isso leva poucos minutos, o tempo de uma comemoração e o realinhamento das equipes em seus campos. É importante dizer que o juiz de campo deve ser soberano para acatar ou recusar o chamado do quarto árbitro, bem como decidir se o gol vale ou não. Outro ponto importante é não retroceder demais o lance, limitando-se, por exemplo, à assistência e o toque final.

A tecnologia, ressalta Leonardo Gaciba, não é 100% eficaz. E lembra dois casos emblemáticos. Um no Mundial sub-17 realizado no Peru em 2005, quando a Fifa também testou chip nas bolas. “O sistema sinalizou gol em dois chutes em que a bola entrou na rede pelo lado de fora. Nesses casos, a tecnologia poderia ter induzido o juiz ao erro.” No outro, na Copa de 1998, o juiz norte-americano Esfandiar Baharmast foi enxovalhado por um pênalti apitado contra o Brasil na partida diante da Noruega. Durante a transmissão, nenhuma câmera oficial captou a falta de Júnior Baiano. Dias depois, a imagem de um documentarista sueco mostrou o puxão do zagueiro brasileiro na camisa do grandalhão Tore Flo. Por outro lado, poderíamos preencher esta edição com erros crassos passíveis de correção pelo uso da tecnologia. Recursos para isso já existem. Os alemães da GoalRef anunciaram recentemente que seu sistema de câmeras pode apontar, além de gols, impedimentos em tempo real.

Enquanto a Fifa e os britânicos da International Board se mantêm longe de atravessar essa porta, certo mesmo é que a polêmica do uso da tecnologia no futebol continuará, ela própria, mantendo vivas as discussões de bar.

Bola entra, mas juiz encerra o jogo
Zico – Brasil x Suécia, Copa de 1978
Como o basquete resolveria – Os três árbitros de quadra prendem à cintura o Precision Time, aparelho acionado quando a bola entra em jogo. É usado para controle do tempo durante toda a partida. E na mesa, ao lado da quadra, há um monitor de replays, cujo uso é limitado aos finais de um período (lance completo). Ajuda a decidir se um arremesso saiu dentro do limite de posse de bola ou se vale 2 ou 3 pontos. Os técnicos podem requerer o replay, mas a decisão de consulta é do árbitro principal.

Bola entra, juiz não dá
Lampard – Alemanha x Inglaterra, Copa de 2010
Michel – Brasil x Espanha, Copa de 1986
Como o hóquei resolveria – Há câmeras nas traves e um sensor aciona um sinal luminoso quando o disco ultrapassa a linha de gol. Mesmo assim há um juiz monitorando as imagens.

Gol legal, juiz não dá
Camanducaia – Santos x Botafogo, Brasileiro 1995
Fabiano – Brasil x Camarões, Olimpíada 2000
Como o hóquei resolveria – Os replays das imagens gravadas por câmeras nas traves valem também para julgar im­pedimentos – ainda que no hóquei isso seja mais raro, pois, como no futebol, há juízes específicos para essa infração.

Mão na bola, juiz não vê
Henry – França x Irlanda, Eliminatórias 2009
Maradona – Argentina x Inglaterra, Copa de 1986
Como o rúgbi resolveria – O esporte usa o TMO (Television Match Official). As imagens geradas pelo sistema podem ser solicitadas em lances de pontuação – try (5 pontos) ou nos chutes (2 ou 3 pontos) – ou em faltas graves. Apenas o juiz principal tem a prerrogativa de pedir o replay. O sistema conta, no mínimo, com dez câmeras, três em cada área de try.

Agressão não marcada
Pênalti cometido por Nilton Santos – Brasil x Espanha, Copa de 1962
Cotovelada do Pelé – Brasil x Uruguai, Copa de 1970
Como o basquete resolveria – Com o mesmo monitor de replays, na mesa ao lado da quadra. Na NBA e no basquete universitário norte-americano, a consulta das imagens vale também para lances de faltas e pode ser pedida a todo instante do jogo.

Bola não entra, juiz dá
Gol de Geoff Hurst – Inglaterra x Alemanha, Copa de 1966
Como o tênis resolveria – O esporte adota o Hawk-Eye desde 2005. O sistema cruza imagens de câmeras posicionadas nas linhas da quadra para definir se a bola foi dentro ou fora. Cada jogador tem direito a três desafios por set. Se estiver com a razão, não perde o pedido. As imagens são analisadas por um juiz numa sala ao lado da quadra, que passa a informação ao árbitro de cadeira. O desafio deve ser lançado antes de outra jogada ocorrer. Exibido em grandes monitores, tornou-se uma atração à parte nos grandes torneios do circuito.

Gol ilegal, juiz dá
Borges, impedido – Goiás x São Paulo, Brasileiro de 2008
Túlio e Marcelo Passos – Santos x Botafogo, Brasileiro de 1995
Como o futebol americano resolveria – Nos dois últimos minutos do segundo e quarto períodos a arbitragem pode recorrer ao replay, sem necessidade de ser desafiada. Um juiz fica numa sala de monitoramento e essas imagens valem para mais de 20 ocorrências de jogo. Os treinadores podem confrontar uma decisão da arbitragem duas vezes, desde que ainda tenham pedidos de tempo a fazer e que o jogo não esteja nos dois minutos finais do segundo e quarto quartos. Para isso precisam lançar uma bandeirola vermelha ao campo logo depois do lance sob suspeita. Se o técnico estiver errado, perde um pedido de tempo.

Técnico x Juiz
Projeto de Gaciba prevê quatro desafios por jogo.

Em 2006, o então árbitro da Fifa Leonardo Gaciba enviou à entidade um projeto sugerindo usar replays para tirar dúvidas em até quatro lances por jogo. Pela proposta, cada treinador teria direito a dois “desafios”. As imagens valeriam apenas para as questões técnicas (gols, impedimentos e faltas). Nas disciplinares, como aplicação de cartões, não. “Seriam, estourando, 8 minutos a mais por partida. Não é muito, considerando-se que o futebol tem pouca pontuação. Um gol pode decidir uma partida. No basquete ou no vôlei, por exemplo, são mais raros os jogos decididos por apenas 1 ponto de diferença”, defende Gaciba. Os desafios propostos por Gaciba deveriam ser pedidos imediatamente após o lance em dúvida. Em caso de erro, o técnico perderia uma das substituições, que passariam de três para cinco. O veredicto caberia sempre ao juiz principal. Nos esportes em que o técnico ou jogador (no tênis) pode desafiar a arbitragem as condições são similares. O projeto foi ignorado pela International Board, grupo responsável por mudanças nas regras, e hoje está engavetado na Federação Gaúcha de Futebol. Seis anos depois de ter pedido as inovações, Gaciba diz que alteraria certos pontos. “Não atrelaria o desafio à perda de uma substituição. Seria punir o atleta. Mas algum castigo teria de haver em caso de erro.” Mas que os replays inibiriam as reclamações, sobretudo dos técnicos, Gaciba não tem dúvida. “Será que o Barcos colocaria a mão na bola [jogo Inter x Palmeiras, pelo último Brasileiro] se soubesse que a jogada poderia ser revista e lhe acarretar um cartão vermelho?”

PLACAR trouxe os mitos e verdades sobre o uso da tecnologia no futebol - Reprodução/PLACAR
PLACAR trouxe os mitos e verdades sobre o uso da tecnologia no futebol – Reprodução/PLACAR

Mitos e verdades sobre o uso da tecnologia para ajudar os juízes no futebol

Verdade – Não acabará com os erros

Mas reduzirá radicalmente. Sobretudo em lances cruciais, como para verificar se a bola entrou ou não totalmente dentro do gol. Ou em impedimentos. Lances por vezes impossíveis de ver a olho nu. Nas faltas, mesmo podendo rever a jogada por dezenas de ângulos, sempre vai pairar dúvida.

Mito – Quebra o ritmo do jogo

Quanto demoraria para um quarto árbitro, sentado à frente de um monitor, ver um replay e informar ao juiz principal via ponto eletrônico? Essa comunicação já existe entre o juiz e os bandeirinhas e o torcedor nem percebe. No tênis, o veredicto do “desafio” é anunciado em até 30 segundos.

Mito – Tira autoridade do juiz

O futebol americano usa e abusa dos replays e ainda assim tem sete árbitros. O poder é mais descentralizado. No futebol, se o juiz tiver a prerrogativa de pedir a revisão do lance e mantiver soberania na decisão, não perderia atribuições. Ganharia, sim, auxiliares mais úteis.

Verdade – Compromete a universalidade

Acentua, mas a desigualdade já existe. A tecnologia, de início, ficaria restrita às ligas endinheiradas. Em outros esportes também é assim. A comunicação eletrônica entre os árbitros, o spray e os juízes na linha de fundo, por exemplo, não são universais. Nem sequer os gramados são uniformes.

Mito – Gasto elevado dos recursos

Tanto o Hawk-Eye (câmeras por todo o estádio) quanto o GoalRef (chip na bola), testados pela primeira vez no último Mundial de Clubes, custam entre 300000 e 500000 reais. Mixaria se comparado à folha de pagamento mensal da maioria dos elencos da série A. Para um time grande, não seria um desfalque vultoso.

O futebol em 2020

Um jogo com robôs-bandeirinhas, feixes de laser para determinar o ponto exato de uma falta, chips não apenas na bola, mas também nas chuteiras, e GPS. Com base em tecnologias que já existem, um estudo realizado pela Orange (multinacional inglesa do ramo de telecomunicação) projetou como o futebol pode estar em 2020. Elaborado pelo Fu-ture Laboratory, também da Inglaterra, o Orange Future of Football Report vislumbra o uso de um programa capaz de identificar “cavadas”. Inteligência artificial e sensores nas meias ainda têm aplicabilidade difícil. Mas boa parte da tecnologia sugerida já faz parte do nosso dia a dia. Segundo Richard Crane, pesquisador da France Telecom consultado pela Orange, diferentemente do que teme a Fifa, o jogo ganharia em agilidade. “A conectividade permitiria decisões imediatas.”

LIGA DA JUSTIÇA

Dispositivo antifingimento
O Aiden, desenvolvido pela Universidade de Witwatersrand, da África do Sul, interpreta peculiaridades do comportamento humano em determinadas situações. Sensores inseridos nas meias dos jogadores poderão flagrar simulações grosseiras.

Robô cagueta
Um GPS flagraria impedimentos. Bastaria registrar as chuteiras como “time da casa” ou “visitante”. Robôs cuidariam do resto.

Big Brother
Usando RFID (identificação por radiofrequência) ou ampliando os testados sistema de câmeras e chip na bola, gols, laterais e escanteios seriam captados instantaneamente.

Holofote dedo-duro
Equipamentos do tipo marcariam o ponto exato de uma falta e a distância da barreira.

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