Gols de Luizão contra a Venezuela levaram Brasil à Copa do penta
Aniversariante deste 14 de novembro, ex-atacante viveu o grande momento de sua carreira na seleção brasileira em São Luís do Maranhão, em 2001
O 14 de novembro de 2001 foi especial para Luizão. O atacante, então com 26 anos, comemorava o seu aniversário com dois gols que classificaram o Brasil para a Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão. O então jogador do Corinthians carimbava ali, contra a Venezuela, adversária nesta quinta-feira (14), também pelas Eliminatórias da Copa, uma vaga na Família Scolari.
Em abril do ano seguinte, passado o sufoco pela ameaça de ficar pela primeira vez fora de um Mundial, PLACAR lembrou que o técnico Luiz Felipe Scolari ‘não era de dar calote’. A boa atuação do atacante, e ainda a insatisfação dentro e fora de campo do treinador com Romário, fizeram com que o centroavante fosse convocado para a primeira Copa no continente asiático.
Luizão vinha de uma ruptura do ligamento cruzado anterior e lesão num menisco lateral do joelho direito e sucessiva transferência frustrada para o Borussia Dortmund, que seria campeão alemão na temporada 2001/2002. A seleção brasileira era para o atacante de Rubinéia (a 600 km de São Paulo) a volta ao seu melhor nível.
“Quando enfrentou o problema no joelho direito que ameaçava deixá-lo no estaleiro por até nove meses, Luizão começava a conquistar espaço na Seleção do técnico Emerson Leão”, diz a reportagem de PLACAR. “Decidido a lutar para ir à Copa, o atacante se dedicou ao máximo no período de recuperação e contou com uma boa evolução clínica pós-operação para voltar a jogar meses antes do esperado.”
Meses depois da matéria na revista, Luizão confirmaria a vaga na seleção brasileira que se tornaria pentacampeã mundial. Naquela oportunidade, o centroavante entrou nas duas partidas contra a Turquia (vitórias na estreia e na semifinal).
O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera um tesouro de nossos arquivos, reproduz o texto de 01/04/2001, na íntegra:
Dívida paga
Felipão não é de dar calote. Por isso, quando fez os gols que puseram o Brasil na Copa, Luizão garantiu também uma passagem para a Coréia
No dia 8 de abril do ano passado, o Corinthians vencia a Portuguesa por 3 x 1 pelo Campeonato Paulista, quando, no meio do segundo tempo, Luizão, que ainda não havia pedido as contas no Parque São Jorge, dividiu uma bola com o meia Irênio e sentiu o joelho direito. Ele ainda tentou continuar em campo por alguns minutos, mas logo teve que pedir substituição. Dois dias depois, saiu o fatídico diagnóstico: ruptura do ligamento cruzado anterior e lesão num menisco lateral do joelho. De cara o atacante viu seus dois principais objetivos para a temporada 2001 desmoronarem: diante da séria lesão, a transferência quase certa para o Borussia Dortmund, da Alemanha, que iria lhe garantir um poupudo pé-de-meia, estava melada; os planos de se firmar no grupo da Seleção Brasileira que disputava as Eliminatórias também.
Quando enfrentou o problema no joelho direito que ameaçava deixá-lo no estaleiro por até nove meses, Luizão começava a conquistar espaço na Seleção do técnico Emerson Leão, que o convocara para o jogo contra o Equador, em Quito, em março de 2001. Decidido a lutar para ir à Copa, o atacante se dedicou ao máximo no período de recuperação e contou com uma boa evolução clínica pós-operação para voltar a jogar meses antes do esperado. “Não houve intercorrências, ou seja, inchaços e infecções, depois da cirurgia. Por isso, a partir do quarto mês, ele já estava liberado para retornar aos treinamentos”, diz o doutor Joaquim Grava, médico do Corinthians, que operou o jogador e acompanhou toda recuperação.
Menos de seis meses após enfrentar a “faca”, o atacante voltou a jogar. O drama da briga por um lugar na Seleção, porém, continuava. O técnico, por exemplo, já era outro. Será que Luiz Felipe Scolari confiaria no futebol dele como fizera Leão? Para complicar, o próprio Felipão assumiu o cargo com um discurso indicando que pretendia definir logo uma base de jogadores e pouco mexer nela. Como Luizão não apareceu nas cinco primeiras convocações do novo treinador, as chances de retornar ao grupo caiam ainda mais.
Entretanto, na lista de convocados para as duas últimas partidas das Eliminatórias, contra Bolívia e Venezuela, lá estava o nome do atacante. Decepcionado com Romário (que jogou mal na chance que teve contra o Uruguai e ainda teria aprontado fora de campo) e com França, considerado de comportamento muito tímido para a Seleção, Felipão apelara para o recém-recuperado Luizão na tentativa de suprir o posto vago de matador na sua equipe.
Depois de meses de fisioterapia e treinos solitários longe da bola, a dedicação do jogador havia sido recompensada. No esforço para voltar a jogar antes do prazo previsto pelos médicos, até a noiva Mariana, com quem se casou em agosto do ano passado, pagou o pato. Já na reta final da recuperação, o atacante convenceu a mulher a adiar qualquer plano romântico de viagem na lua-de-mel: “Não deu. Casamos no sábado e eu tive que treinar já na segunda-feira.”
Mas a história entre Luizão e Seleção Brasileira ainda estava longe de um final feliz. Poucos dias antes de se apresentar para a partida contra a Bolívia, o jogador sofreu uma distensão muscular atuando pelo Corinthians. O país inteiro assistiu pela TV o choro de desespero do atacante ao sair de campo mancando e imaginando um corte da Seleção. Meio comovido, meio sem outras opções para testar, Felipão decidiu mantê-lo no grupo, apostando numa recuperação até o confronto com a Venezuela. Foi uma boa aposta: Luizão realmente se recuperou, fez dois dos três gols que garantiram a classificação do Brasil para a Copa e Scolari só faltou assinar e lhe entregar uma nota promissória de agradecimento pelo fim do sufoco.
Talvez acomodado por ter ganho tamanho crédito, Luizão quase pôs tudo a perder no início desta temporada. Voltou das férias em janeiro exageradamente fora de forma, brigou com a diretoria do Corinthians e ficou algumas semanas sem clube. Resultado: acabou barrado na primeira convocação do ano da Seleção. Mesmo deixado de lado temporariamente, em nenhum momento peitou ou cobrou de Scolari uma explicação por ter sido colocado na geladeira. Como um bom caipira (o jogador é o orgulho da pequena Rubinéia, a 600 km de São Paulo) preferiu não posar de credor e decidiu seguir à risca um conselho que há tempos recebeu de um velho treinador e amigo: “O bom cabrito não berra, aprendi com o Carlos Alberto Silva.”
Foi só esperar a poeira baixar, contar com o apoio da Justiça na briga com o Corinthians e acertar com o Grêmio para voltar a ser convocado e fazer gols pelo Brasil, como o que guardou contra a Iugoslávia. Hoje não há mais dúvidas de que Luizão vai chegar à Copa com seu típico sotaque do interior paulista, usando os “erres” carregados e, muitas vezes, substituindo os “eles”. Felipão, fiel como sempre, pagou sua dívida.
LUIZ CARLOS GOULART
Posição: Atacante
Nascido em: Rubinéia (SP), em 14/11/1975
Altura: 1,78 m Peso: 76 kg
Clubes: Guarani (92-95), Palmeiras (96-97), La Coruña-ESP (97), Vasco (98), Corinthians (99-2002) e Grêmio (desde 2002)
NA SELEÇÃO
10 jogos /4 gols
Por que ganhou a vaga: Por erros dos rivais e méritos próprios. Romário pisou na bola ao ser convocado para o jogo com o Uruguai e França decepcionou em campo. Já Luizão fez, contra a Venezuela, os gols que classificaram o Brasil para a Copa
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