Expectativa, lesões, lampejos e decepção: a trajetória de Ganso na PLACAR
Visto no início como o craque à moda antiga que dominaria a camisa 10 da seleção, meia foi acumulando lesões e críticas; aos 31, busca espaço no Fluminense
Poucos personagens estamparam tantas capas de PLACAR neste século como Paulo Henrique Ganso. Desde que estreou como profissional pelo Santos, em 2008, o meio-campista canhoto criou enormes expectativas nos amantes do futebol, graças a seu refinamento técnico, ao estilo cerebral e à visão de jogo que lembrava os craques brasileiros dos anos 70 e 80. Muitos apostavam que o camisa 10 seria o melhor da infernal dupla que formou com o amigo Neymar. Hoje, com Ganso em busca de espaço na equipe do Fluminense, aos 31 anos, não restam dúvidas de que as previsões foram frustradas. Convém, no entanto, rememorar a trajetória do meia paraense que deslumbrou a Vila Belmiro há mais de uma década.
Em 2009, junto aos jovens companheiros, Ganso começou a despontar como o futuro camisa 10 do país. No Brasileirão daquele ano, anotou 8 gols e deu 6 assistências. Contudo, o maior espetáculo ocorreu no primeiro semestre de 2010. Nos títulos do Campeonato Paulista e Copa do Brasil, ele facilitou o trabalho do trio de ataque composto por Neymar, Robinho e André, com lances geniais, passes que quebravam defesas e uma maestria que fizeram com que grande parte dos brasileiros apoiassem a convocação dele para a Copa do Mundo da África do Sul.
Não foi o suficiente para convencer Dunga. Contudo, acreditava-se que ele seria peça-chave da seleção brasileira no ciclo seguinte. O próprio técnico Mano Menezes acreditava nisso. Em sua edição 1344, de julho de 2010, PLACAR colocou Paulo Henrique Ganso ao lado de Alexandre Pato como as principais esperanças para o futuro da Amarelinha. “Dessa turma (referência a alguns jogadores já convocados), mais os meninos prodígios do Santos, Paulo Henrique Ganso e Neymar, sai a base da seleção brasileira para a Copa em casa”, diz um dos trechos da matéria assinada por Arnaldo Ribeiro.
Em 2010, quando vivia seu auge, uma ruptura no ligamento cruzado anterior tirou o 10 de campo por um semestre. A esperança por uma recuperação era nacional. Mesmo machucado, o meia não saía da pauta dos noticiários esportivos. Assim, virou, também, capa da PLACAR pela segunda vez, dessa vez sozinho. Na edição 1352, do mês de março, a pergunta era exatamente sobre a valorização que o jogador sofreu mesmo sem jogar. “Mesmo parado – ou talvez por causa disso -, Ganso parece ter subido um nível na escala dos craques.” escreveu, Felipe Zylbersztajn, autor da reportagem.
Recuperado da lesão, Paulo Henrique foi importante na fase de grupos e nas oitavas de final da Libertadores de 2011, com 4 participações diretas (3 assistências e 1 gol) em 6 jogos. Porém, em jogo do Campeonato Paulista, uma lesão na coxa direita tirou Ganso, novamente, de muitos jogos. Voltou na final da Copa Libertadores daquele ano e pôde comemorar o título como titular. Porém, jogo após jogo, ausência atrás de ausência, mais contestações em torno do jogador, enquanto Neymar decolava como foguete.
Deu-se início à fase dos lampejos. Sempre que Ganso fazia boas aparições, um toque de letra aqui, uma caneta ali, o debate ressurgia. Porém, em um 2012 com muitas lesões, passou a ser figurante e desacreditado. Além disso, problemas com a diretoria do Santos fizeram que a relação com a torcida também fosse estremecida. Desse modo, por 24 milhões de reais, após grande novela, Paulo Henrique Ganso trocou o Peixe pelo rival São Paulo. A contratação foi cercada de inseguranças, mas também virou capa de nossa revista impressa. E o debate era sobre como o Tricolor Paulista tentaria recuperar Ganso.
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“Craque em obras. Como o São Paulo prepara o corpo, a cabeça e a imagem de Ganso para devolvê-lo inteiro ao futebol – e, quem sabe, à seleção”, era a chamada da matéria de capa de novembro de 2012, escrita por Fábio Soares. Uma arte detalhava oito lesões importantes do atleta, que mal havia completado 23 anos. O próprio Ganso concedeu entrevista àquela edição, demonstrando otimismo. “Não vejo a hora, como o pessoal costuma brincar aqui no São Paulo, de começar a reger a orquestra.”
A primeira temporada de PH pelo São Paulo transcorreu sem lesões graves, mas não foi tão consistente. Na mente do torcedor brasileiro, amante do futebol-arte, ele poderia ressurgir. Assim, no fim de 2013, a PLACAR colocou o atleta pela quarta vez como capa e cogitou que Ganso teria seis meses para convencer Felipão, supondo uma possível vaga na Copa do Mundo de 2014. Mais uma vez, nada feito.
As temporadas seguintes foram de esperança, mas nada que chegasse aos pés daquele Ganso de 2009 e 2010. Os lances geniais ainda saíam, as lesões não eram tão comuns, mas faltava consistência. Porém, em um 2016 que voltava a dar esperança ao mais otimista torcedor, o camisa 10 recebeu proposta do exterior, lugar onde sempre o colocaram. Por 9,5 milhões de euros, o São Paulo vendeu o jogador ao Sevilla.
Na Espanha, o pingo de expectativa criada não foi mostrada em campo. O brasileiro nunca se entendeu com o técnico Jorge Sampaoli, que, assim como todos os técnicos de Ganso, lhe cobrava mais “intensidade”. Resultado: empréstimo ao modesto francês Amiens. Na França, apenas 13 partidas. A crença que colocava Ganso como “diferenciado” e “acima da média” (termos usados por ele próprio para se definir) foi ficando para trás, ainda que sua capacidade técnica nunca tenha sido contestada.
Assim, a custo zero, ele desembarcou no Brasil novamente. Pelo Fluminense, alternou como titular e reserva e foi importante em alguns momentos do surpreendente time das Laranjeiras, que vem fazendo bonito na Libertadores (com Ganso como um banco de luxo). Aos 31 anos, seleção e elite europeia já não estão no horizonte. Mas brilhar no Campeonato Estadual e novamente na competição continental pode ser a motivação que Ganso precisa para voltar aos holofotes.
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