Evaristo de Macedo, o brasileiro que é ídolo de Barcelona e Real Madrid
Ex-atacante que hoje completa 90 anos fez história no clássico vestindo as duas camisas; em entrevistas a PLACAR, ele relembrou sequestro de Di Stéfano e parceiros húngaros
Barcelona e Real Madrid fazem o clássico mais badalado da Espanha e possivelmente do futebol mundial. Pelos gigantes da Catalunha e da capital, passaram vários dos maiores craques de todos os tempos. Um ex-atacante brasileiro já provou o sabor de brilhar no grande dérbi espanhol e vestindo as duas camisas: Evaristo de Macedo, que nesta quinta-feira, 22 de junho de 2023, completa 90 anos de idade.
Evaristo se aposentou dos gramados em 1967, três anos antes da criação de PLACAR, mas estampou páginas da revista diversas vezes como treinador. Em algumas delas, relembrou sua incrível trajetória nos gigantes espanhóis. Carioca, ídolo histórico do Flamengo, o artilheiro defendeu o Barcelona entre 1957 a 1962; em seguida, se transferiu ao Real Madrid, onde atuou até 1965, antes de retornar à Gávea.
No Camp Nou, Evaristo brilhou nas conquistas dos campeonatos espanhóis de 1959 e 1960 e das Copas da Uefa de 1958 e 1960. Já no Bernabéu, conseguiu vencer a desconfiança inicial e ergueu as ligas de 1963, 1964 e 1965. Conseguiu, portanto, o raríssimo feito de ser amado pelos dois eternos inimigos – o português Luís Figo e o brasileiro Ronaldo são outros exemplos, ainda que o clima tenha ficado ruim com os preteridos catalães.
A ida para o Barcelona custou a Evaristo uma presença na Copa de 1958, a primeira vencida pelo Brasil. Estrela do Flamengo, ele era um dos titulares do time até 1957, quando se mudou para a terra de Gaudi. Não foi liberado pelo Barcelona para disputar o Mundial e nunca mais voltaria a vestir a amarelinha. No Camp Nou, porém, o brasileiro fez história. Em edição de PLACAR de maio de 1999, época em que era treinador do Corinthians, Evaristo relembrou o gol mais marcante de sua carreira.
“O Barcelona enfrentava a poderosíssima equipe do Real Madrid de Puskás e Di Stéfano pelas oitavas de final da Copa dos Campeões. O jogo caminhava para o empate quando o brasileiro Evaristo deu um peixinho sensacional e maecou 2 x 1 para o Barcelona. Sim, o Evaristo da foto é Evaristo de Macedo, técnico do Corinthians na Libertadores de 1999. O Barcelona só ficou com o vice na Copa dos Campeões de 1961, mas Evaristo virou lenda na Espanha. (…) A foto, com todo o seu significado de gol e vitória, é considerada um troféu pela torcida do Barcelona, que completa este ano seu centenário. Mas os madrilhenos não perdem a pose e também guardam a foto com carinho. O mesmo Evaristo que eliminou o clube em 1961 deu o bicampeonato espanhol ao Real Madrid nos ano seguintes passando por cima do rival Barcelona”, escreveu PLACAR.
Vinte anos antes, na edição de 3 de agosto de 1979, época em que se destaca como técnico do Santa Cruz e despertava interesse árabe, Evaristo recordou em detalhes sua passagem pela Espanha. ” ‘Joguei em três grandes ataques’, lembra. ‘O do Barcelona era mais para uso doméstico. O do Real empolgava o exterior. E o do Flamengo nada ficava a dever aos espanhóis'”, afirmou. No Rubro-Negro, ele formou parceria com Joel, Rubens, Índio e Zagallo; no Barça com os húngaros Kubala, Kocsis e Czibor, e com o espanhol Luís Suárez; no Real com Puskás, Gento e Di Stéfano. Ou seja, um amontoado de lendas do futebol.
“O Barcelona era um time de astros, onde ninguém incomodava os outros. O cara podia beber sua cervejinha, fazer o que bem entendesse. Mas só lá fora, no clube, devia andar na linha”, relembrou Evaristo. Ele também detalhou um episódio assustador, já como estrela merengue: o sequestro do astro argentino Di Stéfano, em Caracas, por parte de guerrilheiros venezuelanos. “Estávamos eu, Santamaria, Di e Felo, um garoto das Ilhas Canárias que tremia que era uma coisa séria. Tínhamos jogado cartas à noite. Então, de madrugada acordamos com um barulho no quarto: os sequestradores eram quatro, metralhadora em punho, apontavam para o nosso lado e para o Di Stéfano, que se arrumava. Ficamos parados, porque não adiantava reagir, e todos temiam o pior. Sete dias depois, o Di Voltava ao hotel”, relembrou.
Nesta mesma entrevista, Evaristo comentou a morte de um antigo parceiro de Barcelona, o húngaro Sandor Kocsis, artilheiro da Copa de 1954, que em julho daquele ano, sofrendo de um câncer no estômago e depressão, e com uma perna amputada, cometeu suicídio ao pular da janela do hospital onde estava internado, em Barcelona, aos 49 anos. “Um dos maiores jogadores que vi em toda a minha vida”, definiu Evaristo.
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Evaristo de Macedo também passou boa parte de sua vida como treinador. Durante a carreira à beira do campo, treinou as seleções do Brasil, Catar e Iraque, além de clubes como Bahia, Santa Cruz, Grêmio e Flamengo.