Europa das Américas: há dez anos, PLACAR contou a explosão de gringos no país
Mercado nacional segue agitado por nomes de fora como Borré, Alario, De La Cruz, Garro, Dinenno e outros tantos; entenda a evolução
A atual janela de transferências do futebol brasileiro foi aquecida pela chegada de diversos estrangeiros ao país. O Internacional anunciou na última quarta-feira, 17, a contratação do atacante colombiano Rafael Santos Borré junto ao Eintracht Frankfurt. Ele se junta a outra bom nome: o de Lucas Alario, vindo do mesmo clube. Já o Corinthians trouxe os equatorianos Diego Palacios e Félix Torres, além do argentino Rodrigo Garro. O Flamengo fechou com o uruguaio Nicolás de la Cruz.
A invasão de jogadores internacionais em gramados nacionais já era observada por PLACAR há quase dez anos, na edição de abril de 2014. A reportagem Europa nas Américas assinada por Fábio Soares, com reportagem de Frederico Langeloh e Raphael Zarko falava da explosão de gringos que chegavam em busca de estabilidade econômica e de visibilidade que não conseguiam em seus países.
Na ocasião, ilustravam a matéria nomes como o dos uruguaios Nicolás Lodeiro (Botafogo), Alvaro Pereira (São Paulo) e Alán Ruiz (Grêmio), dos argentinos Darío Conca (Fluminense), Andrés D’Alessandro (Internacional) e Lucas Mugni (Flamengo), além do paraguaio Mendieta (Palmeiras).
Hoje, há outros tantos nomes chegando, que se unem a estrangeiros que já estão pelo país. Só o Inter, por exemplo, já conta com o goleiro uruguaio Sergio Rochet, os defensores argentinos Fabricio Bustos e Gabriel Mercado, o volante chileno Charles Aránguiz e o atacante equatoriano Enner Valencia.
Em 2014, o clube gaúcho contava com os argentinos Mario Bolatti, Fernando Cavenaghi, Jesus Dátolo e Ignacio Scocco.
Na ocasião da reportagem, o Grêmio havia solicitado à CBF pela alteração do artigo 45 do Regulamento Geral de Competições para permitir o aumento do número de estrangeiros por partida: de três para cinco em campo por clube. Em 2023, nova adequação: até sete.
Naquele momento, o Brasileirão de 2014 iniciaria com 47 atletas. Este ano, a CBF expôs em setembro que a competição contava com 132 profissionais, sendo 122 atletas e dez treinadores. O São Paulo tinha 11 jogadores.
O novo momento gerava preocupação na formação de jogadores, citada pelo técnico Muricy Ramalho, enquanto o então diretor-executivo do Grêmio, Rui Costa, previa escalações com mais de meio times de estrangeiros – fato que se cumpriu.
Neste ano, São Paulo, Palmeiras, Santos, Athletico Paranaense, Grêmio, Cruzeiro e tantos outros já movimentaram o mercado com atletas de fora.
Confira a reportagem na íntegra:
Europa das Américas
Fábio Soares Com reportagem de Frederico Langeloh e Raphael Zarko
A explosão de gringos no futebol brasileiro fez a CBF aumentar o número máximo de estrangeiros em campo por equipe. Eles vêm em busca de salários melhores, estabilidade econômica e a visibilidade que não têm em seus países. E não param de chegar…
“Meu telefone nunca tocou tanto”, conta o empresário Roberto Miguel. Quase sempre para atender o mesmo pedido. “Me arruma time no Brasil, me arruma time no Brasil”, descreve o argentino radicado no país, que desde 2004 traz estrangeiros para cá. Levou Conca para o Fluminense e, recentemente, o meia argentino Lucas Mugni ao Flamengo. “Ficaram mais frequentes [os pedidos] faz uns três anos, mas agora ligam toda hora”, diz.
Os atletas do exterior no Brasil hoje atuam em times grandes, médios, nanicos e até na base. Sul-americanos disputam espaço com europeus, africanos e asiáticos. Desembarcam cada vez mais. Dos 96 gringos em campos nacionais, 15 foram registrados pela CBF em 2012, 39 em 2013 e 42 este ano, até o fim de janeiro. E a tendência dessa migração é aumentar.
A CBF, no fim do ano passado, ampliou de três para cinco o limite de estrangeiros em campo por clube. Logo, o Brasileirão 2014 com início neste mês de abril baterá o recorde de forasteiros: 47 (número atualizado até 24 de março), média superior a dois entre os 20 integrantes da série A, ante 37 na rodada inicial do ano passado. Goiás, Figueirense e Chapecoense são os únicos 100% domésticos.
O recente desmanche do paraguaio Olimpia ilustra essa migração em massa. Sete jogadores do elenco vice-campeão da última Libertadores vieram para o Brasil. Pittoni e Emanuel Biancucchi (Bahia); Meza (Sport); Ferreyra (Botafogo); Aranda e Martin Silva (Vasco) e Fabio Caballero (América-MG). Quase foram nove. Em janeiro, o América do Rio, da segunda divisão carioca, anunciou as contratações de Marcelo Baez e Osvaldo Arguello, mas o acordo acabou desfeito.
Não por acaso, partiu do Grêmio a iniciativa de solicitar à CBF a mudança na regra. No último Brasileirão, o então técnico Renato Gaúcho quebrava a cabeça para decidir quem relacionaria para os compromissos da parte final do certame. Entre o argentino Barcos, o chileno Vargas, o uruguaio Maxi Rodríguez e o paraguaio Riveros, era obrigado a cortar um. A dúvida chegou ao ponto de o treinador viajar com os quatro para enfrentar a Ponte Preta, em Campinas, na penúltima rodada. Só lá, em cima da hora, cortou Riveros.
Disposto a pôr fim ao desgaste e ao prejuízo, o tricolor gaúcho formalizou em agosto o pedido de alteração do artigo 45 do Regulamento Geral das Competições. O departamento jurídico chegou a preparar uma réplica invocando a Lei Bosman (decisão que aboliu na Europa em 1995 restrições de utilização e transferências de jogadores da Comunidade Europeia). Fábio Koff, mandatário gremista, procurou se cercar por todos os lados. Reuniu-se com Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo, para antecipar possíveis implicações trabalhistas. Martorelli, que também preside a Federação Nacional de Atletas Profissionais e a Divisão Américas da Federação Internacional de Futebolistas Profissionais, concordou com cinco estrangeiros como máximo por agremiação. “Mas do ponto de vista do trabalho, com base nos direitos fundamentais, não há como restringir nenhum tipo de contratação. Uma discussão judicial pode derrubar qualquer restrição”, afirma o sindicalista. Todo estrangeiro em situação legal no país tem o mesmo amparo de um trabalhador brasileiro. O visto de trabalho respeita as regras gerais – portanto, o limite é o da lei que impõe como idade mínima os 18 anos.
O Grêmio não advogou apenas em causa própria. No Internacional, em 2013, Dunga passou por indecisão ainda maior que a de Renato quando contava com o uruguaio Forlán e o quarteto argentino Bolatti, Dátolo, D”Alessandro e Guiñazu – este último, os colorados tentaram até naturalizar brasileiro. Em 2011, no Cruzeiro, Cuca queria, porém não podia escalar ao mesmo tempo os argentinos Montillo e Farías, o uruguaio Victorino e o paraguaio Ortigoza.
Mas não foi necessário recorrer à Lei Bosman. Em dezembro, a CBF atendeu ao pedido gremista e, tão logo a regra mudou, o tricolor gaúcho foi o primeiro a tirar proveito. Vargas saiu e chegaram outros dois argentinos, o zagueiro Canavésio e o meia Alán Ruiz. Embora tenha perdido o holandês Seedorf, o Botafogo também já atingiu a cota de cinco gringos. Palmeiras, Flamengo e Vasco, com quatro cada um, vêm na cola.
O que explica tamanha tendência importadora? Segundo empresários, dirigentes e jogadores ouvidos pela PLACAR, as discrepâncias econômicas aumentam em comparação aos vizinhos de Cone Sul e diminuem em relação à Europa. Jogador top de linha no Brasil ganha hoje três ou quatro vezes mais do que uma estrela de time grande portenho.
“Os estrangeiros de destaque aqui alcançam 700000 reais mensais. O Barcos, por exemplo. No Boca Juniors, os melhores ganham isso em um ano”, compara o empresário Roberto Miguel. No Uruguai, a disparidade é maior. “Lá o teto não passa de 35000 reais.”
Gringos x nativos
Diretor-executivo de futebol do Grêmio, Rui Costa vê, em um futuro bem próximo, meio time titular formado por estrangeiros. “Hoje, com 3 milhões de reais é difícil contratar um jogador no Brasil, mas com esse dinheiro você traz um time inteiro do Uruguai ou do Paraguai”, diz. Outro parâmetro: fosse um clube brasileiro, o Boca Juniors estaria em 11º lugar entre as maiores receitas, segundo estudo do Itaú BBA baseado nos balanços dos principais times do continente. Principalmente em razão do profundo abismo entre os ganhos referentes aos direitos de televisionamento. No Brasil, a maior cota paga pela Rede Globo é a do Corinthians: 153,8 milhões de reais em 2013. Boca e River Plate, os que mais ganham do programa estatal argentino Fútbol para Todos, embolsam o equivalente a 12 milhões de reais cada um.
“A admiração dos brasileiros pelos argentinos é antiga. Mas antes era impossível contratá-los. Os salários eram proibitivos para o mercado brasileiro. Quando passamos a ter uma condição financeira melhor do que a dos argentinos, eles passaram a querer vir ao Brasil. Hoje, é preciso fazer uma seleção muito rigorosa dos que poderiam jogar aqui, pois os grandes nomes quase sempre estão na Europa”, afirma Fernando Carvalho, ex-presidente do Internacional.
Carvalho indicou e contratou dois dos principais gringos dos tempos modernos do Inter: Guiñazu e D”Alessandro. Desde 2008 no Inter, o meia é o mais longevo estrangeiro atuando em alto nível no país. É capitão do Inter há três temporadas e um dos maiores ídolos da história do clube. Em abril, cumprirá 33 anos. Entende que o Brasil se tornou uma das principais opções de mercado para jogadores em ascensão e que o aumento da cota estrangeira foi um avanço.
“O Brasil está muito bem e isso pesa na hora de o jogador escolher”, diz D”Alessandro. “Agora virão mais estrangeiros e isso vai exigir que os clubes sejam ainda mais profissionais, por necessitar buscar as informações precisas dos jogadores que trarão. Não adianta só ter um jogador por ser de fora, mas, sim, por sua capacidade de jogar e pela sua mentalidade.”
Darío Conca é um dos raros exemplos de gringo pouco conhecido que só vingou no Brasil, depois de passagens apagadas por River Plate, Universidad de Chile e Rosário Central. Bem no Vasco, foi contratado pelo Fluminense e atingiu a condição de ídolo no título brasileiro de 2010. “Trazemos uma escola diferente não só na parte técnica, mas também na parte tática e disciplinar”, afirma. “Na Libertadores, quando enfrentamos times do continente, a bagagem que esses atletas carregam é de extrema importância.”
Briga com a Europa
Segundo o empresário Humberto Paiva, intermediário entre clubes brasileiros e europeus, o mercado local já compete com o do velho continente. Citou a contratação do Atlético-PR, em 2013, do meia espanhol Fran Mérida, 24 anos, revelado nas canteras do Barcelona e com passagem pelo inglês Arsenal. Neste ano os paranaenses trouxeram o técnico espanhol Miguel Ángel Portugal, com passagem pelo Real Madrid B. Até o fim de 2013, o Botafogo sustentava Seedorf com cerca de 800000 reais mensais. “O sul-americano passa a valer muito mais assim que pisa no Brasil. Consequentemente, ganha mais em uma futura transação. E o clube, que o contrata a preço de banana, idem”, afirma Paiva.
Contratado pelo São Paulo este ano, o lateral-esquerdo da seleção uruguaia Alvaro Pereira desconversa a respeito dos salários vultosos e cita o elevado nível técnico como principal atrativo do futebol brasileiro. “Quase todos os estrangeiros que atuam aqui hoje têm passagens pelas seleções de seus países”, diz. De fato, nem sempre foi assim. Nos anos 80 e 90 chegavam gringos de segunda linha aos montes. Mesmo os bons dificilmente eram protagonistas em seus clubes. Cenário mudado por Tévez no Corinthians em 2005, por Conca, Bola de Ouro de 2010, e, no ano passado, com ao menos seis clubes grandes estrelados por estrangeiros. Vide Botafogo (Seedorf e Lodeiro), Corinthians (Guerrero), Palmeiras (Valdívia), Santos (Montillo), Grêmio (Barcos) e Internacional (D”Alessandro). O Colorado, em 2012, importou o uruguaio Forlán, eleito dois anos antes o melhor da Copa da África do Sul.
Para o meia paraguaio Mendieta, do Palmeiras, com o equilíbrio econômico em relação à Europa, a proximidade do Brasil tornou-se uma vantagem considerada pelos sul-americanos. “O Brasil tem hoje um dos melhores campeonatos do mundo. Então muitos optam por ficar perto de casa.” O meia vê também a competição como valiosa vitrine. “Com o Palmeiras na série A, creio que as chances de ser convocado para a seleção aumentam.” Assim foi com os argentinos Montillo e Barcos, selecionados depois que vieram para o Brasil.
A antropóloga Carmem Rial, da Universidade Federal de Santa Catarina e presidente da Associação Brasileira de Antropologia de Santa Catarina, estuda há dez anos a circulação de jogadores de futebol pelo mundo. Ela sintetiza o que dizem os profissionais da bola. “Os jogadores, que são ao mesmo tempo capital e força de trabalho, deslocam-se para onde for possível gerar mais lucros e obter melhor salário. E somos uma boa `vitrine”, assim o Brasil pode ser visto como trampolim para novos mercados. Pude comprovar recentemente em visita à Ilha de Sal, a menor do arquipélago de Cabo Verde, quando assisti a um jogo do Paulistão em um bar local.” “O Brasil está no mesmo nível da Europa. Além de o futebol ser muito bom, ainda tem um bom salário, muitas vezes até melhor que lá”, diz o atacante uruguaio Lodeiro, do Botafogo, que veio do Ajax-HOL.
Risco formação
Muricy Ramalho tem visão pessimista. O técnico do São Paulo relaciona a busca por atletas de fora a uma crise nas categorias de base. Ele tocou no assunto em coletiva no início deste ano. “É preocupante. Estão trazendo tantos do exterior. O futebol brasileiro nunca tinha passado por isso. Precisamos de centroavante para revezar com o Luis Fabiano, mas não temos na base. E a reposição está difícil. Converso com outros treinadores, até para trocar, mas não tem.” No dia anterior a essa entrevista, 30 de janeiro, o São Paulo apresentava seu novo reforço: o atacante colombiano Pabón. “Creio que o futebol brasileiro quer manter um estilo de jogo. E uma posição como a minha, no meio-campo, é difícil de encontrar. Por exemplo, na Argentina, também há essa escassez, mas não há muita compra de jogadores. Na minha posição, menos ainda. Então se perde um estilo de jogo lá, enquanto aqui se procura mantê-lo com quem vem de fora”, afirma o meia flamenguista – e argentino – Mugni, contratado em janeiro.
Na Inglaterra, a escassez de nativos nas formações titulares dos principais times obriga o técnico da seleção Roy Hodgson a garimpar em clubes longe do topo da tabela da Premier League antes de convocar. Para o último amistoso, dia 5 de março contra a Dinamarca, Hodgson recorreu a sete jogadores de times pequenos, sendo quatro do Southampton, que ocupava a oitava colocação no campeonato. Na Copa de 2010, os três goleiros convocados pelo então técnico, o italiano Fabio Capello, atuavam em clubes medianos da Premier League – David James (Portsmouth), Robert Green (West Ham) e Joe Hart (Birmingham).
Um reflexo dessa internacionalização é a supremacia brasileira na Libertadores. Contra rivais enfraquecidos, clubes do país conquistaram as últimas quatro edições – foram títulos consecutivos de Internacional (2010), Santos (2011), Corinthians (2012) e Atlético-MG (2013). Não há final sem a bandeira verde-amarela desde 2004, quando o colombiano Once Caldas venceu o Boca Juniors. A Conmebol modificou o regulamento, obrigando times do mesmo país a se enfrentarem a partir das quartas de final, a fim de impossibilitar decisões entre brasileiros, como as de 2005 e 2006. Estudam agora acabar com a distribuição de vagas de acordo com o peso das nações na história do torneio. Seriam dois por país. Medida claramente prejudicial ao Brasil. Mas capaz, quem sabe, de evitar que a soberania nacional continue tão frequente quanto os interurbanos dos empresários.
O que os jogadores dizem
“Jogar no Brasil sempre foi um sonho. Desde criança, sempre me identifiquei com o estilo de jogo de vocês, além de ser um natural trampolim para a Europa.”
Alán Ruiz, uruguaio, atacante do Grêmio
“Quase todos os estrangeiros que atuam aqui hoje têm passagens pelas seleções de seus países.”
Alvaro Pereira, uruguaio, lateral-esquerdo do São Paulo
“O Brasil tem hoje um dos melhores campeonatos do mundo. Então muitos optam por ficar perto de casa.”
Mendieta, paraguaio, meia do Palmeiras
“O Brasil tem muito potencial para ser uma liga ainda mais forte, basta que quem toma conta do esporte se esforce e pense realmente no futebol do país.”
D”Alessandro, argentino, meia do Internacional
“A confiança nos gringos é uma coisa positiva. E quem ganha com isso é o futebol brasileiro e nós também, afinal, o Brasil é a vitrine do futebol mundial, ainda mais em ano de Copa.”
Darío Conca, argentino, meia do Fluminense
“O Brasil está no mesmo nível da Europa. Por isso tantos jogadores, quando têm possibilidade, vêm para o futebol brasileiro. E ainda tem um bom salário, até melhor que na Europa.”
Lodeiro, uruguaio, atacante do Botafogo
Mico argentino
Tricampeão da Libertadores e jogador argentino com mais partidas na história da competição. Foi com esse currículo que, em junho de 2013, aos 31 anos, o lateral-esquerdo Clemente Rodríguez chegou ao São Paulo. Contudo, após pouco mais de um semestre no Morumbi em que jogou apenas três partidas, Clemente foi liberado no fim do ano passado para negociar com outros clubes. A falta de mercado, porém, fez com que o estafe do jogador encerrasse a busca por novos destinos. O vice-presidente de futebol do São Paulo, Jesus Lopes, evita falar em “mico”. “Alguns [estrangeiros] se adaptam bem ao futebol brasileiro, outros não”, diz. Com Muricy, não chegou a entrar em campo uma vez sequer. “A maioria dos laterais deles [Argentina] é de marcação. Eles têm dificuldades para apoiar”, disse o treinador após a derrota para o Fluminense por 2 x 1, em novembro, quando optou por começar com o meia Lucas Evangelista na lateral esquerda.
Por Bruno Rodrigues
Gaúchos sem fronteira
Talvez se explique pela vizinhança ou até mesmo pelo pampa. A verdade é que o Rio Grande do Sul é a grande porta de entrada para os platinos no futebol brasileiro. Hoje, os centenários Grêmio e Inter já viram mais de 140 gringos fardarem as suas camisas. “O Grêmio sempre trouxe muitos estrangeiros. Principalmente no fim dos 60, início dos 70, o mercado brasileiro absorvia muitos argentinos. Depois, passou um longo período em que só se buscavam paraguaios. O problema é que os paraguaios não conseguiam manter a mesma qualidade”, diz Fernando Carvalho, ex-presidente do Inter e admirador de jogadores estrangeiros. “O rendimento em campo é que vai definir se o torcedor vai gostar mais ou menos do atleta. Isso pode acontecer um pouco mais no Sul, pela proximidade com a Argentina, com o Uruguai”, afirma D”Alessandro, maior ídolo da história recente colorada. Mas a sorte não é à prova de falhas. No Inter, há quatro exemplos recentes: os argentinos Mario Bolatti, Fernando Cavenaghi, Jesus Dátolo e Ignacio Scocco.
Por Frederico Langeloh
Os gringos da base
Os clubes brasileiros passaram a investir em jovens promissores antes mesmo de eles se tornarem profissionais. A receita é: quanto antes eles chegarem, mais baratos ficam. O Grêmio começou em janeiro de 2013 e hoje mantém um centro de monitoramento. Com um software capaz de cruzar as aptidões dos jogadores, caça talentos em 16 países. Atualmente, 35 atletas estão sob análise do departamento de formação, coordenado por Júnior Chávare, profissional que entre 2009 e 2010 fazia esse serviço na Juventus-ITA. O zagueiro argentino Canavésio, 20 anos, é o primeiro fruto desse projeto. “Jogador sul-americano não tem saudade, tem carreira. Taticamente, um zagueiro argentino de 20 anos parece ter 35”, diz Chávare. Clube com tradição em formar atletas, o Fluminense também aposta no “pé de obra” de fora. Treinam em Xerém o goleiro húngaro Daniel Kovcs, 20 anos, o lateral italiano Mirko Di Piero, 18, e o uruguaio Bryan Oliveira, 19. O Botafogo recebeu o chinês Tang Shi, 17. Também passaram por testes na base botafoguense um liberiano, um americano e um holandês.
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