Em 2000, Brasil se despediu do velho Wembley com gol de França
Antes do empate em 1 a 1, PLACAR elencou todos os duelos da seleção brasileira no mítico estádio em Londres; relembre
Brasil e Inglaterra se enfrentam em amistoso em Wembley, em Londres, no próximo sábado, 23, às 16h (de Brasília). O mais famoso dos estádios britânicos recebeu 12 duelos entre as seleções ao longo da história, 9 deles na versão antiga do estádio. O último deles teve como protagonista o atacante França, ídolo do São Paulo, autor do gol de empate em 1 a 1 (Michael Owen marcou pelos anfitriões), em 27 de maio de 2000.
Em sua última edição antes do compromisso, PLACAR dedicou um “Tira-Teima” dos confrontos entre Brasil e Inglaterra no velho Wembley. Na ocasião, como relembra a matéria escrita por Arnaldo Ribeiro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), alardeava o jogo como o adeus do estádio – mas apenas para o Brasil. O último jogo no local antes da demolição terminou com gosto amargo para os britânicos: derrota por 1 a 0 para a Alemanha, com gol de Dietmar Hamann, em 7 de outubro daquele ano.
Até então, o retrospecto era totalmente equilibrado: duas vitórias para cada e quatro empates. O Brasil, porém, não voltou a vencer no local. Além do empate em 2000, igualou mais duas no novo Wembley, em 2007 e 2017, e perdeu uma em 2013, por 2 a 1. O blog #TBT PLACAR, que todas as quintas-feiras recupera um tesouro de nossos 54 anos de acervo, reproduz abaixo a matéria de maio de 2000:
Tira-teima final
Dia 27, o Brasil pega a Inglaterra pela última vez em Wembley, que virá abaixo. No mais charmoso estádio, criatura e criador se equivalem
Arnaldo Ribeiro
É verdade que a CBF, para variar, forçou a barra, vendendo o jogo como “o último de Wembley”. Não é. Mas o confronto do próximo dia 27 entre Inglaterra e Brasil está longe de ser um jogo qualquer. Inglaterra, a criadora do futebol, e Brasil, a mais perfeita criatura, farão o tira-teima final dos duelos entre as duas seleções no maior templo do futebol mundial. De quebra, será um jogão entre duas das melhores equipes do planeta.
Com equilíbrio absoluto – oito jogos, duas vitórias para cada um, quatro empates, dez gols marcados e dez sofridos – , a próxima partida encerra a série. Afinal, será a última vez que os brasileiros entrarão no glamouroso Wembley, antes que ele seja demolido para a construção de uma moderna arena esportiva no local, como prevê o projeto da candidatura inglesa para a Copa de 2006.
A CBF fez propaganda enganosa, alardeando o jogo como o último do estádio. Estão confirmados pelo menos mais dois após a visita do Brasil. A Inglaterra vai enfrentar a Ucrânia quatro dias depois de pegar o Brasil e, finalmente, a Alemanha, no dia 7 de outubro, pelas Eliminatórias da Copa de 2002. Sempre em Wembley. Só então começarão a ser dadas as primeiras marteladas no concreto.
O novo Wembley está previsto para ficar pronto em 2003, sem as tradicionalíssimas torres gêmeas, que serão substituídas por um arco de 153 metros de altura. A mudança causa arrepios nos ingleses mais tradicionais e também nos brasileiros que viveram momentos inesquecíveis no estádio. “Fora o lado da tradição, será melhor a substituição de Wembley por um estádio mais moderno. Hoje, você tem pilastras lá que impedem que parte do público veja bem a partida””, justifica o meia brasileiro Juninho, hoje em sua terceira temporada no futebol inglês, no Middlesbrough.
O estádio mais charmoso do mundo foi inaugurado em abril de 1923, com a decisão da Copa da Inglaterra entre Bolton Wanderers e West Ham. Havia tanta gente que as arquibancadas não comportaram o público, que se amontoou em pleno gramado. Foi necessária a intervenção da polícia montada (por isso, o jogo ficou conhecido como a “Final do Cavalo Branco”) para tirar o povo do campo. Mas a torcida viu mesmo o jogo à margem das quatro linhas. Essa é apenas a primeira lenda de 77 anos de história.
A Seleção pisou pela primeira vez no gramado mais impecável do planeta em 1956. Nílton Santos levou um baile do recentemente falecido Stanley Matthews, então com “apenas” 41 anos. Gilmar pegou dois pênaltis, e ainda assim o Brasil saiu derrotado por 4 x 2.
Juninho é um dos casos de brasileiros que fizeram história em Wembley. Ele conquistou os ingleses na vitória de 3 x 1 do Brasil, em 1995, pela Copa Umbro, e, pouco tempo depois, foi contratado a peso de ouro. Repetiu a trajetória de Mirandinha oito ano depois. Em 1987, o centroavante do Palmeiras fez um gol em Wembley pela Seleção e acabou se transformando no primeiro brasileiro a jogar na Inglaterra, no modesto Newcastle.
Wembley também tem seu lado triste para alguns craques brasileiros. Em 1992, o esforçado Charles Guerreiro, então no Flamengo, teve a chance de se consagrar, mas perdeu um gol incrível. Livre, chutou a bola praticamente para fora do estádio e viu ser sepultada a sua carreira na Seleção.
E os feitos de Pelé em Wembley? Pois é. O maior jogador de todos os tempos nunca jogou no estádio mais famoso do mundo. Em 1963, Aymoré Moreira convocou toda a linha do Santos para tentar derrotar os ingleses pela primeira vez no campo deles, mas Pelé sofreu um acidente automobilístico e não pôde ir, sendo substituído por Amarildo, que atuou com Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe.
Jogos da seleção brasileira no velho Wembley
9.mai.56
Inglaterra 4 x 2 Brasil
“Quando entrei em Wembley, senti orgulho. Eu cheguei a defender dois pênaltis nesse jogo e a impressão que ficou é que poderíamos ter perdido por muito mais. Enfrentamos um time muito bom, que, infelizmente, foi quase todo vitimado por aquele acidente de avião com a delegação do Manchester United, pouco antes da Copa do Mundo de 58. De qualquer forma, a derrota serviu de lição para o Mundial da Suécia. Acabamos tirando proveito daquele jogo, enquanto os ingleses, por motivos óbvios, já não tinham o mesmo poderio dois anos depois.”
Gilmar dos Santos Neves, 69 anos, trabalha no Centro Olímpico do Ibirapuera, em São Paulo
8.mai.63
Inglaterra 1 x 1 Brasil
“Tive de fazer uma dupla função. Sem deixar de ser o ponta ofensivo de sempre, precisei ajudar o Rildo atrás. Perdi três quilos, mas dei conta do recado e ainda fiz um gol de falta, de longe. O Banks mandou tirar a barreira. Acho que ele não me conhecia direito.”
José Macia, o Pepe, 65 anos, é supervisor da Ponte Preta
19.abr.78
Inglaterra 1 x 1 Brasil
“Foi um jogo de preparação para a Copa de 78, na Argentina. Fiz o gol do Brasil e, depois do jogo, me disseram que eu havia sido o primeiro brasileiro a marcar em Wembley, o que, depois, constatei que não era verdade. Fiquei todo emocionado. Recebi uma réplica do estádio em miniatura com o meu nome, que eu guardo até hoje. É um crime demolir Wembley. Aquilo parece um palácio. O gramado é como uma mesa de sinuca.”
Gilberto Alves, o Gil, 49 anos, é técnico do São Cristóvão
12.mai.81
Inglaterra 0 x 1 Brasil
“Assim como o Maracanã, Wembley é um estádio que tem uma magia própria. Mas eu só fiquei sabendo que havia sido a primeira vitória do Brasil lá depois do jogo. O que muita gente nunca soube é que eu tive de sofrer muito para entrar em campo. Na época, eu estava com uma série de furúnculos pelo corpo e só pude jogar porque o doutor estourou o pior deles, debaixo do braço, com um bisturi. A sangue-frio mesmo. Foi uma das piores dores que senti na minha vida, mas valeu a pena.”
Arthur Antunes Coimbra, o Zico, 47 anos, é empresário e proprietário do CFZ
19.mai.87
Inglaterra 1 x 1 Brasil
“Foi um jogo que me marcou por diversos fatores. Meu ídolo Ayrton Senna foi até o vestiário e nos cumprimentou antes do jogo. As maiores feras do futebol, Maradona, Keegan e Beckenbauer, estavam lá e fui eleito o melhor em campo. Na minha primeira chance na Seleção principal, fiz o gol e, depois, quebrei o tabu, me tornando o primeiro brasileiro a jogar na Liga Inglesa (Newcastle).”
Francisco Ernandi Lima da Silva, o Mirandinha, 40 anos, é técnico na Arábia Saudita
28.mar.90
Inglaterra 1 x 0 Brasil
“Wembley é um estádio normal. Templo mesmo é o Maracanã, onde você sente um frio na barriga toda vez que entra em campo. Mas aquele jogo foi especial. Entrei no segundo tempo, driblei o goleiro e toquei para o gol. O zagueiro (Pearce) defendeu com a mão, dentro do gol, e o juiz (Klaus Peschel, da antiga Alemanha Oriental) fez que não viu. Todas as imagens de TV constataram que a bola entrou, mas era tarde.”
Luís Antônio Corrêa da Costa, o Müller, 34 anos, joga hoje no Cruzeiro
17.mai.92
Inglaterra 1 x 1 Brasil
“Foi a mais importante das minhas sete partidas pela Seleção, pela tradição, pela história e por um lance inesquecível. Eu tive a chance de fazer o gol que daria a vitória o Brasil. O Valdeir ajeitou e eu peguei muito embaixo da bola, chutando por cima. Se a bola tivesse entrado, provavelmente eu teria seguido a minha carreira na Seleção, mas nada deu certo naquele dia.”
Charles Natali de Mendonça Ayres, o Charles Guerreiro, 35 anos, joga no Paysandu
11.jun.95
Inglaterra 1 x 3 Brasil
“Fiz o primeiro gol da virada que nos deu o título da Copa Umbro e senti durante o jogo o que iria comprovar tempos depois: o futebol inglês é duro, mas não violento. Esse jogo abriu as portas para mim na Seleção e na Europa. O Middlesbrought me contratou assim que completei o número de jogos mínimos pela Seleção que a Liga exige (apenas estrangeiros com passagem por suas Seleções podiam jogar na Inglaterra).”
Osvaldo Giroldo Júnior, o Juninho, 27 anos, joga no Middlesbrough
Eliminatórias
O inimigo mora ao lado
Nem uruguaios, nem paraguaios, nem mesmo os argentinos. Os maiores adversários da Seleção nas intermináveis e previsíveis 18 rodadas das eliminatórias são os paulistas e os cariocas. Exigentes, bairristas, eles não devem dar sossego a Wanderley Luxemburgo enquanto não forem atendidos.
O técnico recebeu o primeiro aviso na vitória de 3 x 2 sobre o Equador, em São Paulo. O tímido apoio inicial logo transformou-se em vaias e gritos de “burro””. Os torcedores pediram de Rogério Ceni a Romário. Preocupado com os outros quatro jogos no Morumbi (Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela), Luxemburgo preferiu fazer média. “Agradeço a recepção maravilhosa dos paulistas; as vaias, no final, foram normais, já que o resultado ficou apertado.””
A pressão enfrentada no Morumbi é só uma prévia do que se projeta para o primeiro jogo no Rio, em 28 de junho, contra o Uruguai “24 dias após o time ter enfrentado o Peru na inauguração do estádio Monumental U, em Lima. Se não conseguiu cativar os paulistanos, imagine os flamenguistas, revoltados com a não liberação de Athirson para o clássico com o Vasco, e os vascaínos, irados com as ausências de Romário e Edmundo?
E a imprensa do Rio? Após o jogo com o Equador, Luxemburgo foi quase obrigado a balbuciar que Romário está no seu grupo de 35 “pré-selecionados”: “Vamos chamá-lo na hora certa.””
O técnico quer compreensão para o futebol mirrado. “Sem treino, fica difícil: todo jogo vai ser doído.”” Para os jogadores, ele pediu abnegação. Usou Ronaldinho Gaúcho, barrado do jogo com o Equador por excesso de peso, como exemplo para os demais. “O atleta terá de se preparar no clube para jogar na Seleção e por isso eu posso tomar essas atitudes intempestivas. Para mim, a Copa já começou.””