Em 1999, Petkovic sofria com guerra na Iugoslávia: ‘É um massacre’
Destaque no Brasil atuando pelo Vitória, meia falava sobre preocupação com a família e tristezas que carregava pelos conflitos na região hoje dividida
O conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado há exatamente uma semana com a invasão de tropas russas no território ucraniano, tem causado enorme rastro de destruição. Em 1999, há quase 23 anos, o meio-campista sérvio Dejan Petkovic, que ganhava destaque no futebol brasileiro atuando pelo Vitória, falava sobre as tristezas que carregava pelos conflitos em outro local, na antiga Iugoslávia, hoje dividida em Eslovênia, Croácia, Sérvia, Montenegro, Bósnia-Herzegovina e Macedônia.
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“Participei de um fórum de atletas e intelectuais sérvios. Foi um protesto contra a ofensiva da Otan em nosso país. É um massacre o que estão fazendo com a gente”, disse na edição de maio daquele ano a PLACAR.
Hoje comentarista esportivo dos canais SporTV, Pet fez sucesso atuando com as camisas de Flamengo, Vasco e Fluminense, mas precisou carregar marcas e temores para fazer história no futebol do país.
“Estamos apenas lutando pelo que é nosso. A soberania da Iugoslávia está em jogo. Nós sempre acolhemos muito bem as pessoas de outros países, mas não podemos aceitar que a Iugoslávia seja prejudicada. É a mesma coisa de o Brasil acolher seus vizinhos como, por exemplo, uruguaios ou paraguaios e, depois, os dois países reivindicam parte do território brasileiro. O que não dá para aceitar é o ataque da Otan, a mando dos Estados Unidos”, opinou.
“Eu me emociono todos os dias quando vejo as imagens dos ataques. Meus pais moram em Belgrado (então capital da Iugoslávia) e converso com eles diariamente. É muito difícil estar longe neste momento”, completou.
A guerra desintegrou uma nação. Em 1991, a Croácia, junto com a Eslovênia, colocou fim ao sonho do projeto chamado “Grande Sérvia” que reuniria além dos seis países as regiões independentes de Vojvodina e do Kosovo. Os países declararam independência.
Em 1992, a Bósnia-Hezergovina entrou na pior guerra civil de sua história opondo aqueles que tinham origem sérvia aos de origem muçulmana e croata. A cidade de Saravejo ficou sob cerco durante quatro anos, deixando um saldo de mais de 10 000 mortos, sendo que 1 600 crianças. Os conflitos tinham como motivação diferenças étnicas e religiosas.
Posteriormente, já nos anos 2000, foi a vez da República de Sérvia e Montenegro se separar e virar duas nações independentes.
Leão da Sérvia
O atual líder do troféu Chuteira de Ouro de PLACAR, o sérvio Petkovic, do Vitória, sai em defesa do seu povo no conflito da Iugoslávia
Como você avalia suas chances de ganhar a Chuteira de Ouro, troféu que será dado por PLACAR ao maior goleador da temporada 1999? Tenho de manter o ritmo. Realmente, atravesso uma ótima fase e estou fazendo gols em quase todos os jogos, mas a concorrência é grande. O Brasil tem excelentes atacantes e todos podem ganhar o troféu.
O que foi discutido na reunião dos jogadores iugoslavos feita na Espanha? Participei de um fórum de atletas e intelectuais sérvios. Foi um protesto contra a ofensiva da Otan em nosso país. É um massacre o que estão fazendo com a gente.
Mas não são os sérvios que estão massacrando os albaneses? Estamos apenas lutando pelo que é nosso. A soberania da Iugoslávia está em jogo. Nós sempre acolhemos muito bem as pessoas de outros países, mas não podemos aceitar que a Iugoslávia seja prejudicada. É a mesma coisa de o Brasil acolher seus vizinhos como, por exemplo, uruguaios ou paraguaios e, depois, os dois países reivindicam parte do território brasileiro. O que não dá para aceitar é o ataque da Otan, a mando dos Estados Unidos.
Como a guerra está afetando a sua vida? Eu me emociono todos os dias quando vejo as imagens dos ataques. Meus pais moram em Belgrado (capital da Iugoslávia) e converso com eles diariamente. É muito difícil estar longe neste momento.
O Vitória está lhe devendo quase 400 000 dólares. Isso não desmotiva? Não gosto de falar sobre esse assunto. O importante é que a diretoria está se esforçando para honrar todos os compromissos. Estou bem no clube. Tenho certeza de que jamais serei prejudicado por qualquer dirigente do Vitória.
Você foi pretendido por Santos, São Paulo e Corinthians. Por que ficou no Vitória? Todos esses grandes clubes demonstraram interesse, mas não chegaram a um acordo com o Vitória. Todo jogador sonha em defender um clube como o Santos, o São Paulo ou o Corinthians. Mas estou bem aqui e completamente adaptado a vida em Salvador.
Por que o Vitória não consegue conquistar títulos importantes? O Vitória está no caminho certo. O time é jovem e investe nas divisões de base. Nos dois últimos Campeonatos Brasileiros fomos prejudicados pelas arbitragens.
Como aprendeu português tão rápido? Eu jogava no futebol espanhol. Assim, não tive grandes dificuldades para entender o português. Além disso, como sou muito esforçado, aprendi o português lendo os jornais e ouvindo músicas diariamente.
Antes, o que você conhecia do Brasil? Pelé. Na minha infância vi fitas com seus gols e jogadas geniais. Também tenho fitas do Zico e do Careca.