Mascarado, eu?
Sempre briguei pelos meus direitos. O que muitos chamavam de “máscara”, prefiro dar outra definição: era personalidade
Estava dando um pulo rapidinho, no Kurt, do Leblon, para comprar um pedaço de torta quando alguém me grita “Ô, mascarado!”. Já ia partir para cima, conferir se as aulas de boxe que vinha fazendo deram resultado. Mas era o flanelinha, que guarda e lava os carros da rua. Só então lembrei que estava de máscara para me proteger desse coronavírus maldito. Mas malditos mesmo são esses políticos, que mesmo em um momento crítico como esse, com a população fragilizada, nos deixam cheios de dúvidas.
O melhor é ouvir o que os médicos sugerem porque morreremos se dependermos dos políticos. Mas achei divertido esse grito de “mascarado” porque ouvi durante toda a minha carreira, na verdade desde o infanto-juvenil quando jogava no futebol de salão do Flamengo. Adorava quando ia jogar nas quadras de taco. As duas do Flamengo eram de cimento, mas as do Vasco, Vila, Grajaú, Melo, Carioca e Fluminense eram lindas, de madeira.
A primeira vez que me chamaram de “mascarado” foi em um jogo contra o Vasco. O goleiro deles era o Borrachinha e tinham um “cracaço”, Antônio Carlos Cabeça. O meu era Alcides e Marcelo revezando no gol, Fred de parado, Johnson, excelente pivô, eu e Maurício. Foi 4 a 4, e meti os quatro. Era brincalhão, abusado, gostava de dar caneta e isso irritava a torcida adversária. Mas quebrava a cara quando encontrava um Tamba pela frente. Tomei uma goleada inesquecível quando joguei contra ele, na Associação Atlética Tijuca. Que jogador!!!
Depois, aos 15 anos, fui levado para a Colômbia, por Marinho, meu pai adotivo e treinador do Junior Barranquilla. Na minha estreia contra o Milionários, de Bogotá, ganhamos de cinco e meti três. Mas era fácil jogar com Oto Valentim, Airton Beleza, Escurinho, Dida e Fred, meu irmão adotivo, todos levados pelo grande Marinho. Aí veio minha estreia pelo Botafogo, no Maracanã, três contra o América e o título.
Como meus amigos eram de classe média alta me vestia com as grifes da época. Achavam marra, mas era estilo!!! Lia muito e não aceitava desaforos e ofensas. Me irritei porque a diretoria do Botafogo deu uma volta no meu pai. E a partir daí sempre briguei pelos meus direitos. Isso virou máscara, mas era personalidade!
Quando viajei para os Estados Unidos, conheci o os negros de lá e suas ideologias aí que ninguém me segurou. Voltei com um black power laranja e calça boca de sino. No aeroporto de São Paulo, os adversários fizeram a festa. “Mascarado” foi pouco! Mas continuei fazendo meus gols e dançando à noite nas boates do Rio. Minha carreira toda foi assim.
Aí ligo a tevê e noticiam a morte de meu amigo Moraes Moreira. Meu Deus, quantas peladas, noitadas e loucuras. Moraes viveu intensamente e fez um cordel para mim e um trecho diz assim: “chamado o nariz de ferro, pois sempre encarou sem medo, jogar era seu segredo, eu falo assim e não erro, ninguém ganhava no berro. Qual era a sua função? Marcar posição…”
Obrigado, parceiro! Carregarei para sempre você, meu cordel e minha máscara, que como você bem definiu, representa minha verdade, minha liberdade de expressão.
PAULO CÉZAR LIMA (Moraes Moreira)
A Paulo Cézar eu devia
Uma canção, um poema
Umas palavras, um tema
A força da poesia,
Aqui e a agora eu diria
Um mote, ou mesmo um refrão
Já que o nosso campeão
Merece um grande destaque,
No campo ele foi um craque
Na vida é um cidadão
Chamado o “nariz de ferro”
Pois sempre encarou sem medo
Jogar era o seu segredo
Eu falo assim e não erro,
Ninguém ganhava no berro
Qual era a sua função?
Marcar sua posição
Brilhando em qualquer ataque,
No campo ele foi um craque
Na vida é um cidadão
Nos clubes onde atuou
Escreveu sua história
Viveu momentos de glória
Foi longe, se consagrou
Seu futebol decolou
Foi visto na seleção
Lá na Europa então
Consolidou seu sotaque,
No campo ele foi um craque
Na vida é um cidadão
Olhando através das frestas
No tempo da consciência
Compartilhando vivência
Vai dando suas palestras,
Mostrando que molas mestras
A vida tem de montão
Não cabe tudo aqui não
É grande o seu almanaque,
No campo ele foi um craque
Na vida é um cidadão