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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

Pelé e Coutinho: o ‘Cosme e Damião’ do futebol

Inspirado pela data católica, cronista vai ao jogo da mais bela tabelinha e dá ‘spoilers’ sobre futuras duplas de ataque que vão ganhar a eternidade

Se já é difícil encontrar a ‘alma gêmea’ na vida amorosa, imaginem no futebol! Mas esses encontros, embora raros, acontecem – e, em ambos os casos, são cercados de romantismo. Nos gramados, Pelé e Coutinho são o melhor e maior exemplo e, na segunda década do próximo século, ainda serão a principal referência em matéria de ‘dupla de ataque’ perfeita, “feitos um para o outro”. Informo a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1963, que sou um Viajante do Tempo, vindo de 2022, e que até lá surgirão outros ‘duetos’ especiais no Brasil e no Mundo, mas os dois atacantes do Santos terão tamanha relevância que a junção de seus nomes será incorporada à linguagem das ruas. Sempre que duas pessoas demonstrarem entrosamento e sintonia quase mágicos, assim diremos: “Tipo Pelé e Coutinho!”. Mais usada até que outra expressão comum para quando nos referimos a duplas especiais e inseparáveis, inclusive no futebol: “Cosme e Damião”. Mas registre-se que, ao contrário dos dois irmãos gêmeos beatificados sem qualquer comprovação de fenômenos ou graças alcançadas, no campo, com a bola rolando, Pelé e Coutinho ‘fazem milagres’!

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Uma das maiores provas disso foi testemunhada ontem, no Estádio Olímpico, em Porto Alegre, na primeira partida da semifinal da Taça Brasil deste ano, entre Santos (3 x 1) e Grêmio. E não falo dos três gols santistas – 2 de Coutinho; 1 de Pelé – na virada do placar. O que apresento como ‘comprovação milagrosa’ é uma jogada que, por maldade do destino (conheço bem esta ‘figura’), não terminou em gol: Pelé e Coutinho arrancaram juntos, como de costume, do meio-campo, dando dois lençóis, um cada um, e seguindo com trocas de passes de cabeça até o arremate à meta gremista, defendido pelo arqueiro. Daqui a 59 anos o lance ainda será lembrado e apontado por aqui como a mais bela ‘tabelinha’ já feita na história do esporte. Até a torcida adversária aplaudiu de pé, pois foi mesmo um presente da dupla a todos no estádio. Tipo pacotinho de doces e balas que crianças recebem no Dia de São Cosme & Damião (27 de setembro): um presente ‘mais que esperado’.

Cosme e Damião
Cosme e Damião

O ‘frisson’ que antecedeu a partida é mais que justificável. Afinal, a disputa poria frente à frente o time bicampeão mundial e o badalado Grêmio, atual campeão gaúcho. A correria foi tanta que, como se sabe, provocou protestos de vereadores contra a ação de cambistas e a inusitada experiência de colocar cadeiras (3 mil) no gramado para o público. O gol aos 6 minutos da primeira etapa, de Paulo Lumumba, deu ao Grêmio a falsa impressão de que conseguiria triunfar sobre o poderoso Santos. Mas novamente advieram a sincronicidade, a sinergia e o feitiço da ‘dupla perfeita’. E principalmente a palavra que melhor define o futebol de Pelé e Coutinho, juntos. A mesma que, no sincretismo religioso, rege os Ibejis, divindades africanas que assemelham-se a São Comes & Damião: a ‘Alegria’ – que trazem ao futebol. E já adianto que, na segunda partida, daqui a três dias, haverá mais uma virada, novo show da dupla e Pelé marcando três gols e terminando o jogo como goleiro da equipe. ‘Alegria, Alegria’! – e deixo assim minha sugestão de nome de música para ser lançada por algum novo compositor baiano.

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No dialeto iorubá, o nome Ibejis vem da junção de ‘ibi’ (nascimento) e ‘eji’ (dois, ou gêmeos). Trata-se da divindade da brincadeira e quando a bola rola Pelé e Coutinho parecem mesmo brincar de futebol. Este entendimento apenas pelo olhar – ou até sem ele – da dupla entrou em campo pela primeira vez há 5 anos, em 9 de outubro de 1953, quando, em um amistoso contra a Seleção Paulista, uma contusão de Pagão fez Coutinho entrar no Segundo Tempo. Mesmo tendo ainda apenas 15 anos, o centroavante já vinha atuando em alguns jogos do time principal, mas Pelé estava com a Seleção. Depois dividiram quarto na Vila Belmiro e na pensão de Dona Georgina, na Rua Euclides da Cunha, outro espaço do clube. Biógrafos (e escafandristas!) levantarão a hipótese de que teria sido nessas noites compartilhadas que os dois teriam tramado e combinado as jogadas que vêm e seguirão fazendo. Versão que acabará desmentida por Coutinho: “A gente não conversava nada. O Pelé dormia muito e tinha sonambulismo. Ele levantava de madrugada e ficava gritando: “é gol!”, “é gol!”. 

12/12/61 – Pelé abraça Coutinho após a marcação do quarto gol do Santos contra o XV de Piracicaba
Pelé abraça Coutinho em duelo do Santos contra o XV de Piracicaba, em 1963

E pensar que, assim que surgiu, o maior parceiro do ‘Rei’ foi desacreditado por Nelson Rodrigues, que vaticinou ser impossível o sucesso de um jogador chamado ‘Coutinho’. Talvez estivesse mais de olho no corpo sempre roliço do atacante. Mas bastou o show na final do Rio-São Paulo de 1959 (3 x 0 sobre o Vasco, com 2 dele) para convencer o ‘guru’ Nelson, que, já fascinado, o batizou de ‘vampiro da bola’. Em outubro do ano passado, na excursão do Santos à Europa, a imprensa inglesa, encantada após 3 gols e show na vitória (4 x 2) sobre o Sheffield, chamou Coutinho de ‘artista da bola’ e ‘goleador assassino’. Nunca haverá um parceiro do ‘Rei’ como ele. O ‘Pelé do Pelé’!

O encontro ‘Pelé e Garrincha’ terá até mais prestígio e fama internacional, mas não exatamente como ‘dupla de ataque’. Até porque ano passado o nosso camisa 7 teve que resolver sozinho e, em 1958, ambos brilharam em jogadas individuais. Nada que supere a dupla santista. Mas – alerta de ‘spoiler’! – posso adiantar alguns nomes de duplas que, no futuro, marcarão época no Futebol. No exterior, destacaria primeiramente os já conhecidos Di Stefano e Puskas, astros dos anos 50 jogando no Real Madrid, e dois nomes que, no futuro, vão alcançar muito destaque, um deles, inclusive, tentando (sem êxito) destronar Pelé: o argentino Maradona (o presunçoso) e um brasileiro, Careca, que juntos ‘jogarão por telepatia’, como se diz, no italiano Napoli, isso lá nos anos 80. No Brasil, podem anotar outros nomes: como Ronaldinho & Rivaldo; e, principalmente, Bebeto & Romário, parceria que vai render um “Eu te amo!” e até um “Nana, Neném!” nos gramados. Aguardem…

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Atuando por um clube, preciso destacar ainda que daqui a 20 anos surgirá no Rio, mais precisamente em 2 de julho de 1983 e no Fluminense, uma dupla do tipo ‘Cosme e Damião’ que será batizada com um nome de uma série de TV da época: ‘Casal 20’. Os dois terão sintonia tão absurda que ela se manifestará até ‘no além’. E mais não digo. (‘Nota da Redação de Placar em 2022: o cronista se refere a Assis e Washington, tricampeões carioca e campeões brasileiros que faleceram em 2014, um 42 dias depois do outro). 

No século 21 teremos no Brasil até irmãos gêmeos jogando juntos no futebol profissional e chamados Cosme e Damião. Mas nada como ‘Pelé e Coutinho’, reafirmo. O joelho que deixou o centroavante no banco na Copa do Chile, dando espaço ao inspiradíssimo Vavá, também será o motivo do fim de sua carreira, quando ainda estiver com 27 anos. Até lá serão 457 jogos, 19 títulos e 370 gols pelo ‘Peixe’ praiano, que somados aos de Pelé, incríveis 1091, creiam-me, dará à dupla a marca de 1461 tentos pelo alvinegro paulista. Já disse o ‘Rei’: “Na área, ele é melhor que eu”, em elogio ao ambidestro ‘Pé de Vidro’ do futebol brasileiro. Daí tanta parceria… Como esquecer aquela ‘rodinha de bobo’ que a dupla fez com os argentinos em 1959? Lembram? A simbiose é tanta que vai chegar ao futuro o mito de que Coutinho usaria uma faixa enrolada no pulso para se diferenciar do parceiro. A semelhança é mesmo grande. Mas ele sempre negará o boato, atribuindo o adereço a uma lesão no punho de um dos braços. Lendas são lendas. E no futebol elas são o tal romantismo das ‘almas-gêmeas’ …

Pelé e Coutinho jogam videogame com equipes históricas do Santos
Pelé e Coutinho jogam videogame com equipes históricas do Santos, em 2014

PRA VER LANCES E OS GOLS DO JOGO

 

https://www.youtube.com/watch?v=8W-7vyj5Bpo&ab_channel=omaiordetodosostempos

https://www.youtube.com/watch?v=DUL6UGyMlX4&ab_channel=Gr%C3%AAmiop%C3%A9dia

PRA VER LANCES E GOLS DE PELÉ E COUTINHO

https://www.youtube.com/watch?v=AIOxvBFfCFc&ab_channel=omaiordetodosostempos

https://www.youtube.com/watch?v=s5Bkd7m8gAg&ab_channel=omaiordetodosostempos

FICHA TÉCNICA

GRÊMIO 1 x 3 SANTOS

Competição: Taça Brasil 1963 (primeiro jogo da semifinal)

Data: 16 de janeiro de 1964, quinta-feira 

Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre (RS)

Renda: Cr$ 21.357.000,00

Público: cerca de 45.000

Árbitro: Eunápio de Queiros (BRA)

Auxiliares Teodoro Nitti (ARG) e Ricardo Alberto Silva (ARG)

GRÊMIO: Alberto; Valério, Airton, Aureo e Ortunho; Cleo e Milton; Marino (Madureira), Joãozinho, Paulo Lumumba e Vieira

Técnico: Carlos Froner

 

SANTOS: Gilmar; Dalmo, João Carlos e Geraldino; Haroldo e Zito; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Batista.

Técnico: Lula 

Gols: Primeiro Tempo: Paulo Lumumba, aos 6′; e Coutinho, aos 25′; Segundo Tempo: Coutinho, aos 25’; e Pelé, aos 35′

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