O primeiro Fla-Flu de Zico
Agosto de 1971: estreia do Galinho no ‘clássico mais charmoso do mundo’, uma final de Taça Guanabara, igual à que acontece novamente neste Cariocão de 2023
Hoje é dia da imensa torcida do Rubro-Negro carioca comemorar muito! Soltar fogos! Gritar “Mengôôô! Não, o cronista não ficou maluco. E está ciente da derrota ontem para o Fluminense, 3 x 1, com majestosa atuação do atacante Mickey, autor dos três gols tricolores que valeram a conquista da Taça Guanabara. Mas saibam vocês, torcedores e torcedoras não apenas do Flamengo mas de qualquer time do país, que sou um ‘Viajante do Tempo’, que partiu de um futuro distante, 2023, às vésperas de novo confronto entre os dois clubes que decidirá mais uma Taça Guanabara (que a partir do ano que vem deixa de ser um torneio à parte, passando a valer como primeiro turno do Estadual). E dias após o aniversário de 70 anos de Zico, este jovem talento da Gávea que fez ontem sua estreia profissional no mais charmoso clássico do futebol mundial: o Fla-Flu. E residem aí os motivos que me fazem incentivar a euforia dos flamenguistas. Daqui a 52 anos, este atacante franzino que cresceu no subúrbio de Quintino ainda será o maior artilheiro de todos os tempos do embate, somando 19 gols em 44 jogos e batendo Hércules, do Flu, que tem 14 tentos assinalados em 25 partidas. Será ainda o jogador do Flamengo com mais gols em um único certame, 4 (quatro), igualando em 1976 a marca de Simões, do Fluminense, que resiste desde 1949. Assim, tudo é uma questão de olhar o copo cheio! Vibrem tricolores, campeões! E vibrem, rubro-negros! Pois teve início ontem a história da maior pedra na chuteira dos eternos rivais.
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Mesmo que os irmãos Nelson Rodrigues (tricolor) e Mário Filho (flamenguista) não tivessem colaborado, batizado (Mário) e alardeado o gigantismo desta disputa, o Fla-Flu teria lugar cativo na história do futebol brasileiro. Foram nos jogos entre essas duas agremiações que pela primeira vez houve divisão de torcidas em estádios (Flu 1 x 0, em 14 de outubro de 1951), nasceu a primeira ‘Torcida Organizada’ do Rio (a Charanga do Flamengo, fundada no Fla-Flu, 1 x 1, de 11 de outubro de 1942) e o primeiro mosaico do futebol brasileiro (nos anos 30, nas Laranjeiras, com a torcida tricolor inovando ao usar bolas de encher nas cores verde, branco e grená para formar a bandeira do clube) – entre outros marcos históricos. E recordes: em 2023 ainda será do Fla-Flu o maior público de partidas entre clubes no mundo: 194.603 espectadores, na final do Carioca de 1963 (0 x 0, Fla campeão). Naquele dia, até Zico estava no Maraca, ainda com 10 aninhos, no colo do irmão Edu – no futuro ele vai contar.
Todos sabemos, como ensinou o guru Nelson, que o Fla-Flu “começou 40 minutos antes do nada”, mas para os cartesianos tudo teve início em 7 de julho de 1912, quando nove titulares do Fluminense deixaram as Laranjeiras para fundar o Departamento de Futebol do Flamengo e mesmo assim o Onze tricolor triunfou, 3 x 2, sendo o gol inaugural assinalado por Edward Calvert, do Flu, a um minuto de jogo. Uma história linda que terá em Zico um dos protagonistas principais, tanto assim que, anotem, será justo num Fla-Flu sua despedida do Flamengo, isso daqui a 18 anos, em 2 de dezembro de 1989, em Juiz de Fora (MG), com um impiedoso 5 x 0 para o ‘Urubu’, um deles do craque.
Sim, o garoto é craque. Sei que ainda não deu pra todo mundo ter certeza disso, até porque ele estreou entre os profissionais há apenas 3 dias, na semifinal contra o Vasco – vencida por 2 a 1 –, mas com direito a passe para gol do atacante. Adianto que a camisa 9 logo será trocada pela 10, mais adequada àquele que, podem me cobrar, se tornará o maior ídolo da história do Flamengo. E que terá nos Fla-Flus seu principal palco. Dentro de 15 anos, num ‘clássico das multidões’ que abrirá o Campeonato Carioca de 1986, Zico será recebido pela torcida tricolor com gritos de “Bichado! Bichado!” e vai responder em campo: três gols dele em vitória por 4 x 1. Em outro capítulo futuro, será abordado por um torcedor do Fluminense que invadirá o campo para pedir que ele pare de fazer gols contra seu time. Coisas de Fla-Flu – jogo citado até no Hino do Flamengo (‘Nos Fla-Flus é um “Ai, Jesus!”’…).
Por essas e outras histórias – o lendário ‘Fla-Flu da Lagoa’ (1941), no futuro um marcante ‘Gol de Barriga’ (1995), ‘et cétera’ e etc. – que o encontro nos gramados entre Flamengo e Fluminense será declarado, em 2012, patrimônio imaterial do Rio de Janeiro e em algumas regiões do Brasil se tornará sinônimo de ‘Totó’ e ‘Pebolim’. E por esses e outros feitos que nos próximos 52 anos todo garoto, flamenguista ou não, possivelmente um dia terá um jogador de botão chamado Zico. Portanto, vibrem também, rubro-negros! Zico chegou!
PARA VER O FLA-FLU DE 1976 EM QUE ZICO MARCOU 4 GOLS
PARA VER OS TRÊS GOLS DE ZICO NO FLA-FLU DE 1986
https://globoplay.globo.com/v/2013860/
FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE 3 X 1 FLAMENGO
Competição: Final da Taça Guanabara de 1971
Data: 1 de agosto de 1971
Estádio: Maracanã
Local: Rio de Janeiro
Público: 29.278 pagantes.
Renda: Cr$ 144.824,50.
Árbitro: Aírton Vieira de Moraes.
FLUMINENSE: Jorge Vitório; Oliveira, Sérgio Cosme, Silveira e Toninho; Denilson, Marquinhos, Cafuringa, Mickey, Jair e Rubens Galaxe. Técnico: Pinheiro
FLAMENGO: Ubirajara Alcântara; Rodrigues Neto (Onça), Fred, Reyes e Tinteiro; Liminha, Tales (Chiquinho), Buião, Fio, Zico e Nei. Técnico: Fleitas Solich
Gols: Primeiro Tempo: Mickey aos 4′; Segundo Tempo: Mickey aos 3’; Buião aos 20′, e Mickey aos 23′
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