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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

O ‘Primeirão’

Quem venceu o 1º Brasileiro? Título de 2021 faz voltar a se falar em Galo e Comentarista do Futuro vai até o marco oficial: o “triunfo” do Bahia em 1959 

O time do Bahia campeão da taça Brasil de 1959
O time do Bahia campeão da taça Brasil de 1959

Sinto trazer a vocês, queridos leitores e leitoras de 1959, o triste relato de que, no próximo século, VERDADE será um valor em baixa entre as virtudes do ser humano. Pessoas se dedicarão a espalhar notícias falsas (que chamaremos de “fake news”); todo mundo fingirá que é feliz 365 dias por ano postando (futuro sinônimo de “publicando”) fotos coloridas e sorridentes em tabloides pessoais (batizados como “redes sociais”); e empresas vão criar promoções mentirosas para enganar clientes e consumidores entre outros exemplos da “Falsidade Epidêmica”. Nesse contexto de farsa e irrealidade, fatos, registros, documentos, informações e tudo que é sólido vai se desmanchar no ar (ainda escreverão sobre isso, aguardem!). Como em 2021, de “quando” venho, pouco importará o que existe ou aconteceu realmente, decidi viajar na Máquina do Tempo e testemunhar esse histórico jogo de ontem, no Maracanã, onde o Bahia derrotou por 3 x 1 o Santos de Pelé (mas sem ele em campo) e levou pra Salvador a Taça Brasil, primeiro campeonato nacional de futebol. Daqui a 62 anos, serão muitas as versões sobre o marco de acordo com os interesses, as paixões, a audiência… Mas nos registros oficiais da CBF (assim se chamará a CBD), constará: “Primeiro campeão brasileiro: Bahia”. Que vitória! Não! Preciso me desculpar, já que, saibam, essa palavra será abolida no dicionário do tricolor baiano, pois um recém-criado time de mesmo nome se tornará o maior rival do “Esquadrão de Aço”. Corrigindo: “Que triunfo!”

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O disse-me-disse sobre a distinção de ser o Número 1 no Olimpo dos clubes campeões nacionais vai ganhar força em 2021, quando o Atlético-MG vai alerta de “spoiler!” repetir a conquista de meio século antes, em 1971, ano em que o torneio será rebatizado como “Campeonato Brasileiro”. Daí alguns virem a insistir na tese de que será ele, o Galo, o “Primeirão”. Além disso, outras equipes, como Palmeiras, Santos e Flamengo, defenderão versões diferentes da história, de acordo com seus interesses. Explico: a partir de 2010, anotem, a CBF (ex-CBD, isso já contei) vai unificar e consolidar um registro sobre os campeões nacionais, considerando três torneios que existirão de hoje até o Século 21, isto é, desde quando passou a existir vencedores de uma disputa com equipes de vários estados, e não apenas do Rio e São Paulo. Ou seja: desde ontem!!!

O Palmeiras será árduo defensor do mérito soteropolitano, que o legitimará, em 2021, como o clube com mais títulos brasileiros: 10. O Santos jogará no mesmo time, garantindo um segundo lugar neste ranking, com um total de 8 conquistas (cinco delas nesta Taça Brasil criada ano passado). Já para o Flamengo, o Campeonato Brasileiro só valerá a partir de 1971, quando vai ganhar este nome, pois assim poderá se gabar de ser o maior detentor de campeonatos nacionais: 8 mas oficialmente, para o rubro-negro, serão 7 (outra barafunda!). E ainda haverá quem levante a voz dizendo que “campeão pra valer” serão os que vierem a vencer depois de adotado o formato de disputa por pontos corridos, o que acontecerá em 2003 e assim no futuro passaria a ser o Corinthians o “fura-bolo”, isto é, o “maior de todos”. E que se dane o que está no papel.

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Mas falemos do jogo. Eu sei que, nesses inocentes anos 50, uma terceira e decisiva partida, como a de ontem, é chamada de “nega”, mas, por motivos sobre os quais não me estenderei aqui, trata-se de outro termo que será abolido, desta feita na linguagem de todo o país. A propósito, não esperem de mim qualquer referência a Pelé como “Negão”. Coisas de 2021! Se o Rei estivesse em campo no Maraca, teria sido diferente? Como saber? Foram dois jogos improváveis: no primeiro, na Vila Belmiro, deu Bahia (3 x 2); no segundo, na Fonte Nova, 2 x 0 pro Santos. Ambos os confrontos, como vocês sabem, ano passado. Uma espera de três meses que preocupava os dirigentes. Afinal, daqui a 21 dias terá início a primeira edição da “Copa dos Campeões da América’ torneio entre clubes (um de cada país) do nosso Continente, que se consagrará como “Libertadores da América” e no qual o Bahia será nosso primeiro representante. E foi este o principal motivo que fez, finalmente, a CBD (futura CBF, decorou?) organizar um primeiro formato de competição nacional de futebol. Sábia decisão. Outro triunfo! 

Mas que vai gerar muita discórdia e confusão! Dando início ao fim das regalias e da concentração do esporte entre os times do Rio e São Paulo, a criação da Taça Brasil veio não só preencher a lacuna deixada pelo fim do campeonato entre seleções estaduais, que claudicou entre 1922 e 1944 (com outras quatro edições esporádicas, a derradeira ano passado), mas também, aos poucos, enfraquecer o badalado Torneio Rio-São Paulo, que, acreditem, só dura mais sete anos. Os Estaduais, por mais difícil que seja acreditar, não acabarão ao menos até 2021 , mas também vão minguar, transformando-se numa pedra na chuteira do nosso futebol, ao impedir a organização de um calendário de jogos sensato a cada temporada. O tal torneio entre clubes campeões na América Latina, esse sim, no futuro será a atração principal, tipo aquele mágico famoso que todo mundo quer assistir, o show que o público fica esperando a hora de começar, o espetáculo mais importante do Circo do futebol na América. E o mais lucrativo, um triunfo de bilheteria!

Sobre a final de ontem curiosamente, data do aniversário de Salvador , não há o que se contestar sobre a superioridade do Bahia, que chegou aqui após 14 jogos (9 vitórias; 3 derrotas; 2 empates) e 25 gols _ 8 deles do artilheiro da competição, o implacável Léo Briglia. O “Esquadrão de Aço”, já bicampeão baiano, somará outras três conquistas seguidas no Estado e, até 1963, outros dois triunfos no torneio Norte/Nordeste. Uma segunda estrela de campeão brasileiro na camisa? Vai acontecer, mas demora… Sem pressa, como todo baiano gosta. Aos torcedores santistas, além de garantir que o garoto Pelé voltará ainda mais craque após a retirada das amígdalas que também sacou ele da peleja revelo que a dor desta derrota ficará ínfima diante da performance que o clube da Vila Belmiro terá nas próximas edições da Taça Brasil. Bota “triunfo” nisso! 

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Pra você que acredita que vim mesmo do futuro e continua lendo esta resenha, revelo outros fatos (reais!) que estão por vir. A estreante Taça Brasil, que reuniu 15 campeões estaduais e o do Distrito Federal qualquer dia volto a 1959 para assistir a algum jogo do bravo Hercílio Luz, esquadrão de Santa Catarina que só voltará a disputar uma competição nacional em 2019, mas na quarta divisão , terá, a partir de 1967, a “incômoda” companhia de outro torneio com times de vários estados da Federação, cujo nome omito, para não estragar a homenagem. Depois, como já pincelei, os dois deixarão a cena para a entrada de um único campeonato, o “Brasileiro”, a partir de 1971. Em 2021, 11 anos depois da mudança, até a imprensa especializada ainda se dividirá entre os a favor e os contra à unificação. Antes de embarcar na Máquina do Tempo, tornei-me catedrático nos diversos argumentos sobre o assunto. Quase todos defensáveis, mesmo em lados opostos da polêmica. Mas reflitam comigo: 

 Fluminense e Botafogo não fazem jus aos primeiros títulos do Campeonato Carioca porque ainda não o disputavam os rivais Flamengo e Vasco?

 A conquista estadual do Corinthians em 1914 não vale por ser anterior ao aparecimento de Palmeiras e São Paulo?

O primeiro campeonato italiano, em 1898, vencido pelo Genoa, não deve ser considerado porque na época só quatro times entraram na disputa?

Juan Manuel Fangio, o lendário argentino do automobilismo, será menos campeão do que os vencedores da Fórmula 1 no futuro, com pilotos e equipes representando um número maior de países?

E por aí vai…

Além do mais, até apoio qualquer transformação (pra melhor) ou “revolução” (como a cubana, do ano passado), mas até lá sou sempre pela “legalidade”. Vale o que está escrito. Assim, o ano do primeiro Campeão Brasileiro? É (e sempre será) 59! Jacaré no Jogo do Bicho. O resto é “crocodilagem”.

FICHA TÉCNICABAHIA 3 X 1 SANTOS

Final da Taça Brasil de 1959

Local:  Maracanã, Rio de JaneiroData: 29 de março de 1960, terça-feira

Renda: Cr$ 642.703,00

Público: 17.330,00 pagantes

Árbitro: Frederico Lopes (RJ)Assistentes: Wilson Lopes de Souza (RJ) e Ailton Vieira de Moraes “Sansão” (RJ)

BAHIA:  Nadinho, Beto, Henrique, Flávio e Nenzinho; Vicente e Mário; Marito, Alencar, Léo e Biriba. 

Técnico: Carlos Volante 

SANTOS: Lalá, Getúlio, Mauro, Formiga e Zé Carlos; Zito e Mário, Dorval, Pagão, depois Tite, Coutinho e Pepe

Técnico: Luís Alonso “Lula”

Gols: Coutinho 27′; Vicente 37′ / 1º T; Léo 47s ,Alencar 31 / 2º T.

Cartão Vermelho: Getúlio, Formiga e Dorval (SAN)Cartão Amarelo: Não existia ainda

PARA VER CENAS DO CONFRONTO

https://www.youtube.com/watch?v=UbZulJWaXPU&ab_channel=GeFot1000

https://www.youtube.com/watch?v=n2BjhB58kBs&ab_channel=BaheanaHist%C3%B3ria

PARA OUVIR OS HERÓIS DO TÍTULO

https://www.youtube.com/watch?v=WIR-MYU_Zoc&ab_channel=WilliamsCunha

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