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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

O ‘complexo de filhote de vira-lata’

Cronista vai a 1983 ver o 1 x 0 na Argentina que deu ao Brasil seu primeiro título no Mundial sub-20, com uma geração que quebrou o tabu na categoria

Desconfio que a ‘Juventude’ é como aquela moça ardilosa, do tipo que confunde ‘igualdade’ com ‘obter vantagem’. Volta e meia ela ‘cola’ com seu venenoso amigo ‘Tempo’, sempre Ele, e arma uma pra cima da gente. Com esses e outros devaneios na cabeça, deixei 2023 – pois saibam: sou um ‘Viajante do Tempo’, viajo ao passado para assistir a jogos marcantes do Futebol – e desembarquei nesse emocionante Brasil 1 x 0 Argentina, ontem, no estádio Azteca – sempre Ele também. E fui ‘pé-quente’. Uma vitória brasileira que encerra de vez esse tabu de não alcançarmos na categoria Sub-20 – a Segunda Divisão da disputa entre Seleções Nacionais – o mesmo sucesso do escrete principal. Parodiando o mestre Nelson Rodrigues, uma espécie de ‘Complexo de Filhote de Vira-Lata’. Revelo a todos vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1983, que daqui a 40 anos já teremos 5 triunfos neste Mundial Sub-20. E pensar que até fevereiro, há quatro meses, tínhamos apenas um título (1974) em 29 anos (10 edições) de Sul-Americano da categoria. Outro mérito (em final, 3 X 2, também com os rivais argentinos) desta geração. Mas para quem, como eu, vem do futuro, é estranho pensar que o destino será mais cruel do que generoso com esses jovens talentos brasileiros, campeões aqui no México. Não disse? É o tal ‘conchavo’ entre a ‘Juventude’ e o ‘Tempo’. Não valem nada esses dois…

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Voltarei ao futuro no dia da estreia da Seleção Sub-20 (contra o Equador) na segunda fase de mais um Sul-Americano da garotada, que estará acontecendo na Colômbia. E serão grandes as chances de o Brasil ficar ao menos entre os quatro primeiros do torneio, classificando-se para, três meses depois, em maio, disputar mais um Mundial da categoria – do qual, sinto informar, estaremos afastados desde 2015 (depois de 2011, não nos classificaremos em 2013, 2017 e 2019). Até 2023 já serão numerosas, 11, as conquistas no Continente. E, além de ontem, o nosso primeiro na história, mais 4 triunfos mundiais, dois deles curiosamente com a mesma ‘numerológica’ sorte nos anos terminados em ‘3’: 1993 (Austrália) e 2003 (Emirados Árabes). Em 2023, portanto, os astros estarão ao nosso favor. O elenco nem tanto, porque, infelizmente, daqui a 40 anos, os jovens talentos estarão sendo negociados para o exterior e lançados nos times principais com idade cada vez menor. E por conta disso o escrete nacional terá que disputar o certame sem a presença de alguns ‘craques’, não liberados por seus clubes. A noção de ‘Juventude’ mais uma vez influenciada pelo ‘Tempo’, esse pervertido.

Jornal de 1983 antes do início da participação na competição -
Jornal de 1983 antes do início da participação na competição –

Triste mesmo será ver cair no esquecimento a proeza desses meninos ainda mal saídos da adolescência mas já envergando a pesada camisa ‘amarelinha’. Como já adiantei, outra notícia chata que trago do Amanhã, em especial ao grupo, é que poucos ali vingarão no selecionado ‘adulto’ e nem mesmo no cenário internacional do esporte. Os ariscos e promissores ponteiros Mauricinho (Vasco) e Paulinho (Fluminense), por exemplo, escreverão seus nomes em memoráveis jornadas pelo Campeonato Carioca mas sem jamais se firmarem na Seleção Brasileira principal. Apenas três desses rapazes, cujos nomes manterei em sigilo, alcançarão essa glória. (‘Nota da Redação da Placar em 2023: Dunga, Jorginho e Bebeto’). Um deles, inclusive, erguendo nas mãos uma Copa do Mundo. E não estou falando do Geovani (Vasco) …

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‘Chuteira de Ouro’ pela Fifa, craque do torneio e artilheiro no jogo de ontem, o meia habilidosíssimo meia vascaíno não terá a carreira do tamanho que o seu futebol merece e hoje nos faz supor. Que ‘cracaço’! Mas vai entender o ‘Destino’, esse assecla do ‘Tempo’’. Em 2023, a propósito, já aposentado (desde 2002) e depois de breve carreira na política, hoje campeão mundial Geovani estará em nova disputa, desta vez contra uma enfermidade pessoal, da qual me abstenho de dar detalhes. (‘Nota da Redação da Placar em 2023: o cronista se referia à luta que o ex-jogador trava desde 2006 contra uma doença rara, a Polineuropatia, que ataca os nervos e os músculos da perna). Mas antes de pendurar as chuteiras este gênio da bola deixará gravado – em VTs e na nossa memória – muitos lances de plasticidade única, que o farão colecionar títulos e fãs. E precisa mais do que isso? Justiça seja feita: o ‘Tempo’ também nos ensina a aceitar e agradecer o que estava reservado pra gente. E quem há de definir o que é ‘Felicidade’ para cada um de nós?

PARA VER OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO

 PARA VER LANCES DA FINAL DO SUL-AMERICANO, TAMBÉM EM 1983

PARA QUEM NÃO CONHECE O GEOVANI

FICHA TÉCNICA
BRASIL 1 X 0 ARGENTINA

Competição: Campeonato Mundial sub-20 de 1983, no México
Data: 19 de junho de 1983
Estádio: Azteca
Local: Cidade do México (MEX)
Público: 110.000 pagantes
Árbitro: Gérard Biguet

BRASIL: Hugo; Heitor, Boni, Guto e Jorginho; Dunga, Geovani e Gilmar Popoca (Demétrio); Mauricinho; Marinho Rã (Bebeto) e Paulinho. Técnico: Jair Pereira

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ARGENTINA: Islas; Borelli, Basualdo, Olivera e Theiler; Vanemerak, Zarate e Gaona (Graciani); Garcia, Gabrich e Dezotti. Técnico: Carlos Pachamé 

Gol: Geovani, aos 34’

Cartões amarelos: Borelli, Vanemerak, Dunga, Guto e Demétrio

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