Bate-volta — dia 7: Os maiores rivais da Copa
Cronista vai a 1930, no 1º Argentina x México, que jogam hoje, e dá ‘spoilers’ da época sobre rivalidades que nascerão nos 21 mundiais até o Catar
Se vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1930, brasileiros, não vão acreditar quando eu contar aqui – neste exato instante – que sou um ‘Comentarista do Futuro’, vindo de 2022, imaginem os meus ‘mui’ queridos leitores e as minhas ‘mui‘ queridas leitoras’, argentinos e argentinas. Assim, como não haverá sequer um ‘hermano’ ou ‘hermana’ que lerá esta resenha, posso revelar sem culpa que daqui 92 anos, na 22ª edição dessa Copa do Mundo – competição que está sendo inaugurada aqui no Uruguai –, acontecerá um novo embate entre Argentina e México, bem mais tenso e disputado do que esse 6 x 3 de ontem, em que nossos vizinhos não tomaram conhecimento dos mexicanos. Voltarei ao futuro no exato dia do reencontro, quando apenas um time, o coirmão sul-americano, estará correndo risco de, em caso de derrota, ser eliminado da competição já na segunda rodada. A notícia boa que não correrá em Buenos Aires – isso que dá não dar atenção a brasileiros que vêm do Século 21 – é que até lá os placares dos jogos contra o México serão deveras positivos. Graças ao ‘Aleatório’, teremos em 2022, na Copa do Catar, o quarto confronto dos dois países em Mundiais, todos vencidos pelos argentinos. Anotem os próximos: 2 x 1 em 2006, na França; 3 x 1 em 2010, na África do Sul. Mas até 2022 serão outras duas as rivalidades com mais confrontos em Copas do Mundo: 1) Alemanha x Argentina, que ‘se pegarão’ sete vezes, três delas em finais (a decisão mais recorrente, em 1986, 1990 e 2014); e Brasil x Suécia, com o mesmo número de embates (em 1938, 1950, 1958, 1978, 1990 e 1994 duas vezes). E revelo a vocês: nunca nos daremos mal. Cinco vitórias e dois empates. Os suecos encarnarão o chamado ‘freguês de carteirinha’! Gostou? Viu como é bom dar atenção a um colunista do próximo século?
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A seleção brasileira chegará ao Catar já tendo enfrentado 46 países em Copas. Depois da Suécia, os países que mais terão aparecido, cinco vezes, pela frente tentando (e por vezes conseguindo) atrapalhar nossos sonhos de conquistar o mundo serão cinco também: Tchecoslováquia (duas vezes em 1938, duas vezes, uma delas a final, em 1962 e uma em 1970), Espanha (ainda nesta Copa, em 1950, 1962, 1978 e 1986), Holanda (1974, 1994, 1998, 2010 e 2014), Itália (1938, 1970, 1978, 1982 e 1994) e México (1950, 1954, 1962, 1970 e 2014). Depois virão Argentina, Chile, Escócia, França, Inglaterra e Iugoslávia, com quatro ‘batalhas’. Pelo tamanho da lista, dá pra imaginar que o grupo de seleções que até 2022 terão conseguido (sim, no futuro não haverá mais convites, como este ano, e a vaga será disputada em jogos eliminatórios) jogar um Mundial será seleto: 80. Mesmo assim nascerão rivalidades emblemáticas.
Nós, brasileiros, teremos a Alemanha engasgada na garganta (por uma derrota ‘desagradável’ que sofreremos em 2014) e a eterna cisma com os argentinos, mas com certeza nosso maior rival será a Itália, por uma eliminação em 1982, quando teremos uma seleção mágica, e por ser a nossa vítima na maior de todas as finais, em 1970, quem viver verá!
Na queda de braço, ou melhor, de pernas entre argentinos e mexicanos, desde esta primeira vez, o 6 x 3 de ontem, o placar vai mostrar, depois de 31 partidas realizadas: 15 vitórias argentinas, 12 empates e apenas 4 triunfos do México, quase todos em amistosos. Em competições oficiais, apenas um, em 2004, no Peru, como convidado em um torneio entre selecionados da América Latina, que será batizado como Copa América. Em partidas de Copa, como já disse, 100% de sucessos argentinos. Mas nenhum com a facilidade de ontem e nem com uma atuação ao nível deste Guillermo Stábile, autor de três gols na goleada (no futuro chamaremos a marca de ‘hat trick’). Proeza que já foi alcançada aqui no Uruguai há dois dias, pelo americano Bert Patenaude, enfrentando o Paraguai. Adianto que Stábile, ausente no primeiro jogo, será o artilheiro do Mundial, com oito gols em quatro jogos, e também o primeiro jogador a marcar gols em todas as partidas que disputará. Chamado de ‘El Infiltrador’, pela forma com que avança área adentro na velocidade de quem já correu provas de 100 metros rasos, no futuro será técnico da seleção do país por 21 anos (de 1939 a 1960) e no cargo conquistará seis edições da Copa América, a última em 1957. Um vencedor!
A situação mais, digamos, periclitante dos argentinos no Catar se deverá a uma derrota que terão sofrido na primeira rodada (1 x 2 Arábia Saudita). Já o México, chegará ao jogo mais calmo, vindo de um empate sem gols com a Polônia. Mas a histórica superioridade do futebol argentino no confronto poderá ser medida também pelo número de treinadores do país que nos próximos 92 anos vão dirigir o escrete mexicano, quatro: César Menotti, Cayetano Rodríguez, Ricardo La Volpe e, em 2022, Gerardo Martino, que a esta altura deve estar debruçado sobre sua prancheta tentando achar a fórmula de quebrar esta ‘escrita’. Mas é importante esclarecer a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1930, que a Copa do Mundo, e o futebol como um todo, terão se profissionalizado muito, virando não apenas o esporte mais popular do planeta como aquele que (atenção!) mais fará girar dinheiro. Não teremos então seleções convocadas por voto popular (como foi a Argentina este ano), jogador titular ausente por precisar fazer prova na faculdade (o motivo de Manuel Ferreyra ter deixado o Uruguai para a feliz entrada de Stábile) e nem árbitro como o de ontem, Ulises Saucedo, que acumula as funções de dono do apito e técnico da seleção da Bolívia neste Mundial. Pode isso? No futuro, nem pensar!
Para ver o filme oficial da Copa de 1930, clique aqui.
Ficha técnica
Argentina 6 x 3 México
Competição: Copa do Mundo de 1930
Data: 19 de julho de 1930
Horário: 15h00 (locais)
Local: Estádio Centenário, em Montevidéu (URU)
Público: 42.100
Árbitro: Ulises Saucedo (Bolívia)
Argentina: Ángel Bossio (Capitão); José Della Torre, Fernando Paternoster, Alberto Chividini e Adolfo Zumelzú; Rodolfo Orlandini, Carlos Peucelle, Francisco Varallo e Guillermo Stábile; Attilio Demaría e Carlos Spadaro. Técnico: Francisco Olazar / Juan José Tramutola
México: Óscar Bonfiglio; Rafael Garza Gutiérrez (Capitão), Manuel Rosas, Felipe Rosas e Alfredo Sánchez; Raymundo Rodríguez, Francisco Garza Gutiérrez, Juan Carreño e Felipe Olivares; Roberto Gayón e Hilario López. Técnico: Juan Luque de Serrallonga
Gols: Primeiro Tempo: Guilhermo Stábile (ARG), aos 8’; Adolfo Zulmezú (ARG), aos 12’; Guilhermo Stábile (ARG), aos 17’; e Manuel Rosas (MEX), aos 42′; Segundo Tempo: Francisco Varallo (ARG), aos 8′; Adolfo Zumelzú (ARG), aos 10’; Manuel Rosas (MEX), aos 20′; Roberto Gayón (MEX), aos 30’; e Guilhermo Stábile (ARG), aos 35’
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