Bate-volta — dia 14: o dia que vencemos porque ‘deu Branco’
Cronista vai a Brasil 3 x 2 Holanda (1994) e revela que em 2022 seremos ‘fregueses’ do rival, que caso derrote hoje os EUA pode nos encarar na "semi"
Parem as máquinas! E também a produção na Casa da Moeda das novas cédulas de Real, a linha de montagem do ‘Fusquinha do Itamar’ e qualquer outra coisa que vocês estejam fazendo, queridos brasileiros e queridas brasileiras de 1994! Agora, prestem atenção: tenho uma Máquina do Tempo, sim, uma geringonça que me transporta ao passado, e com ela parti de 2022, atravessando 28 anos e trazendo do futuro duas revelações sobre a Seleção Brasileira – ‘spoilers’, no próximo século chamaremos assim. Vamos lá:
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- Ainda teremos que sofrer um bocado com esse ‘jogo murrinha’ do time do Parreira na Copa do Mundo dos EUA, mas o grupo está unido, vai superar as adversidades e, o mais importante, temos Romário! Sim, podem comemorar, seremos tetracampeões! Creiam-me! Mas sempre com partidas de matar a gente do coração. Exatamente como a épica vitória de ontem, 3 x 2, sobre os holandeses, com aquele gol mágico do Branco, nosso eterno lateral. Dentro de 8 dias, o país inteiro (nada “dividido”) poderá extravasar tudo que guardamos no peito nesses 24 anos de espera, desde o Tri em 70.
- A segunda boa nova: deixei 2022 em meio a mais um Mundial, o 22º, que vai rolar no Catar, sim, no Catar, não questionem. Infelizmente, estaremos correndo o risco de ficar mais uma vez (caso não sejamos vencedores) 24 anos sem título – isso mesmo, seremos ‘penta’ em 2022! Uhu! Mas depois serão pelo menos 20 anos ‘na fila’. O bom é chegaremos à disputa com um time muito forte e já tendo dado um aviso claro aos adversários: “Não se metam com o Brasil!” Explico: nas duas disputas anteriores, 2014 e 2018, os países que vão eliminar a Seleção, Alemanha e Bélgica, serão amaldiçoados pelos Deuses do Futebol e nunca mais conseguirão passar da Primeira Fase numa Copa. O primeiro dando adeus mais cedo em 2018 e 2022; o segundo já começando a pagar o preço no Catar. Quem será o próximo a se alinhar ao time? Falta arrumar um feitiço que afaste também os outros rivais que também serão algozes do Brasil no próximo longo jejum de títulos mundiais: França, em 2006, e … Holanda, 2010. Si, o escrete que superamos ontem neste bangue-bangue ou duelo de ontem no Texas.
A verdade é que, mesmo não conquistando nenhuma Copa até 2022, a Holanda se consolidará como um dos adversários mais ‘enjoados’ da nossa Seleção. Sinto informar que daqui 28 anos seremos… Vamos falar baixo… Fregueses desses ‘cara’ de camisa laranja’ – ontem vestindo o uniforme nº2, branco, assim como o Brasil, de azul, por determinação da FIFA, que veio com um papo de que assim seria melhor (mais contraste) para a maioria dos telespectadores do mundo, ainda com TV em preto-e-branco. Deve fazer sentido… Em 2022 também estaremos em desvantagem no confronto com a Noruega – sim, vai entender, até lá serão quatro jogos, dois empates e duas vitórias deles, uma em Copa –, e França (apenas em jogos de Copa, 2 x 1; não na estatística geral: 7 x 5 pro Brasil). Mas nada tão incômodo – e frequente! – como a Holanda, que vai nos superar nos dois critérios e, pior, ganhar ares de ‘carrasco’, pois, como revelei acima, voltará a nos eliminar em 2010 (nas quartas-de-final).
Vejamos os números: até o Mundial do Catar, os dois escretes já terão ‘se esbarrado’ 12 vezes, com 4 vitórias pra eles, 3 pra gente, 5 empates. Considerando apenas partidas em Copas, em 2022 o retrospecto também estará ruim pro nosso lado: em cinco jogos, três vitórias holandesas, uma do Brasil e um empate. O primeiro jogo da história entre as seleções? De novo levamos na cabeça: um a zero pra eles em 1963, num amistoso em Amsterdã. A boa notícia é que embarquei na Máquina do Tempo com o nosso time já se preparando para disputar umas ‘confortáveis’ oitavas-de-final com a Coreia do Sul, que teremos batido, cinco meses antes (num amistoso), por 5 x 1, e não havendo ainda certeza do cruzamento com a Holanda no caminho até o Hexa. E, cientes de que, se vier a acontecer, será na semifinal. E como já relatei, até lá terão acontecido duas ‘semis’, 1974 e 1998, um triunfo pra cada lado. Ai, ai… Seria então a ‘nêga’! Posso usar essa expressão popular em 1994?
Falemos de coisas boas. Demorou mas ontem veio, enfim, a forra brasileira à dolorida derrota de 1974, quando a ‘Laranja Mecânica’ de Johan Cruijff (aquele que fez singular a camisa 14) esvaziou nossa altivez de tricampeões, ou seja, provou que não estávamos mais com ‘bola cheia’ no futebol internacional. Assim que desembarcar em 2022, emendarei um clássico sofá para assistir ao selecionado holandês enfrentando os EUA pelas oitavas. Com o Brasil, saibam que os confrontos dos próximos 28 anos já começam na próxima, em dramática disputa de pênaltis na qual Taffarel será o herói e Zagallo, nosso melhor ‘cobrador’, aguardem…
Depois, a coisa vai ficar ruim, ‘laranja podre’, pra gente. Anotem: em 2010, repito, seremos eliminados por eles nas ‘quartas’ (2 x 1), com ajuda providencial do nosso futuro arqueiro, Júlio César; em 2014, nova derrota na disputa pelo terceiro lugar, sim, perderemos outro Mundial em nossa casa. Mas nenhum desses futuros embates, posso garantir, terão mais brilho e emoção do que o de ontem em Dallas, sob uma ‘lua’ daquelas de quase meio-dia no alto verão do Texas. Coisas da FIFA! Nada que impedisse o avanço do sempre impetuoso lateral Branco (foi ele a sofrer o pênalti desperdiçado contra a França em 1986, lembram?), que aproveitou o fato de não estar sob marcação cerrada do VAR (piada interna, vocês vão entender daqui a alguns anos) e cavou uma falta – o resto vocês já sabem. Que golaço! Logo ele, que foi tão questionado como substituto do Leonardo na esquerda, pela idade avançada, condições físicas e outras falácias. A quem escreveu isso nos jornais, melhor seria ter deixado a página também em branco.
Se o calor era alto, o primeiro tempo foi morno, com um 0 x 0 que prenunciava a ebulição da etapa final, com cinco gols. Um roteiro quente: o Brasil abrindo 2 x 0 e dando a falsa impressão de que tinha o jogo controlado; a Holanda empatando, pressionando; e por fim o inesperado e abençoado petardo que ‘deu Branco’ no nosso rival – por mais que os holandeses também estivessem loucos por uma ducha de água-fria, mas no vestiário, não em campo.
Me alegra informar a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1994, que ao menos até o início da Copa de 2022 os holandeses jamais vão exibir junto ao futebol vistoso um dos ‘fundamentos’ essenciais para times vencedores: Sorte. E principalmente em Copas do Mundo, sem ela não se chega a lugar algum. Foi assim há 20 anos, na Copa da Alemanha, quando encantaram e revolucionaram o futebol com um esquema sem posições fixas (a chamada ‘Laranja Mecânica’) e, na final, abriram o placar aos 2 minutos de jogo mas levaram a ‘virada’; e também em 1978, na decisão com a Argentina, quando empataram a oito minutos do fim mas sofreram dois gols na prorrogação. Na futura disputa do Catar, me preocupará o fato de que chegarão ‘de mansinho’, sem serem apontados como favoritos, ótima estratégia para atrair simpatia e bom agouro. Mas terei esperanças de que o Brasil, caso os encontre em seu caminho ao Hexa, consiga desvendar os segredos do perigoso rival, nem que, para isso, precise enviar um espião ao hotel onde estarão hospedados. Mas como infiltrar um impostor num grupo onde todo mundo é ‘laranja’? Rê-rê…
PARA VER OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO
FICHA TÉCNICA
HOLANDA 2 x 3 BRASIL
Competição: Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos (Oitavas-de-final)
Data: 09 de julho de 1994 (sábado)
Horário: 10h30 (horário local)
Local: Estádio Cotton Bowl, em Dallas (EUA)
Público: 63.500
Árbitro: Rodrigo Badilla (COS)
Assistentes: Yousif Abdulla Al-Ghattan (BRN) e Davoud Fanaei (IRA)
HOLANDA: Ed de Goeij; Aron Winter, Stan Valckx, Ronald Koeman e Rob Witschge; Jan Wouters, Frank Rijkaard, Wim Jonk e Marc Overmars; Dennis Bergkamp e Peter van Vossen. Técnico: Dick Advocaat
BRASIL: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco (Cafu); Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto e Romário. Técnico: Carlos Alberto Parreira
Gols: Segundo Tempo: Romário, aos 7’; Bebeto, aos 16’; Dennis Bergkamp, aos 19’; Aron Winter, aos 31’; Branco, aos 36’
Cartões Amarelos: Wouters; Dunga; e Winter
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