Bate-volta – Dia 1: O maior jogo que já abriu uma Copa
Comentarista vai rapidinho até a abertura do primeiro Mundial e dá ‘spoilers’ a leitores de 1930 sobre o pouco brilho das partidas inaugurais até 2022
Queridos leitores e queridas leitoras de 1930, sei que quase ninguém vai acreditar, mas trago duas informações importantes: 1) Sou um Viajante do Tempo e deixei o futuro às vésperas do jogo que vai abrir, em 2022, a 22ª edição da Copa do Mundo; 2) As próximas décadas consagrarão o esporte como o mais popular do planeta, transformando em acontecimento mundial a abertura deste por enquanto ainda incipiente torneio entre seleções – que teve ontem, em Montevidéu, no Uruguai, sua partida inaugural, caso não saibam. Aliás, foram duas: França 4 x 1 México; e Estados Unidos 3 x 0 Bélgica. Daqui a 92 anos, serão os selecionados do Catar (protetorado britânico nos Emirados Árabes que conquistará sua independência ainda neste século) e dos nossos vizinhos continentais do Equador que darão início à disputa, já então sempre precedida por um show grandioso, em que, a cada quatro anos, o país-sede tentará provar ao mundo sua capacidade e cultura únicas e admiráveis – exatamente como são hoje as ‘Exposições Internacionais’.
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Jogos de abertura passarão a ser apenas um e sempre envolvendo o último campeão ou o time do país-sede, mas já adianto que jamais teremos, ao menos até 2022, nenhum memorável confronto neste primeiro capítulo dos Mundiais. Daí não ter dúvida ser este de ontem, entre franceses e mexicanos, o que chegará ao próximo século ainda como o mais relevante da História.
Por ser o ‘primeirão’, claro, por ter um gol a mais do que a outra disputa realizada simultaneamente, no mesmo dia e horário, e ainda por ter sido ali, na tarde de ontem, o primeiro gol assinalado em Copas, de Lucien Laurent, da França, às 15h19. Definitivamente, 4.444 pessoas assistiram o maior dos jogos de abertura em Copas. E quem há de me contestar? Ao menos nesses anos 1930, este ‘pitaco’ só quem pode dar sou eu.
Quando viermos a completar dois times (11 + 11) de Mundiais, em 2022, os números serão claros sobre o pouco brilho desses jogos. Empates serão 7, quatro deles sem gols. O placar de 0 x 0, curiosamente, se repetirá quatro vezes seguidas, de 1966 a 1978 –, nas 31 partidas que terão acontecido até lá. E se o número não bate com o de edições do torneio, isso deve-se ao fato de, além das duas pelejas simultâneas de ontem, serem oito os confrontos inaugurais (mesmo dia e hora) daqui a quatro anos, na Copa da Itália, e 4 no futuro Mundial de 1962. Nas demais 19 edições da competição, um só jogo dará o pontapé inicial da festa. Teremos raros placares largos, sendo Itália 7 x 1 Estados Unidos, também daqui a quatro anos, o maior deles, seguido por dois 5 x 0: Brasil sobre o México, em 1954; e Rússia na Arábia Saudita, em 2018. Mas reafirmo: grandes emoções nunca serão a marca dessas partidas, cada vez mais envolvidas no clima de festa da data, tudo acompanhado por mais de 3 bilhões de pessoas, de suas casas, graças a uma invenção que ainda levará uns 35 anos para estar entre nós: a TV. Aguardem…
Tão pouco interessantes serão esses momentos do esporte que no próximo século, de ‘quando’ vim, um dos lances – com bola! – mais lembrados e cultuados em partidas de abertura acontecerá na estreia da Copa de 1994, nos Estados Unidos. Poucos minutos antes iniciar o confronto entre a Alemanha (campeã em 1990) e Bolívia, uma futura cantora de fama internacional, Diana Ross, anotem este nome, entrará em campo para chutar a bola para as redes, bem de pertinho do gol, tudo ensaiadinho, mas, sob os olhos do mundo… Vai errar, bisonhamente! Coisas de primeiro dia de Mundial.
Para encerrar este ‘bate-volta’ ao passado, informo que ontem eram dois ‘eus’ no Estádio Pocitos, pois já viajara até aqui antes, testemunhando o primeiro gol em Copas do Mundo – mas fiz questão de não esbarrar comigo mesmo. De qualquer forma, não estranhem se os jornais de hoje no Brasil publicarem duas resenhas diferentes deste que vos escreve. Este jogo merece!
PARA IMAGENS DO JOGO E REPRODUÇÃO DO PRIMEIRO GOL EM COPAS
https://www.youtube.com/watch?v=cwyTJUFZraI&ab_channel=teleSURtv
FICHA TÉCNICA
FRANÇA 4 x 1 MÉXICO
Competição: Primeira Copa do Mundo, 1930
Data: 13 de julho de 1930 (domingo)
Horário: 15h (horário local)
Local: Estádio Pocitos, Montevidéu, Uruguai
Público: 4.444 espectadores
Juiz: Domingo Lombardi (URU)
Assistentes: Henry Christophe (Bélgica) e Gilberto de Almeida Rêgo (Brasil)
FRANÇA: Thépot; Mattler e Capelle; Villaplane, Pinel e Chantrel; Liberati e Delfour; Maschinot, Laurent e Langiller. Técnico: Raoul Caudron
MÉXICO: Bonfiglio; Gutiérrez e Manuel Rosas; Felipe Rosas; Sánchez e Amézcua; Pérez, José Ruíz, Carreño, Mejía e Hilario López. Técnico: Juan Luque de Serralonga
Gols: Primeiro Tempo: Laurent, aos 19’; Langiller, aos 40’; e Maschinot, aos 43’; Segundo Tempo: Carreño, pro México, aos 25’; e Maschinot, aos 42’
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