A ‘vocação Holanda’
Cronista vê derrota da Croácia na Liga das Nações e vai à final da Copa de 1974, primeiro fracasso holandês, dar ‘spoilers’ sobre seleções e times que ‘morrem na praia’
Estivesse no Brasil, nesse inverno de 1974, eu daria um jeito de passar anônimo na rua Sorocaba, em Botafogo, zona Sul do Rio, para espiar de longe aquele menino que fui, aos 9 anos e já apaixonado por futebol, triste pela eliminação da Seleção Brasileira Tricampeã do mundo – quando todos nós, brasileiros, achávamos que ganharíamos todas –, mas também decepcionado pela derrota, ontem, na Final, desse time ‘diferentão’, ‘modernoso’, com camisas alaranjadas, sem posições fixas dos jogadores e um goleiro que entra em campo com o nº 8: a Holanda, algoz do Brasil nesta disputa, mas superada pela Alemanha (2 x 1) – agora Bicampeã e na nossa ‘cola’ pela primazia no Futebol mundial. Saibam vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1974, que vim do Futuro, de 2023, é sério, e por isso posso garantir que até lá os chamados Países Baixos (a popular ‘Holanda’) formará novos escretes que, assim como o atual ‘Carrossel’ (ou ‘Laranja Mecânica’), vão encantar o mundo, mas sem jamais alcançar a glória de vencer uma Copa do Mundo. Triste sina que teve início ontem, mas que acometerá outras equipes. Como a Croácia, país que ainda vai nascer (no início dos anos 90, com a dissolução da Iugoslávia, aguardem…) e que na segunda década (e início da terceira) do próximo Século terá selecionado fortíssimo – eliminando inclusive o Brasil em 2022, sinto informar –, mas tendo também, aparentemente, esta vocação para “morrer na praia”. Algo que podemos chamar de ‘Vocação Holanda’…
Deixei 2023 e embarquei na minha Máquina do Tempo poucos dias após a tal Croácia perder a final da Liga das Nações, competição entre seleções europeias que também ainda está pra nascer (1918). Espanha campeã, nos pênaltis. Sete meses antes, em dezembro de 2022, no Mundial que se realizará no Catar, os croatas cairão na semifinal, frustrando as expectativas criadas após derrotarem o Brasil. Na Copa anterior, em 2018, na Rússia, pasmem, chegará à finalíssima, mas também deixará o gramado de mãos vazias, sucumbindo para a França (4 x 2). E sempre se recolhendo com seus jogadores enrubescidos por mais um fracasso. Ou melhor, com rostos ‘alaranjados’, como as camisas holandesas.
Outras seleções que costumam apresentar seleções fortes e ainda não foram campeãs mundiais até 2023 já terão resolvido esta carência (ou trauma), como Espanha, uma vez, França, duas vezes, e Argentina, três vezes, a primeira delas já na próxima Copa, jogando ‘em casa’, quando, anotem, na final vencerá adivinhem quem… A Holanda, que ficará no ‘vice’ outra vez. E segurem essa: em 2010, novamente a Holanda chegará a uma final de Copa do Mundo. E… Essa é fácil: vai ser vice de novo. Vocação é vocação.
Justiça seja feita, dentro de 14 anos, em 1988, a ‘Laranja’ alcançará ao menos um título de expressão, vencendo a EuroCopa, com uma geração de craques que incluirá, anotem os nomes, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Mas Copa do Mundo… Necas! Jogos Olímpicos? Não passarão das medalhas de bronze já conquistadas, três vezes, em 1908, 1912 e 1920. Revelar excelentes jogadores nunca será problema para os holandeses, mas isso não será suficiente. Algo bem parecido se dará com a Croácia, que vai herdar grande parte do talento com a bola que os iugoslavos sempre demonstram. Em sua primeira participação, na Copa de 1998, já surpreenderá o mundo com um terceiro lugar. Feito que vai se repetir em 2002 e 2022, além do já revelado vice-campeonato que alcançará em 2018. Mas permanecendo ali, ó, no chamado estilo ‘bigode’: que fica sempre nas bocas… E nunca entra.
Nas três finais com a participação da Holanda, em pelo menos duas sua Seleção entra em campo com equipe mais forte e tendo muitas chances de vencer, devidamente desperdiçadas, com a ajuda do Destino. Especialmente ontem, quando abriu o placar com 1 minuto de jogo, permitiu a virada alemã ainda no primeiro tempo, e pressionou durante toda a segunda etapa, perdendo uma série de gols feitos. Vá saber o que acontece com equipes assim, fadadas ao insucesso. Em 2023, clubes de renome internacional jamais terão conquistado títulos nacionais em seus países, como o Bayern Leverkusen e o Leipzig (na Alemanha), o Villarreal (na Espanha), o Atalanta (Itália), o West Ham (Inglaterra) e o Braga (em Portugal). No Brasil, a Série A do Campeonato Brasileiro terá entre os postulantes de 2023 cinco agremiações sem conquistas nacionais: América-MG, Cuiabá, Fortaleza, Goiás e Bragantino. Sem falar na Ponte Preta, tido como o mais antigo clube do País, que passará os próximos 49 anos ainda ‘na fila’.
Camisa pesa? Talvez. A propósito, a da Croácia será xadrez (juro!), em vermelho e branco, tipo toalha de mesa em cantina italiana. Mas considerem um detalhe: até 2023, o Brasil já terá não três mas CINCO títulos mundiais (e ainda Copas Américas, duas medalhas de ouro olímpicas…). Curiosa conclusão: talvez a solução para Holanda e Croácia seja justamente AMARELAR! ‘Brasil… il, il, il!!!!’
PARA VER OS MELHORES MOMENTOS DA FINAL
FICHA TÉCNICA
ALEMANHA 2 x 1 HOLANDA
Competição: Copa do Mundo de 1974 (Final)
Data: 7 de julho de 1974
Estádio: Estádio Olímpico
Local: Munique (ALE)
Público: 78.200 presentes
Árbitro: Jack Taylor (ING)
Assistentes: Ramon Barreto (URU) e Alfonso Gonzalez Archundia (MEX)
ALEMANHA: Sepp Maier, Berti Vogts, Franz Beckenbauer, Hans-Georg Schwarzenbeck, Paul Breitner, Rainer Bonhof, Uli Hoeneß, Wolfgang Overath, Jürgen Grabowski, Gerd Müller, Bernd Hölzenbein
Técnico: Helmut Schön
HOLANDA: Jan Jongbloed, Wim Suurbier, Wim Rijsbergen (Theo de Jong), Arie Haan, Ruud Krol, Wim Jansen, Johan
Neeskens, Wim van Hanegem, Johnny Rep, Johan Cruyff, Rob Rensenbrink (Rene van de Kerkhof)
Técnico: Rinus Michels
Gols: Primeiro Tempo: Neeskens, aos 2’; Breitner, aos 23’; e Gerd Müller, aos 43’
Cartões amarelos: Vogts (Alemanha); Van Hanegem, Neeskens e Cruyff (Holanda)