Desorganizado, Corinthians é engolido por um Galo cada vez melhor
Time de Luxemburgo foi ao Mineirão para se defender, mas cedeu espaços perigosos e não ofereceu ameaça no contra-ataque
A sensação no intervalo da partida entre Atlético Mineiro e Corinthians, pela ida das oitavas de final da Copa do Brasil, quando o placar ainda apontava 0 a 0 apesar de um completo domínio dos donos da casa, era que o gol do Galo era só questão de tempo no Mineirão. E assim se confirmou com o resultado final de 2 a 0, que poderia ter sido ainda maior não fossem outras chances claras desperdiçadas. Foi uma superioridade gigante da equipe de Eduardo Coudet, que se aproveitou da desorganização dos comandados de Vanderlei Luxemburgo, com e sem a bola, para construir uma grande vantagem para o jogo da volta.
Luxemburgo mandou o Corinthians a campo para se defender, segurar a pressão do Galo e especular no contra-ataque – uma estratégia perfeitamente válida e até compreensível, dado o momento atual dos dois times. Mas na prática, a execução do plano foi muito ruim. Sem bola, mesmo se fechando perto de sua área, o Corinthians em nenhum momento incomodou a troca de passes do adversário, pressionou pouco e cedeu sempre espaços perigosos; com ela, foi um deserto de ideias, incapaz de levar algum perigo real no contragolpe.
Defensivamente, o grande problema estava no lado esquerdo do Timão. O Atlético saía jogando com três atrás: o lateral-direito Mariano ficava alinhado aos zagueiros Nathan Silva e Jemerson para iniciar os ataques. A questão, então, era o papel de Róger Guedes: ele deveria subir para pressionar Mariano? Ou voltar para recompor o lado esquerdo, alinhado aos meio-campistas? Não ficou claro. No fim, ele não fez bem nem uma coisa, nem outra, e o Galo constantemente explorou essa desorganização para criar superioridades por ali, com o trio Pavón-Zaracho-Hulk.
Na origem da jogada do primeiro gol, a situação é essa:
Hulk encontra espaço para receber a bola naquele setor (guarde esse cenário). Fábio Santos, já ocupado com a ultrapassagem de Pavón pela direita, hesita em dar o combate. Paulinho, que jogou pela primeira vez como primeiro volante, está vigiando Zaracho, mas sem chegar perto dele (outra situação que iria se repetir muitas vezes). Guedes até volta para ajudar nesse lance, mas o Corinthians como um todo marca de forma passiva, tentando apenas fechar linhas de passe, sem colocar nenhum rival sob pressão. Cabe a Fausto Vera tentar voltar e desarmar Hulk. O lance termina com Pavón recebendo com liberdade e cruzando rasteiro para o gol de Paulinho na segunda trave.
Minutos depois, de novo o Galo tem superioridade por ali:
Dessa vez, é Zaracho quem está bem aberto, e novamente longe de Paulinho. De novo, Fábio Santos está sobrecarregado: Pavón vem de frente conduzindo a bola, mas ele precisa também marcar Zaracho. Guedes dessa vez larga o lance na metade, após hesitar entre pressionar Mariano ou voltar para ajudar os meio-campistas. De novo, é Vera quem precisa correr para consertar as coisas. Mas não dá tempo: com liberdade, Pavón cruza, e Paulinho (o do Galo) cabeceia para grande defesa de Cássio.
Pouco depois, outra jogada parecida:
De novo é Hulk com a bola, o que atrai a marcação de Vera. Zaracho se aproxima para tabelar e, de novo, Paulinho está muito distante do meia argentino – o volante corintiano foi incapaz de acompanhar a movimentação constante de Zaracho, sempre procurando inteligentemente os espaços vazios deixados pela movimentação de Hulk e Pavón por ali. Com Fábio Santos ocupado com Pavón, e Róger Guedes nem perto para ajudar, Hulk faz uma tabela simples com Zaracho e tem tempo e espaço para cruzar na cabeça de Rubens, que ajeita para Paulinho marcar.
Além dos problemas defensivos, o Corinthians também teve muita dificuldade para articular qualquer coisa com a bola. A presença de Paulinho como primeiro volante dificultou bastante a construção de jogadas – o camisa 15 teve dificuldades para receber de costas, pressionado, e muitas vezes nem se apresentava como opção, forçando a bola longa para Yuri Alberto. Aí morou outro problema: o centroavante corintiano tem muitas qualidades, mas jogar como pivô, recebendo a bola de costas para o gol e preparando jogadas, não é uma delas. Seu forte é receber em profundidade, de frente, usando a explosão.
Em uma das poucas oportunidades que o Corinthians conseguiu acionar Yuri dessa forma em um contra-ataque, após bom passe de Paulinho…
O centroavante conduziu, esperou a passagem de Róger Guedes e fez o passe no momento certo, gerando uma finalização do camisa 10 que exigiu boa defesa de Everson.
A única outra chance do Corinthians veio graças a outro ponto forte de Yuri Alberto: a intensidade para pressionar na frente. O atacante dividiu com Everson, correu atrás da bola, pressionou Nathan Silva e recuperou a posse em uma zona muito perigosa do campo. Seu passe para o meio da área encontrou Vera, que bateu por cima.
Mas tanto as boas características ofensivas (bola no espaço, explosão) quanto as defensivas (pressão nos zagueiros) de Yuri Alberto foram pouco exploradas coletivamente pelo Corinthians. O time foi passivo na marcação, sobrecarregado pela esquerda e sem ideias para fazer o contra-ataque funcionar. Com a equipe apresentando pouca evolução e uma maratona dura de jogos pela frente, Luxemburgo tem um início de trabalho dos pesadelos.