Como Gabriel Neves e Caio Paulista desmontaram a pressão do Palmeiras
Dupla do São Paulo foi fundamental para a superioridade do Tricolor, que avançou para a semifinal da Copa do Brasil com grande atuação no Allianz Parque
Se o São Paulo já havia sido superior ao Palmeiras no jogo de ida, em que venceu por 1 a 0 no Morumbi, a exibição do Tricolor na partida decisiva no Allianz Parque, na última quinta-feira, 13, foi ainda mais impressionante. A vitória por 2 a 1, de virada, carimbou vaga na semifinal da Copa do Brasil e confirmou a capacidade do time de Dorival Júnior de superar limitações individuais com jogo coletivo e organização. Ainda assim, cabe destacar as atuações de dois atletas fundamentais para o domínio são-paulino: Gabriel Neves e Caio Paulista.
Cada um ao seu estilo, a dupla foi a principal arma do São Paulo para quebrar o que costuma ser a tônica dos jogos contra o Palmeiras: a marcação por encaixes, com muitas perseguições individuais quase no campo todo. Nesse tipo de proposta, qualquer duelo perdido pode causar um “efeito dominó” e bagunçar a marcação. E os dois tricolores fizeram isso constantemente: Neves achou espaços de forma inteligente para receber livre, longe de seu marcador, enquanto Caio ganhou duelos na base da imposição física e da potência.
Uma situação que se repetiu várias vezes ao longo do jogo foi Neves receber com liberdade dos zagueiros. Na imagem acima, o São Paulo volta a bola para Diego Costa, e os atacantes do Palmeiras sobem para pressionar. Note como Neves está sozinho no meio-campo.
O meio-campo do Palmeiras não acompanha o movimento para frente dos atacantes, e o resultado é que Neves recebe um passe simples de Diego Costa com espaço para girar e ver o jogo de frente. Richard Ríos está muito atrás, preocupado com Nestor.
Aqui, situação parecida: Arboleda com a bola, os atacantes do Palmeiras sobem para pressionar…
De novo, Neves está completamente sozinho e recebe um passe simples do zagueiro. Note como Dudu e Zé Rafael reclamam da liberdade do uruguaio, sinalizando como o Palmeiras não estava conseguindo encaixar a marcação. Ríos nem aparece na imagem – ele demorou para recuperar a posição após cobrir um contra-ataque do outro lado do campo.
Mesmo quando não recebeu nas costas da pressão palmeirense, Neves foi perigoso. Aqui, ele recua para buscar a bola no pé dos zagueiros, e é pressionado por Raphael Veiga…
Mas com um drible seco, deixa seu marcador para trás. Aí vem o “efeito dominó”: com Veiga fora da jogada, Endrick é obrigado a dar o combate…
Mas Endrick também toma o drible do uruguaio. O São Paulo conseguiu chegar à área do Palmeiras no fim dessa jogada, bagunçando a marcação do Verdão por causa dos dois duelos ganhos por Neves no começo.
Aqui, uma situação familiar. O São Paulo tem a bola com Wellington Rato na beira do campo. Os encaixes estão definidos: Rony com Rafinha, Zé Rafael vigia Luciano, Veiga está com Alisson mais à frente… mas Ríos novamente está de olho em Nestor, que poderia ter ficado com Mayke. O resultado?
Gabriel Neves está totalmente livre para vir de trás e receber um passe simples de novo. Veiga abre os braços para reclamar da liberdade do uruguaio, que na sequência da jogada aproveitou para enfiar ótimo passe para Rato na área, em lance muito perigoso.
Se Neves bagunçou os encaixes palmeirenses pela inteligência em achar os espaços vazios, Caio Paulista fez o mesmo de outra forma: simplesmente superando seu marcador em duelos individuais de forma constante. Aqui, com Nestor na bola atraindo a marcação de Mayke, veja como Caio larga bem atrás de Richard Ríos…
Mas recebe o passe de Nestor já bem à frente do colombiano, que não conseguiu acompanhar a velocidade do lateral tricolor. Só uma boa defesa de Weverton impediu Caio de fazer o gol no fim da jogada.
Aqui, Caio recebe na esquerda e, de novo, há indefinição na marcação palmeirense. Ríos está lá atrás, novamente preocupado com a movimentação de Nestor, e Mayke está longe da jogada. O resultado é que Dudu fica sobrecarregado. O camisa 7 palmeirense primeiro diminui o espaço de Caio…
Mas Caio toca no meio para Gabriel Neves e se projeta para receber na frente. Dudu fica com a tarefa impossível de marcar os dois ao mesmo tempo, e Caio recebe mais um passe simples com liberdade.
Só depois que o passe já chegou em Caio é que Ríos avança para dar o combate. Mas o colombiano toma o giro e fica para trás, em mais um duelo individual ganho pelo são-paulino.
Por fim, o lance do gol. Luciano está na bola marcado por Mayke, e Zé Rafael está preocupado com Nestor. Mas Caio Paulista está completamente livre na entrada da área. O outro volante palmeirense, Ríos, novamente demora muito para recuperar sua posição depois de dar combate do outro lado do campo.
Caio recebe o passe no meio, ganha mais um duelo individual passando facilmente por Luan, e chuta por baixo de Weverton para fazer o gol.
Essa foi a constante do jogo: exceto os 10 primeiros minutos de cada tempo, a pressão do Palmeiras foi lenta, atrasada e, em vários momentos, até desorganizada – algo totalmente fora do padrão do espetacular trabalho de Abel Ferreira no clube. O São Paulo aproveitou com maestria para achar espaços livres, vencer duelos e assim bagunçar os encaixes alviverdes, que já travaram tantos rivais de qualidade no passado. Em apenas três meses, Dorival já deu sua cara ao São Paulo. Hoje o Tricolor é um time, no melhor sentido da palavra, e mostra que, com suas armas, pode competir de igual para igual com qualquer um.