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As novidades e curiosidades sobre o mercado de uniformes de futebol. Afinal, camisa pesa
Pablo Vittar, Charlie Brown Jr. e outras tabelinhas entre música e camisas de futebol
No Brasil e no exterior, clubes realizam parcerias com artistas para lançar uniformes; relembre casos e entenda o que está por trás desta estratégia
A colaboração de artistas no mercado de camisas de futebol têm se tornado cada vez mais frequentes. Recentemente, a Major League Soccer anunciou uma coleção especial em parceria com a Adidas, fornecedora de materiais esportivos para todos os clubes da liga e com a cantora brasileira Pabllo Vittar. A artista desenhou a nova linha de uniformes pré-jogo da liga americana de futebol, para homenagear o mês de junho, internacionalmente conhecido como mês do orgulho LGBTQIA+.
A peça é prateada e conta com grafismos marcantes. Na parte de trás da camisa, a cantora incluiu a frase em português “sem confiança, não há nada” e na frente da camisa exibe a frase “Loves Unites” (“o amor une”, em tradução do inglês para para português). Além disso, outro diferencial do uniforme é que os torcedores de todos os times da MLS podem comprar o produto da coleção especial com a logo personalizada do seu clube do coração.
https://twitter.com/dcunited/status/1790761650888339681
“O esporte, a partir dos valores que propaga, tem um viés educacional e de conscientização muito importante para ser trabalhado, já que consegue atingir as mais diversas audiências. No momento atual que vivemos de combate ao preconceito e com foco na inclusão e conscientização das pessoas, é fundamental que tenhamos cada vez mais ações capazes de transcender e amplificar pautas, envolvendo ligas, marcas, influenciadores e artistas”, afirma Danielle Vilhena, Diretora de Projetos e Operações de Marcas da Agência End to End.
No Brasil, o Santos, também apostou na música e lançou uma edição especial em homenagem à banda brasileira Charlie Brown Jr. O grupo possui uma forte ligação com o clube pois também é da cidade. Além disso, o vocalista Chorão, que morreu em 2013, era torcedor fanático do Peixe. A coleção tem edição limitada e conta com apenas 1.992 peças, fazendo uma alusão ao ano em que o grupo musical foi criado.
O uniforme, produzido em parceria com a Umbro, tem referências ao grupo e à cultura do skate, com grafismos espalhados pelo tecido e no escudo. Esta é a segunda vez que o Alvinegro Praiano anuncia uma coleção com a banda de rock Charlie Brown. A parceria começou em 2022 e foi um grande sucesso de vendas.
Assim como a equipe paulista, outros times também já fizeram homenagens a artistas da música. Em 2023, o Fluminense escolheu o sambista Cartola para referenciar em sua terceira camisa. O uniforme apresenta grafismos que remetem a canção “Corra e Olhe o Céu”. As cores verde e rosa presentes na camisa, por sua vez, retratavam a parceria de amor e sucesso do artista com a Estação Primeira de Mangueira, escola de samba do Rio de Janeiro do qual o artista era torcedor, imortalizando a influência dele na cultura carioca e cativando os torcedores tricolores.
No mesmo ano, o Coritiba prestou homenagem ao rock ‘n roll, ritmo com forte presença na cidade, na torcida e na história coxa-branca.. O Coxa aproveitou o momento em que o Couto Pereira recebeu grandes astros do rock, como as bandas Metallica, Foo Fighters e Coldplay, para unir as paixões do futebol e da música em sua camisa 3.
O uniforme de cor preta, com faixas horizontais em forma de raios em verde neon, fazendo menção ao “green hell”, festa feita pelos torcedores em jogos do clube, ainda tinha detalhes que remetiam aos shows e ao estilo musical, com etiquetas personalizadas em forma de palhetas, ingresso de show e um selo exclusivo do Coxa Rock Club.
Já o Fortaleza, sem se prender a nomes famosos, celebrou os 55 anos do hino do clube e homenageou o compositor Jackson de Carvalho, em 2021. A camisa batizada de “Glória Eterna” tinha a frase “Jogue por música!” estampada nas costas e trazia à tona o lema “Combativo, aguerrido, vibrante e forte” que inspirou a produção da música feita em 1967.
De uma forma espontânea, o Guarani se diferencia dos demais clubes. O uniforme bugrino, no estilo dos anos 1990, viralizou entre fãs de k-pop na Coreia do Sul e do Japão. Gauel, membro do grupo coreano IVE, é uma das artistas que utilizou a camisa. A viralização global levou a equipe de Campinas a compreender a necessidade de criar novas ações para os simpatizantes da música. Além de agradecer nas redes sociais às cantoras pelo reconhecimento, também esperam intensificar a conexão com o estilo e, em breve, anunciar a criação de uma nova linha oficial de produtos. A ideia consistirá em desenvolver camisetas retrô que estejam alinhadas com as tendências da moda e que mantenham a identidade.
O recente lançamento do uniforme para 2024, intitulado como “1978” em homenagem ao título brasileiro conquistado pelo time, já incorpora elementos dessa abordagem retrô. Com mangas e golas mais amplas e design referentes a conquista histórica, a camisa se aproxima daquela utilizada pelas idols do k-pop.
Diferenciando-se dos outros clubes, o Sport lançou uma camisa para Ariano Suassuna, lendário escritor, dramaturgo, filósofo e artista plástico. O design, apelidado de “Traje Fino” quebrou recorde de vendas da Umbro, fornecedora de material esportivo do clube. Em uma semana, alcançou quase o dobro de vendas em comparação com qualquer outro uniforme produzido pela marca ao clube. A peça, inspirada no visual preferido do icônico torcedor, apresenta as cores tradicionais rubro-negras, remetendo ao estilo de um blazer preto sobre uma camisa de botão vermelha.
“A camisa do Suassuna foi um sucesso de vendas porque foi um uniforme feito com muito zelo, fruto de um trabalho árduo entre Clube, Umbro e família de Ariano, refinado para que atingisse o patamar que ele alcançou: uma camisa de simbolismo imenso, rica em detalhes e harmonia. Era uma camisa feita nas cores do Sport e que o torcedor gostou, se identificou”, afirmou Eduardo Pernambuco, vice-presidente de marketing.
Estratégias de marketing fora do Brasil
Não é somente no Brasil que essa tendência se manifesta. Clubes de todo o mundo têm se inspirado na música para criar camisas especiais. Para a temporada 2020-2021, por exemplo, o terceiro uniforme do Manchester City, desenvolvido em colaboração com a Puma, mergulhou na cultura musical de Manchester.
Inspirado no estilo “Paisley”, popularizado pela cena musical da cidade, o design homenageou a herança musical e a cultura fashionista britânica da época. A estampa do manto, com desenhos em linhas azuis em diversos tons, evoca o estilo Paisley, associado à banda Oasis, cujos membros eram os irmãos Gallagher, fãs incondicionais do clube. Essa estampa, popularizada por bandas de “mod” e “brit pop” nas décadas de 60 a 90, tornou-se icônica no Reino Unido, simbolizando a união entre futebol, música e moda.
“O futebol e a música são objetos de paixão de uma grande parcela da população. Tanto um quanto o outro mobilizam uma grande base de fãs, que se conectam com seus artistas e clubes favoritos”, aponta Fábio Wolff, sócio diretor da Wolff Sports e especialista em Marketing Esportivo. “Deste jeito, a movimentação através do vínculo entre o meio musical e o meio esportivo, em especial o do futebol, gera uma expansão para além da sua própria zona de contato, gerando mais audiência, ampliando os interessados e trazendo retorno financeiro para ambos os lados.”
Rivais de cidade, o Manchester United, em parceria com a Adidas, lançou este ano, uma coleção de camisas pré-jogo batizada de “Stone Roses”, inspirada na cena musical e cultural de ‘Madchester’ dos anos 90. O design desta linha especial remete à capa do álbum de estreia dos Stone Roses, importante banda que habitou a música e a cidade britânica, trazendo um efeito “tie-dye” em azul, branco e verde, em homenagem ao modelo visitante da temporada 1989-1990.
O escudo do United, localizado no lado esquerdo do peito, foi adaptado apresentando as palavras “This is the One, música dos Stone Roses, tocada no lendário estádio Old Trafford desde 2005, momentos antes de o Manchester United entrar em campo, e duas rodelas de limão, símbolo da banda, em substituição às bolas de futebol em ambos os lados.
“A energia dos esportes e a paixão pela música se complementam de maneira surpreendente. Dos cantos da torcida com paródias de músicas conhecidas a concentração dos atletas com sua música preferida para alcançar o melhor desempenho, músicas tema dos grandes eventos esportivos, cantores que têm seus times do coração. Todos esses elos mostram que a intersecção entre os dois mundos é natural e a possibilidade e a colaboração entre eles pode gerar interesse e bons negócios”, afirma Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM.
Outro clube europeu que adotou essa tendência foi o Ajax. Para a temporada 2021/2022, o time holandes lançou a terceira camisa homenageando o rei do reggae Bob Marley, inspirado nos 40 anos da morte do artista e na música “Three Little Birds”, música cantada na Johan Cruyff Arena pelos torcedores e um dos hits do cantor jamaicano.
Na cor preta, o uniforme tem as listras da Adidas, fornecedora esportiva do clube, verde, amarelo e vermelho, fazendo uma alusão à cultura reggae e ao estilo rastafari. Além disso, a camisa possui três pequenos pássaros com essas mesmas cores, apoiados em três cruzes que remetem às cruzes de Saint Andrews, parte da bandeira de Amsterdã.
