O que os olhos não veem, o coração não sente…. nem o bolso
Mecanismos de proteção devem começar em campo e terminar na tela da TV; só assim, teremos um futebol valorizado e cobiçado por torcedores e patrocinadores
Lamentável o que vimos nesse último fim de semana, tanto na Ilha do Retiro quanto no Castelão. Curioso é observar que a ausência de público durante a pandemia aparenta ter aflorado os nervos de muitos torcedores. Ainda na CBF, aproximadamente um ano atrás, autorizamos o retorno do público aos estádios. De outubro daquele ano até dezembro foram mais de trinta invasões de campo nas diferentes séries e torneios do futebol brasileiro. Foi algo assustador. Nesse final de semana testemunhamos duas das cenas mais apavorantes do futebol em 2022. É uma rotina onde todos sofrem e, como consequência, o produto se deteriora.
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Muito pode se fazer para tentar dirimir essa questão. Uma padronização da atuação da segurança pública pode ser um caminho. Temos estados em que a policia cobra taxas para atuar, em outros não. Temos estádios onde a polícia atua dentro de campo, e em outros ela nem entra no estádio. O quantitativo de segurança privada é outra questão a se observar. Muitas vezes, o efetivo é reduzido para caber nos orçamentos dos clubes. E, na maioria dos casos, por ser algo providenciado pelo mandante, os interesses dele prevalecem. Algo perigoso.
O comportamento do torcedor brasileiro é muitas vezes uma variável também analisada, julgada. Mas esse não é um “mérito” exclusivamente tupiniquim. Tivemos briga generalizada na final da Europa League de 2016 entre Liverpool x Sevilla; invasão no estádio durante a final da Champions League deste ano; e uma briga que adiou em 1h o início de Nice x Colônia pela Conference League. O fato é que o futebol desperta uma paixão que muitas vezes foge do controle, e não nos cabe apenas achar os culpados e puni-los. É nosso dever achar outros meios para proteger o produto.
O feed único de transmissão, administrado pela entidade dona do produto, foi uma eficiente maneira encontrada pelas grandes competições mundo afora de proteger seu bem mais valioso diante de fatos que muitas vezes fogem do controle. Por exemplo, todo jogo da Champions League é a Uefa quem gera, produz e distribui as imagens. Com isso, os patrocinadores são valorizados, os protocolos são evidenciados e a padronização é respeitada, agregando valor a cada partida realizada.
No entanto, existe um efeito secundário, mas não menos importante, que se extrai de tal medida: o foco no futebol e em tudo que gera valor. Todo o resto é descartado e suprimido. Isso serve para as brigas nas arquibancadas, invasões em campo e distúrbios diversos. Não se trata de varrer para debaixo do tapete, e sim proteger o produto de algo nocivo para patrocinadores e telespectadores. Se um pai está em casa assistindo a uma partida de futebol com o seu filho e o foco da TV passa a ser a briga na arquibancada, a chance de termos essa família comparecendo a um jogo no futuro próximo diminui drasticamente. Multiplique isso por milhares de telespectadores e temos um produto depreciado. Qual patrocinador irá querer associar sua marca a tal produto? O efeito negativo em cascata é inevitável.
No Brasil, historicamente, temos a emissora detentora dos direitos como geradora da imagem das nossas principais competições. Para a emissora, seu compromisso jornalístico duela com seu desejo de um produto valorizado, e muitas vezes o primeiro fala mais alto. É compreensível. Daí a importância do controle por parte do dono do produto. Nosso desejo por um feed único pautou muitas das nossas discussões durante meu período na CBF. Contratos já firmados e modelo contratual descentralizado, como no caso do Campeonato Brasileiro, sempre foram empecilhos. No entanto, quando lançamos a Supercopa, conseguimos gerar as imagens nos dois primeiros anos. A marca da competição foi valorizada e os patrocinadores ficaram em evidência. Em 2021, evitamos mostrar as arquibancadas vazias (jogo sem público por conta da pandemia) e não mostramos uma confusão entre as comissões técnicas de Palmeiras e Flamengo no túnel. Buscávamos proteger o produto.
A tarefa não é fácil, mas é necessária. Quando os contratos do Campeonato Brasileiro terminarem, em 2024, e com o advento da Liga, essa sem dúvida deverá ser uma medida a ser adotada. Os casos de violência sempre existirão e as medidas punitivas devem ser severas. Os ajustes nos protocolos de segurança e o trabalho incessante para diminuir casos como os do último fim de semana devem nortear os esforços de todos que fazem e amam o futebol. De todo modo, mecanismos de proteção ao produto precisam começar em campo e terminar na tela da TV. Somente assim teremos um futebol valorizado e cobiçado por torcedores e patrocinadores. O que os olhos não veem, o coração não sente…. nem o bolso.
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