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Opinião: Se não racismo, o que explica ódio crescente a Vini Jr. no exterior?

Quanto mais luta contra o preconceito, mais atacante do Real Madrid vê sua rejeição aumentar pelo mundo

Faço parte de um grupo de jornalistas da América Latina no WhatsApp e há um tempo venho reparando no ódio dos não-brasileiros ao Vinícius Júnior. Enquanto aqui nos revoltamos e compartilhamos os maiores absurdos do racismo sofrido pelo jogador na Espanha, lá fora o movimento não é bem esse. Carismático, talvez o maior ídolo do futebol brasileiro pós-Neymar, Vini Jr vem sendo tratado como vilão, palhaço, ator, mentiroso e folgado não só por torcedores ou haters na internet, como por jornalistas – é não é só na Europa. Mas de onde vem tanto ódio?

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Jogadores brasileiros marrentos e folgados em campo já fizeram muito sucesso lá na Europa, como Romário, nos anos 90. Ronaldinho Gaúcho, eleito o melhor do mundo duas vezes, em 2004 e 2005, também foi exaltado. Seu comportamento extracampo, porém, deixou muito a desejar, sendo um dos grandes motivos para sua queda brusca de rendimento nos anos seguintes no futebol europeu.

Tivemos depois outros péssimos exemplos de craques que arranharam a imagem do brasileiro por lá, como Robinho e Neymar. O primeiro, depois de fracassar no Real Madrid, fez muito pouco no Manchester City, com um futebol insosso e displicente, sendo odiado na Inglaterra antes mesmo de ser condenado pelo estupro ocorrido na Itália, quando era jogador do Milan.

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Vini Júnior agradece o apoio de parte dos torcedores presentes ao Santiago Bernabéu - Pierre-Philippe Marcou/AFP
Vini Júnior agradece o apoio de parte dos torcedores presentes ao Santiago Bernabéu – Pierre-Philippe Marcou/AFP

Neymar, quando ainda era jogador do Santos, foi muito vaiado durante as Olimpíadas de Londres, em 2012. Em 2018, na Copa do Mundo da Rússia, o jogador virou motivo da chacota por causa dos mergulhos em campo após levar entradas dos adversários, nem sempre tão pesadas. Algo que os ingleses e muitos europeus sempre abominaram.

Vinícius Júnior, quando chegou ao Real Madrid, em julho de 2018, logo após completar 18 anos, estava longe de ser uma estrela. Nos primeiros meses foi jogar time B do clube espanhol. Mas logo ganhou destaque na categoria inferior e foi promovido ao time principal. Mesmo assim, seu começo foi difícil, com várias críticas ao seu estilo de jogo, pouco produtivo, com muitos dribles e poucos gols e assistências.

A partir da temporada 2021/22, após chegada do técnico italiano Carlo Ancelotti, isso mudou. Vini passou a jogar um ótimo futebol, sendo decisivo e se tornando uma das grandes estrelas do time. No final da temporada, após marcar o gol do título do Real na final da Liga dos Campeões contra o Liverpool, caiu definitivamente nas graças da torcida e calou a bola dos críticos. Joga muita bola.

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Porém, o estilo ousado e provocador, com muitos dribles no repertório, passou a criar uma certa antipatia nos rivais. Mais que isso, em alta, o jogador virou alvo de insultos das torcidas adversárias com inaceitáveis ofensas racistas.

Bem assessorado, Vini sempre se posicionou sobre esses casos absurdos de racismo. Brigou e lutou, dentro e fora de campo. Mas isso só aumentou o ódio, principalmente dos espanhóis e não torcedores do Real Madrid. E quanto mais jogou, mais marcou gols e mais driblou, Vini passou a ser ainda mais xingado, ofendido e odiado também. A figura do negro em destaque na Espanha, que liderou uma luta contra o racismo, mexeu com muita gente. Incomodou demais, afinal um homem retinto de sucesso não pode, na visão de muitas pessoas de países colonizadores, ter esse destaque. Entretanto a revolta parece ter sido só aqui no Brasil.

Discussão entre espanhóis e brasileiros ao fim da partida – Pierre-Philippe Marcou/AFP

A crescente exposição do atacante fez com que Vini se tornasse uma espécie de vilão no mundo do futebol. Ao causar confusão em campo, sendo muitas vezes violento, é acusado de estar usando o racismo para se safar. A herança de outros brasileiros que não passaram uma boa imagem por lá certamente pesou para isso. Daniel Alves é outro que entra nesse pacote recente.

No jogo Espanha x Brasil, realizado nessa quarta, 26, Vinícius Júnior foi o capitão da seleção brasileira no estádio do Real Madrid. Simbolizou a luta contra o racismo, dias depois de chorar na coletiva de imprensa. Mas nem isso comoveu seus críticos. Pelo contrário. Houve quem o chamasse de ator. Durante o jogo, Vini deu uma cotovelada nas costas do zagueiro Aymeric Laporte — não foi a primeira bordoada do brasileiro em um adversário. Além disso, Vini discutiu com o atacante Álvaro Morata.

Ao final do jogo, o árbitro português Antônio Nobre, super criticado pelos brasileiros pela marcação de dois pênaltis contestáveis a favor da Espanha, se recusou a cumprimentar os nossos jogadores, já que foi ofendido por vários deles após as marcações polêmicas. A imagem do brasileiro coitadinho, que sofre racismo, não impressiona, não emociona. Virou, para muitos, um choro chato.

Vinícius Júnior deve seguir sua luta contra o racismo enquanto tiver forças. Brigar em campo contra aqueles que o atacam, seja verbalmente, seja fisicamente. Ele está longe de ser vilão nessa história. Vini é um exemplo para uma geração futura, que viu antigos ídolos desmoronarem sem nunca terem se posicionado sobre discriminação racial. Nossos heróis do futebol, majoritariamente pretos, nunca escancaram o assunto assim. Mas se a batalha é dura diante de ofensas terríveis como as que já vimos serem televisionadas na Espanha, é ainda mais cansativa nas entrelinhas do discurso de brancos que correm para arrumar argumentos que expliquem o próprio racismo, como você pode ver aqui abaixo. Cansativo. Triste. Solitário.

Aqui alguns trechos de como alguns jornalistas se referiram a Vinícius Júnior nos últimos dias:

“São insultos, não racismo. Racismo é um mecanismo pelo que se proíbe certas pessoas de fazer coisas por certa condição. Seja por cor de pele, religião ou por ser de um partido político. Ninguém proíbe o Vinícius de fazer algo. Não há nenhum mecanismo onde ele é discriminado.”

“Oscar para a melhor interpretação”. Após o choro na coletiva

“O racismo é indiscutível. Mas, se analisarmos o Real Madrid, só o Vinícius é ‘atacado’? Rodrygo, Camavinga, Tchouameni, Rugider, não se queixam. Algo deve haver com o Vinícius. Deve ser sua atitude nos gramados que ocasiona a reação injustificável do público”.

“Em poucos meses nem mesmo a família do Vinícius o defenderá.”

“Simplesmente penso que Vinícius é insuportável, seja negro, branco ou amarelo. Organiza uma guerra em cada partida. Pelé era Pelé e além de ser bom jogador, era agradável, simpático, querido. Ninguém se importava com sua cor. Era ídolo de todo mundo”.

“Vinícius é um grande personagem. Bom jogador, mas extremamente antipático e protegido pelo poder. Um vilão total.”

“Vinícius é um palhaço. Um mal-educado e não é vítima de nada. Os rivais são vítimas dele. No Brasil tudo é ‘racismo isso, racismo aquilo’. É uma fantasia de brasileiro isso. Rodrygo é brasileiro também e ninguém o insulta. Jamais”.

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