Publicidade
Publicidade

Ederson: xodó inabalável de Guardiola e herói brasileiro na final

Goleiro é destaque na decisão da Champions League e faz história com título inédito pelo Manchester City

O goleiro Ederson precisou de poucos dias para entender o tamanho do desafio que teria pela frente no Manchester City, em julho de 2017. Comprado por 34,6 milhões de libras (143 milhões de reais à época), um dos maiores valores envolvendo jogadores de sua posição, foi alvejado por críticas da imprensa britânica logo após uma falha cometida contra o arquirrival United, logo na estreia, em uma derrota por 2 a 0, confronto válido por um torneio amistoso disputado em Houston, nos Estados Unidos.

Publicidade

Ao final da partida, questionado sobre o lance, o técnico espanhol Pep Guardiola surpreendeu com elogios ao novo pupilo: “fiquei muito impressionado com ele. Foi excelente, nesta temporada vai nos ajudar muito”, disse.

A declaração do treinador causou estranheza, mas serviu para externar o tamanho da convicção de Guardiola.

Seis anos depois, Ederson é um dos heróis do primeiro título europeu conquistado pelo Manchester City. Na final diante da Inter de Milão, no Olímpico Atatürk, em Istambul, na Turquia, o goleiro brasileiro fechou o gol e garantiu o triunfo histórico pela Champions League.

Publicidade

“Acima de tudo, temos mais experiência agora [do que na final contra o Chelsea]. Já apanhamos na competição. O futebol é igual a nossa vida: sempre caímos para poder levantar. Acho que agora estamos mais próximos [desse título]”, havia dito, em entrevista à TNT Sports.

Ederson chegou ao City como solução depois de aposta frustrada com Claudio Bravo, goleiro chileno hoje no Betis. Bravo foi a primeira indicação de Guardiola para a posição, em 2016, mas fracassou com seguidas falhas levantando dúvidas sobre a sua escolha e o próprio treinador, que terminou a primeira temporada sem títulos, além de campanha discreta na Premier League.

Ederson e Pep Guardiola construíram relação de confiança no City
Ederson e Pep Guardiola construíram relação de confiança no City

“Até meu último dia na Inglaterra, eu tentarei jogar com a bola o máximo que puder. Eu sei que isso é impossível por 90 minutos, mas eu lamento, não vou negociar isso”, disse Guardiola na ocasião.

Publicidade

Na atual temporada, em 35 jogos pela Premier League, Ederson alcançou 11 clean sheets, termo utilizado para quando o goleiro não é vazado. Segundo dados estatísticos da própria competição foram ainda 46 defesas, 15 duelos vencidos e apenas um erro em saída de gol.

“Ederson viveu um pouco de instabilidade no meio desta temporada, mas melhorou bastantes no final dela. Nos mata-matas da Liga dos Campeões, contra Bayern de Munique [nas quartas de final] e Real Madrid [na semifinal], ele se destacou”, explicou o jornalista Paul Hirst, setorista do City pelo jornal inglês The Times.

“Ele pode não ter recebido os elogios devidos porque outros jogadores se destacaram, mas Ederson ainda é uma parte vital da equipe do City e a fé de Pep nele continua forte”, acrescenta.

A redenção naquele começo foi construída com 45 partidas como titular e um enorme leque de defesas incríveis, além de outros passes espetaculares, a principal característica que carrega. “Seus reflexos são admirados por todos, mas o melhor atributo que possui é a habilidade de passe. Ederson é um dos melhores do elenco. Guardiola uma vez brincou que poderia jogar contra ele no meio de campo e sugeriu a ‘Eddy’, como é conhecido no vestiário, sobre a hipótese de cobrar pênaltis”, conta Hirst.

Ederson tem história curiosa. Chegou ao São Paulo com 15 anos, em 2008, mas deixou o clube pouco mais de um ano depois para seguir a formação no Benfica. Saiu para jogar em clubes como GD Ribeirão, onde ficou por uma temporada, e Rio Ave, clube onde, curiosamente, foi reserva de Jan Oblak, esloveno do Atletico de Madrid, uma das referências na posição.

Ederson com De Bruyne e Foden comemorando o título da FA Cup
Ederson com De Bruyne e Foden comemorando o título da FA Cup

Ainda tímido e com dificuldades foi aconselhado no Benfica a realizar jornadas duplas de treinamento. Pela manhã, com o sub-19, e a tarde, com o sub-17. “Na formação do Benfica já tínhamos um departamento muito bem estruturado. Ele era acompanhado diariamente e precisava não só potencializar a facilidade de jogar com os pés, mas trabalhar alguns detalhes para que pudesse ser mais completo. Se treinássemos de manhã, ele fazia treinamentos também a tarde, com o sub-17, as vezes trabalhos específicos. De manhã com o sub-19, a tarde com o sub-17”, explica João Tralhão a PLACAR, então auxiliar técnico do sub-19 do clube português.

“Ele tinha facilidade no convívio, mas era muito tímido. A sua adaptação foi gradual. Os jovens não são lineares, tem muitos altos e baixos mesmo. Alguns com mais expectativa não chegam, por exemplo. O mais importante é que o Ederson sempre foi muito focado naquilo que tinha que fazer. Trabalhou muito para evoluir nas questões técnicas como goleiro e se via que passo a passo ia chegar a ser um profissional”, completa.

Tralhão trabalhou com formação de jogadores no clube por 18 anos. Depois, saiu para ser um dos assistentes de Thierry Henry na curta passagem do ex-atacante francês como treinador do Monaco, em 2019. Henry ficou por 104 dias no cargo e acabou demitido mesmo sendo um ídolo local.

Ficou marcada na memória do ex-auxiliar um jogo contra o Sporting Braga em que, após uma bola recuada, Ederson chutou de sua área direto para o gol rival, marcando para os benfiquistas. “A bola teve uma trajetória perfeita. E não foi um chutão, não, foi com a intenção de acertar a área adversária para chegar aos nossos jogadores. Ficamos surpresos, pois foi um gol diferente, mas sabíamos que ele era capaz de fazer aquilo. Em treinos ele era muito habilidoso com os pés, nunca queria ficar o gol”, lembra.

No City, Ederson tem a admiração de Guardiola pelo fato de oscilar pouco, principalmente após cometer algum erro dentro da partida. “Quando Ederson comete um erro sua confiança não diminui e quando faz uma excelente defesa, ele se acalma imediatamente”, explica o jornalista inglês.

Foi marcante um chute na cara que sofreu em bola disputada pelo alto com Sadio Mané, então jogador do Liverpool, em 2017. Os Citzens venceram por 5 a 0, mas o goleiro precisou ser substituído. Quatro dias depois, com bandagens e muitos pontos no rosto, estava em campo novamente contra o Feynoord, pela Liga dos Campeões.

Com tantas provas vencidas e já apontado como o melhor goleiro da história do clube, Ederson se consolida de vez com o título inédito pelo City. A partida e atuação heroica na finalíssima contra a Inter de Milão coloca o brasileiro no panteão da equipe inglesa.

Publicidade