Com derrota para o Íbis, Santa Cruz corre risco de não ter divisão em 2024
"Pior time do mundo" encerrou jejum de 58 anos e colocou o rival em situação delicada para a disputa da Série D do Brasileirão
Não bastasse o constrangimento de ter sido superado pelo chamado “pior time do mundo”, o Santa Cruz ficou em uma situação crítica com a derrota por 3 a 1 para o folclórico Íbis na última terça-feira, 29, pelo Campeonato Pernambucano, no Arruda. Os gols de Celestino e Thoni Brandão (duas vezes) encerraram um jejum de 58 anos sem vitória do Pássaro Preto diante do rival – e também os memes e piadas nas redes sociais. Do lado do Santa, no entanto, o clima é de preocupação. Pela primeira vez na história, o tradicional clube de Recife pode ficar sem divisão no Campeonato Brasileiro.
O Santa Cruz pode ficar sem calendário para 2024, pois a Série D do Brasileirão, torneio que o clube disputará em 2023, possui como meio de classificação os Estaduais – exceto para clubes rebaixados da Série C do ano anterior. Atualmente em quinto, a Cobra Coral não tem mais chances de ultrapassar Petrolina e Retro, os clubes garantidos dentro deste critério.
Em Pernambucano, a federação optou por distribuir as vagas de acordo com a classificação da primeira fase do campeonato. Ou seja, mesmo que avance para a segunda a fase e eventualmente conquiste o título, o Santa Cruz não terá mais chance de conquistar uma das duas vagas que o levariam ao campeonato nacional. O Sport, que disputa a Série B, e o Náutico, na C, não correm este risco.
Possibilidades de salvação
O cenário mais simples para o tradicional clube pernambucano não ficar sem divisão nacional em 2024 é terminar entre os quatro primeiros da Série D deste ano, o que lhe garantiria um acesso à Serie C. Uma segunda opção seria uma ajuda de um “vizinho”: o Retrô, clube de Camaragipe (PE) que garantiu vaga para a Série D de 2024 por ser o 2º colocado da primeira fase do Estadual, pode não precisar desta vaga caso consiga o acesso à 3ª divisão do Brasileirão. Neste caso, o Santa Cruz, caso termine em quinto em Pernambuco, poderia “herdar” esta vaga.
Uma última possibilidade seria contar com a desistência de um dos times que conquistaram a vaga esportivamente (Retrô e Petrolina), um fato improvável, mas não impossível, devido aos desafios financeiros e logísticos de viajar o país durante a Série D.
O Santa Cruz viveu seu auge entre 1971 e 1981, período em que esteve ininterruptamente na primeira divisão nacional – sua melhor campanha foi a semifinal de 1975. O clube que revelou para o futebol o craque Rivaldo, no entanto, somou três rebaixamentos consecutivos a partir de 2006 e nunca mais conseguiu se reerguer plenamente.
‘Crise’ no Íbis e surgimento da fama
Se do lado do Santa Cruz o clima é de drama, para o torcedor do folclórico clube tudo é festa, ainda que os resultados não venham alegrando o mascote Derrotinha. O triunfo no Arruda levou o time à nona colocação, fora da zona de rebaixamento, e gerou uma enxurrada de memes nas redes socias. Em boa (ou seria má?) fase, o Íbis não vem justificando a fama nacional que ganhou graças a uma reportagem de PLACAR.
Íbis 3×1 Santa Cruz 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣 pic.twitter.com/KTm4UNA8wy
— Íbis Sport Club (@ibismania) March 29, 2023
Com a palavra, o Presidente Ozir Ramos: pic.twitter.com/nsv0RV0BMV
— Íbis Sport Club (@ibismania) March 29, 2023
Em julho de 1983, PLACAR custava 500 cruzeiros e trouxe na capa os atacantes Serginho e Casagrande “chamando” os torcedores para o duelo entre Santos e Corinthians, marcado para o domingo seguinte. Quase no final da revista, uma reportagem assinada por Lenival do Aragão ficaria marcada pelo tom algo profético “Este é o pior time do Brasil” era o título. Em seguida, a revista garantia que os jogadores “não se ofendem e admitem a fraqueza dessa equipe que só venceu um jogo desde 1979”.
O que ninguém sabia é que o Íbis Sport Club, da cidade pernambucana de Paulista, a 16 quilômetros do Recife, ficaria mais um ano sem conquistar uma vitória sequer. O jejum, iniciado em 20 de julho de 1980, quando bateu o Ferroviário por 1 a 0, só acabou em 17 de junho de 1984, ao superar o Santo Amparo por 3 a 1. A inusitada marca — três anos e onze meses só empatando e perdendo — rendeu uma menção no Guinness Book e a equipe pernambucana foi “promovida” a pior time do mundo.
Na matéria original, PLACAR explicou que o Íbis só permanecia como saco de pancadas porque não havia rebaixamento no torneio estadual. O clube era claramente amador e todos os titulares exerciam outras atividades: “serralheiro, donos de bar, estudantes, motoristas, um soldado da PM e um investigador de polícia”. Eles participavam do campeonato porque tinham contratos (um salário mínimo para cada um), o que atendia às exigências da federação.
A reportagem foi recentemente cita no blog TBT PLACAR