Após início de ano ruim, Cabuloso embala sequência com solidez defensiva, ataques rápidos e boa pontaria; entenda
O Cruzeiro é o líder do Campeonato Brasileiro de 2025. Onze anos depois do título de 2014, a Raposa voltou a liderar a competição e, enfim, parece afastar o fantasma da crise vivida pela equipe durante os três anos de Série B.
Com 10 vitória, três empates e duas derrotas, o Cabuloso soma 33 pontos e tem aproveitamento de 73,3% dos pontos disputados. A campanha foi construída com 27 gols marcados e nove gols sofridos.
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Mesclando boa segurança defensiva e ataques rápidos, o time treinado por Leonardo Jardim não perde há 15 jogos, sendo 10 no Brasileirão. Assim, para compreender melhor a maneira de jogar do time mais em alta do país, PLACAR analisou; confira:
Em grande parte das partidas, o Cruzeiro de Leonardo Jardim vai a campo com uma linha de quatro defensores, dois volantes, um meio-campista pela direita com papel “polivalente”, um meia-atacante agudo pela esquerda, um meia-atacante pelo meio e um centroavante.
O time-base atual é: Cássio; William (Fagner), Fabrício Bruno, Lucas Villalba, Kaiki; Lucas Romero, Lucas Silva; Christian, Matheus Pereira, Wanderson; Kaio Jorge.
Cruzeiro é postado em um 4-2-3-1 assimétrico
Entre as principais características dos jogadores, algumas chaves são vistas. Entre elas, destaque para a função de Christian, que com características de um meio-campista central, atua na direita, fazendo bom balanço entre defesa e ataque.
Sua função garante ainda mais liberdade a Matheus Pereira, camisa 10 da equipe. A depender da altura do bloco defensivo, o jogador pode ser mais poupado na marcação, além de se beneficiar das dúvidas que os jogadores do lado direito geram ao setor defensivo do rival.
O Cruzeiro tem 10 gols marcados nos três jogos após o Mundial de Clubes. Aplicando duas goleadas no Mineirão e com vitória por 2 a 0 fora de casa, a Raposa tem se destacado pela força nas transições ofensivas.
E contrariando muitas máximas, o Cabuloso chama a atenção por controlar as partidas sem dominar a posse de bola, tendo em vista a média de 44,5%. Esses números ainda casam com a média de 273 passes certos por jogo, que, segundo o Sofascore, é a segunda menor do Brasileirão,
Mesmo assim, o trabalho ofensivo chama a atenção, somando 212 finalizações na competição. Ou seja, a média é de 7,9 chutes realizados para marcar um gol — segunda menor taxa do campeonato.
Cruzeiro puxa contra-ataque em situação de inferioridade numérica, mas que terminou em gol – Montagem sobre Reprodução / Premiere
Esse fator evidencia um bom aproveitamento na frente do gol. Além disso, deixa ainda mais significativa a grande fase de Kaio Jorge, que balançou a rede 12 vezes com taxa de conversão de 24% de suas tentativas.
No entanto, não é apenas com a eficiente transição que o Cruzeiro de 2025 trabalha. Em ataques melhores postados, é possível enxergar padrões de atração em um setor para atacar outros.
Tendo em vista a boa chegada dos laterais e o trabalho dos meio-campistas, a Raposa de Leonardo Jardim costuma atrair a marcação no corredor central, abrindo espaço pelos lados (confira na imagem abaixo).
Pesar o corredor central para liberar os lados é um dos padrões ofensivos do Cabuloso – Montagem sobre Reprodução / Premiere
Já na construção mais pausada, partindo dos defensores, a alternância entre os dois volantes chama a atenção. Tanto na dupla titular (com Lucas Silva e Romero) quanto com substitutos, a interação na movimentação busca gerar linhas de passe.
Como na imagem abaixo, em que Romero aparece mais recuado, como opção para o defensor, e Lucas Silva se movimenta em possibilidade de progressão. Essa assimetria é uma das chaves para uma transição que permite a aceleração após escape da pressão, para chegar ao ataque em boas condições.
Volantes se movimentam em alturas diferentes para gerar opções e mobilidade – Montagem sobre Reprodução / Cazé TV
A forma de se defender do Cruzeiro de Jardim tem sido eficiente por comportamentos coletivos e individuais. E uma das razões pode ser o histórico do próprio treinador, que trabalhou no Handebol durante o início de sua carreira.
“Também tive algumas experiências no handebol. Treinei uma equipe durante um ano, ao mesmo tempo que era técnico de futebol. Tive uma formação acadêmica peculiar. Também pratiquei futebol e handebol, o que levou à tal experiência de treinar no handebol, o que foi muito positivo”, disse o comandante do Cabuloso, em entrevista à Uefa.
Curiosamente, o Cruzeiro é uma das equipes que, sem bola, trabalha com alguns conceitos que abrem interpretação para as “influências” do outro jogo. A equipe posta blocos defensivos sólidos e protegendo a área, além de trabalhar bem a transição cometendo faltas (14,7 por jogo) e desarmando em diferentes alturas (31 desarmes no terço ofensivo e 119 desarmes no terço do meio-campo).
Balanço defensivo do Cruzeiro oferece segurança – Montagem sobre Reprodução / Cazé TV
Outra explicação para o sucesso está na grande temporada individual do goleiro Cássio. Dono da posição e experiente, o arqueiro evitou 3,05 gols, segundo dados de xGOT (estatística que ranqueia de 0 a 1 a chance de uma finalização na direção da meta terminar em gol).
Ou seja, não fosse pela eficiência do experiente camisa 1, é provável que o Cabuloso tivesse sofrido mais gols. Além dele, outras peças chamam a atenção, como o zagueiro Fabrício Bruno, que ainda não cometeu nenhum erro que levou a chute e recupera em média 3,3 bolas por partida.