A ideia é buscar novos públicos
O serviço de streaming de filmes e séries Netflix foi direto ao ponto em um relatório recente: “Não estamos disputando dólares, mas horas. Competimos com (e perdemos para) o game Fortnite mais do que com a HBO”. Fisgar a atenção do consumidor e oferecer o melhor cardápio ao menor preço se tornou um desafio ainda maior numa era em que o conceito de concorrência é radicalmente pulverizado. Assim como o iTunes balançou a indústria da música na virada do século e o streaming vem modificando o cinema, é inevitável que o esporte também viva uma revolução, que já começa a ganhar corpo.
Os melhores exemplos vêm dos Estados Unidos. A liga de futebol americano NFL fechou um acordo de direitos de transmissão de 110 bilhões de dólares por onze temporadas. A surpresa não está nos valores, mas na presença da Amazon, que desafiou as emissoras tradicionais CBS, ABC, NBC, Fox e ESPN e garantiu a exclusividade dos jogos de quinta-feira via streaming no Amazon Prime Video. Não é a única investida da empresa. A Twitch, sua plataforma especializada em e-sports, fechou parcerias com clubes como Real Madrid e Milan e com campeonatos como LaLiga, MotoGP, Fórmula 1 e NBA. A Disney também entrará forte na disputa pelo streaming esportivo, com o lançamento da Star+, serviço que oferecerá produções de seus braços esportivos, Fox e ESPN, e será vendida à parte no Disney+. A novidade deve chegar em junho ao Brasil.
Nenhuma outra liga tem contribuído tanto para a revolução nas transmissões quanto a NBA, o campeonato profissional de basquete americano. Além de ser transmitida por uma série de emissoras mundo afora — Band, ESPN, SporTV e Budweiser (isso mesmo, o canal de uma cervejaria) são os parceiros de mídia no Brasil —, oferece todos os seus jogos no aplicativo NBA League Pass, cujo pacote completo custa 169,99 reais por ano e tem o Brasil como terceiro maior mercado, atrás apenas de EUA e Austrália. Há diversas alternativas, seja em plataformas consolidadas como YouTube e Facebook, seja em novas como DAZN e OneFootball.
O torcedor chega a ficar confuso diante de tanta oferta, ainda mais no Brasil, onde o modelo clássico de esporte em TV aberta imperou durante décadas e com 25% da população sem acesso à internet. Há, no entanto, um movimento de mudança, com o Flamengo puxando a fila. Embalado por conquistas e com ligações estreitas em Brasília, o clube mais popular do país liderou a campanha pela chamada MP do futebol, que daria aos mandantes o direito de vender ou transmitir seus jogos. O texto caducou, não sem antes causar uma enorme confusão jurídica que deu ao Flamengo a chance de mostrar seus jogos do Carioca em seu próprio canal, a FlaTV, e que levou a Globo a rescindir o acordo pelo estadual no ano passado.
Para aumentar o caos, veio a pandemia, que atingiu em cheio os cofres de clubes, ligas e emissoras. A animosidade baixou — dirigentes do Flamengo repetem aos quatro ventos que “a Globo sempre foi e seguirá sendo o maior parceiro do clube e do futebol nacional” —, mas bastante coisa mudou. SBT e Band abocanharam pacotes de peso como a Libertadores e a Fórmula 1, respectivamente. Estaria a Globo encrencada? Nem tanto. A emissora carioca compreendeu bem o espírito dos novos tempos e vem realocando seus investimentos no serviço Globoplay. O esporte continua sendo importante, mas não a ponto de levar a emissora a fazer loucuras.
O Flamengo foi além. Recentemente lançou a plataforma paga FlaTV+ para transmitir o estadual, um modelo que foi seguido pelos rivais cariocas. “Nosso movimento visa ao futuro”, diz Gustavo Oliveira, vice-presidente de marketing rubro-negro. “É mais um posicionamento para o mercado de que estamos no jogo.” Entre os entraves que o dirigente destaca está a popularização de sites e aplicativos piratas que roubam os sinais de transmissão. Como nos campeonatos de futebol, a jornada dos novos modelos de transmissão será árdua, mas quem largar bem sairá vitorioso.
Publicado em VEJA de 31 de março de 2021, edição nº 2731
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